A falta de aviso na "Igreja do Diabo"
Preferia José de Alencar que tinha quase toda sua obra adaptada para os quadrinhos. Muito mais simpático, portanto, que o Bruxo do Cosme Velho. Era a bendita "Edição Maravilhosa". Presente de meu pai que guardou os exemplares comprados no final da década de 40 e ao longo da de 50, adivinhando a chegada do filho. Tinha de tudo. De Manuel Antônio de Almeida a Jorge Amado. De Lewis Carrol a Alexandre Dumas. Muito melhor do que ler orelha do livro para saber o conteúdo do capeado. Eram o passaporte para a obra completa.
quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Atualizado às 16:56
A falta de aviso na "Igreja do Diabo"
Dirceu Augusto da Câmara Valle*
Confesso que quando menino pouco li Machado de Assis. Me cansava.
Preferia José de Alencar que tinha quase toda sua obra adaptada para os quadrinhos. Muito mais simpático, portanto, que o Bruxo do Cosme Velho. Era a bendita "Edição Maravilhosa". Presente de meu pai que guardou os exemplares comprados no final da década de 40 e ao longo da de 50, adivinhando a chegada do filho. Tinha de tudo. De Manuel Antônio de Almeida a Jorge Amado. De Lewis Carrol a Alexandre Dumas. Muito melhor do que ler orelha do livro para saber o conteúdo do capeado. Eram o passaporte para a obra completa.
Tomara que algum dia enxerguem que no ensino infantil e fundamental tão ou mais importante que bibliotecas são "gibitecas". Santos já percebeu isso. Falta Mogi.
Aliás, recentemente quadrinizaram "O Alienista" em uma Graphic Novel, ganhando Simão Bacamarte "vida" na oitava arte! Antes tarde do que nunca! E lá vamos, com barba na cara, comprando gibis.
Mas já que se falou no Seu Joaquim, ultimamente em merecida evidência, escreveu o mestre conto considerando que a venda da consciência não era censurável.
Vender a consciência para retribuir este ou aquele apoio ou, ainda, para aumentar a caixinha - o que, bom que se diga, coisa que quase nunca acontece entre nossa classe política - seria algo absolutamente normal para os que seguem o anjo caído machadiano.
Para Machado, em conto chamado "A Igreja do Diabo", vender a consciência e, aproveitando o momento eleitoral, o próprio voto, nunca poderia ser crime. E justificava o que via como verdadeiro "exercício regular de direito":
"A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo?"
Ah! Mestre Machado... Deveria ter avisado que era sarcasmo... Eles levaram a sério...
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*Advogado