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Memória seletiva

O ser humano, há bem pouco tempo, recebia diariamente um certo número de informações. Esta era a realidade até meados da década de 80 do século passado. Tal conhecimento provinha dos livros, das escolas, do rádio, da televisão, das cartas, dos jornais, das revistas e, até mesmo, das "fofocas" de pessoas próximas.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Atualizado em 4 de junho de 2008 14:24


Memória seletiva

Sylvia Romano*

O ser humano, há bem pouco tempo, recebia diariamente um certo número de informações. Esta era a realidade até meados da década de 80 do século passado. Tal conhecimento provinha dos livros, das escolas, do rádio, da televisão, das cartas, dos jornais, das revistas e, até mesmo, das "fofocas" de pessoas próximas.

Com o advento da internet, o volume de recebimento de informações passou a ser impulsionado a uma velocidade inimaginável e em tempo real, o que praticamente inviabilizou o interesse por notícias e conhecimentos transmitidos pelos meios de comunicação tradicionais, em razão da atualidade que aquele proporciona. A quantidade de informações também cresceu de forma exponencial, sendo que o homem contemporâneo recebe e tem um nível de conhecimento que o torna muito mais instruído do que vários gênios de um passado até recente. Porém, infelizmente, esta avalanche de conhecimento também causa uma tremenda carga de desgaste físico e mental, impulsionadora do "stress" que hoje acomete uma grande parcela da população, de tal forma que a maioria das informações acaba não sendo armazenada e poucos conseguem reter na memória o que aconteceu consigo, mesmo que recentemente.

Atualmente, é difícil se gravar um rosto, um nome, um dado, todos se queixam da pouca memória. Tenho percebido que este mal está cada vez mais comum, independente da faixa etária, sexo, profissão e outros diferencias da humanidade. Antigamente, costumávamos utilizar muitas expressões que definiam a inteligência e a ignorância. Hoje passa a ser importante, também, a capacidade de se ter uma boa memória, o que vem começando a preocupar muitas pessoas.

Infelizmente, o imenso volume de informação transmitido diariamente obrigará todos nós, cada vez mais, a ser seletivos naquilo que estaremos recebendo como conhecimento, tornando-nos especializados, com idéias direcionadas e focadas naquilo que fazemos. Esta nova realidade também terá como conseqüência o desaparecimento da maioria dos amadores e, ao mesmo tempo, dos tão interessantes filósofos, intelectuais generalistas e dos grandes artistas. A população imperceptivelmente se tornará chata e desinteressante.

Com o aumento da expectativa de vida da população, outro efeito será que daqui a bem pouco tempo surgirá uma nova geração de idosos desmemoriados, o que já podemos perceber em nossa volta com o crescimento de casos de doenças mentais degenerativas em muitos dos nossos antepassados vivos. Ou começamos a nos preocupar em acumular como conhecimento só o que possa ser de grande interesse e relevância, ou teremos de arcar com a conseqüência de, em breve, sermos um grande grupo de "gagás", como se dizia antigamente.

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*Advogada do escritório Sylvia Romano Consultores Associados










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