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O Pessoal do pirulito

Como diz o Eclesiastes, todas as coisas tem o seu tempo. No caso das leis brasileiras também. Para cada processo há um prazo e em alguns casos, como o de dano moral, quando o perverso imagina que já lhe esqueceram é que, de repente, começam os reversos

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Atualizado às 11:45


O Pessoal do pirulito

Edson Vidigal*

Como diz o Eclesiastes, todas as coisas tem o seu tempo. No caso das leis brasileiras também. Para cada processo há um prazo e em alguns casos, como o de dano moral, quando o perverso imagina que já lhe esqueceram é que, de repente, começam os reversos.

Também pudera, amiga, amigo.

Numa terra em que os escanteios aos valores morais dificultam a prevalência das regras mínimas para uma convivência civilizada, isso tudo que estamos vendo por aí, na cultura deles, os salteadores da honra alheia, é muito natural.

É que o setor público por estas paragens, também neste tempo, parece ainda depender muito de pirulito. Se não tem pirulito, as bocas inquietas se danam a berrar e aí ninguém trabalha em paz.

Há, nesse reino dos viciados, os que fazem de tudo para estar mais em derredor da resolução das coisas. Farejando pirulito.

Uns, profissionais em coisa alguma, alguns doutores de anedotas, outros falastrões grosseiros, primatas de óculos, todos de uma mesma estirpe querendo sempre, cada um, a mesma coisa. Pirulito.

Problema é que nas repartições do Estado, se já se fabricou, hoje ao que se sabe não se fabrica mais pirulito. Mas os bocas quentes, os bocas largas, os bocões e os boquinhas não querem outra coisa. Nem ovo, nem pescaria no rio de Jereré. Só querem pirulito.

Mesmo que os chefes, do maior ao menor, nem pisquem os olhos de tão atentos ao transcorrer das coisas, eles ainda acham que é possível ganhar pirulito.

Quando um deles some de repente e passa uns dias sem ser visto é porque ou está tramando ou porque já encontrou quem lhe desse, e não sei de que maneira, algum pirulito. E aí, se o pirulito é de maracujá e enquanto a língua não lamber o palito, amiga, amigo, é paz total.

Ainda que você quisesse, só para ser deixado em paz, encomendar a alhures suprimentos de pirulitos, seria infernal. Os amiguinhos entres aspas, os companheiros entre aspas, se contentam com um pirulito de cada vez, a cada hora.

Já os inimigos, estes só ainda são inimigos porque sabem que por aqui não tem pirulito. Se lhes disserem que há, eles vem correndo, mas querendo o dobro da quantidade exigida pelos amiguinhos entre aspas e pelos companheiros entre aspas. Na oposição costumam se entrincheirar os mais gananciosos.

Então, amiga, amigo, haja pirulito!

Vê se arranja uns pirulitos. Adoça a boca dos caras. E cala logo eles. Conselho de amigo da onça, amigo. Porque vai chegar o dia em que alguém fingindo que vai soltar pirulito vai dar é um flagra.

Só acredito é na Policia Federal para desmontar em definitivo esses esquemas. Falar nisso, fiquei sabendo... Cala-te, rapaz! Não sei de nada não, seu moço. O que sei, porque sou pessoa da lei e da justiça, advogado de profissão, o que sei é que os que não se controlam serão controlados e os que controlam descontroladamente que se cuidem.

O tempo do achaque vai acabar. As pessoas honestas, que trabalham sério, com espírito público, querendo mesmo a melhoria das condições de vida da população de um Estado tão infeliz como este, essas pessoas terão um dia, acredito, melhor ambiência para realizarem o melhor das suas capacidades em favor de todos.

Quanto aos que tendo desprezo pela verdade não tem compromisso com a seriedade e não sendo sérios não só acreditam nas mentiras que inventam como ainda ousam arrogância e moralismo falso no que se metem a fazer e a desfazer, quanto a estes é confiar nos provimentos da lei e esperar.

O tempo, muito antes do que eles imaginam, fazendo o melhor julgamento, os levará ao cadafalso de um longo desemprego, que é o lugar certo dos que, não sendo sérios, ainda se imaginam com alguma credibilidade profissional.

Aqui, emporcalhar reputações profissionais consolidadas em trajetórias de méritos, é a única arma dos vencidos nas eleições e dos inconformados porque viram que não tem pirulito, como se o Estado fosse o quintal de um Corleone ou de um Somoza, ou uma Ciudad Trujillo.

Para se aceitar função pública aqui tem que se acostumar em ser confundido com os pilantras, os safados, os desonestos, que nem eles. Os do lado de lá, e os zangados que mudam de lado achando que no lado de lá tem pirulito.

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA




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