Reflexões: ser advogado
Aos 35 anos de advocacia, exercida em toda sua plenitude, pergunto-me se ainda tenho orgulho de ser advogado?
segunda-feira, 11 de agosto de 2008
Atualizado em 8 de agosto de 2008 13:52
Reflexões: ser advogado
Julio César Brandão*
Aos 35 anos de advocacia, exercida em toda sua plenitude, pergunto-me se ainda tenho orgulho de ser advogado?
Sim. A resposta é singela. Preocupo-me e, sinto certo temor pelos caminhos que a advocacia vem tomando ao longo dos anos, talvez premida, por um mundo cada vez mais selvagem e que está levando a perda dos valores éticos.
Tenho sim, profunda preocupação com a perda dos valores éticos, que atinge não só a nós, mas a toda sociedade.
Envolto em reflexões, neste momento, veio à lembrança o nome de Sobral Pinto e Evandro Lins, dois ícones da advocacia. Refletindo, procurei entender ou compreender, porque tanto se destacaram, tornando-se figuras emblemáticas e referenciais a todo e qualquer advogado que assim pensa ser. Um ponto em comum aos dois, me chamou muito a atenção: jamais abriram mão de seus princípios éticos. Lutaram bravamente pelos seus princípios e jamais perderam a dignidade.
Este é o nó gordio de uma velha e sempre e atual questão: a ética, onde deposito e sedimento minhas reflexões. A questão ética é absolutamente essencial e inquestionável na construção da profissão do advogado, ou parafraseando Kelsen, é um pressuposto É uma importante escolha decidir ser ético. Em uma sociedade selvagem como a nossa, voltada para os interesses individuais e egoísticos, ser ético implica encontrar todas as dificuldades em sua vida profissional expondo-se a desilusão, a indignação.
Defender valores éticos, no mundo contemporâneo, exige muita coragem e destemor diante da ausência de ética, da injustiça e da força.
Ser ético é ser irresponsavelmente destemido. É crer que os valores supremos do mundo precisam e devem ser resgatados. Ser ético é crer que o domínio do pensar seja um instrumento de mudança da sociedade. Ser ético é tentar ser virtuoso. Ser ético, enfim, é ser diferente.
Ser advogado e ser ético implica em uma luta incessante, noturna e diuturna, pelo aperfeiçoamento pessoal, buscando a realização do valor maior da Justiça.
Ser advogado é ser resistente à devastadora e irresponsável sociedade injusta, criada em nome do direito, do bem estar social e do desenvolvimento sustentável.
O advogado é em princípio um técnico conhecedor da ordem jurídica. Mas, isto não basta. Se não agregarmos valores éticos a esta nossa conduta e também a nossa ordem jurídica jamais poderemos ter orgulho de nossa profissão e sequer, poderemos enfrentar com altivez o encontro com o semelhante.
O advogado lida com o direito. E o direito só é direito porque lida com a vida. Viver e conviver implica em trocar valores.
A advocacia exercida com valores éticos atribui ao advogado autoridade moral. A autoridade moral que nos é atribuída é mais que suficiente para enfrentar, todo dia, as injustiças praticadas.
Que o digam Sobral Pinto e Evandro Lins e Silva, homens e advogados de profunda autoridade moral e que nos legaram uma vida exemplar.
Ser advogado é querer ser Sobral Pinto e Evandro, ao mesmo tempo.
Bem, tentar ser já é um grande passo.
Belo dia dos advogados a todos.
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*Advogado
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