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Mistérios Velados

O mar, sim, este pedaço de atlântico em derredor de nós, nos rondando o tempo todo e inventando praias, fingindo lambe-las, mas querendo mesmo, talvez, quem sabe, invadir esta ilha, pois bem, o mar resolveu hoje, antes de raiar o sol, chamar todos os mal feitos à ordem.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Atualizado às 11:02


Mistérios Velados

Edson Vidigal*

O mar, sim, este pedaço de atlântico em derredor de nós, nos rondando o tempo todo e inventando praias, fingindo lambe-las, mas querendo mesmo, talvez, quem sabe, invadir esta ilha, pois bem, o mar resolveu hoje, antes de raiar o sol, chamar todos os mal feitos à ordem.

De saída, embargou os espaços de areia firme dificultando, não, impedindo mesmo, as caminhadas de nós outros, inocentes comuns mortais, pelos itinerários de sempre.

Mas, como era mesmo aquela canção denunciando torturas da ditadura? Mas, eu não sei de nada, eu não sei de nada, eu não sei de nada, eu não sei de nada. Aí se ouvia um grito como que vindo de algum porão, eu sou i-noo-ceeen-te. Já era o Tomzé, em plena Tropicália.

A censura não percebeu nada e deixou passar. Depois, quando todo mundo já cantava, resolveu proibir. Isso é para lembrar que todas as coisas têm o seu tempo. Ha tempo de ouvir e ha tempo de falar.

Há tempo também em que é proibido proibir. Ha tempo de mentir como agora ultimamente, e há tempo de falar a verdade, essa verdade com a qual os políticos, quero dizer, os maus políticos, detestam lidar e da qual detestam ate mesmo ouvir falar.

E esse marzão aí que amanhece por essas beiradas da ilha no desespero, que nem uns conhecidos nossos, ameaçando a tudo e a todos, esse marzão aí, gente, o que tem a ver com isso? Ah tem!

Há muita energia física amanhecendo carências de adrenalina, mas sem saber por onde andar. Não chega a ser tão surpreendente. Aliás, nestes tempos de ultimamente, nada, mas nada mesmo, surpreende.

Fundador da Academia de Trovas, o professor Carlos Cunha, que deu nome àquele logradouro onde fica a OAB, na primeira de copas, quero dizer de copos, desgrenhava os cabelos e atacava de José Régio com um poemaço que terminava, se bem me lembro, assim - não sei para onde vou, só sei que não vou por aqui.

Claro que não é novidade esse carrossel de canduras, quero dizer de candidaturas, todo mundo bem preparado, bem disposto, bem de tudo, querendo ser alcaide. Mas também tem gente que nem tem idéia de que diabo vem a ser isso. Al o que, mesmo? Alcaide, companheiro, irmão, camarada, quer dizer prefeito.

E quem sabe aí de onde vem essa palavra Prefeito? É que havia o feitor, o que fazia. Acima dele o pre-feitor, o que planejava as coisas e as organizava para serem bem feitas. E havia também o Vedor, o que via as coisas como estavam por aí afora, indicando os mal feitos ao pré-feitor.

Dessa figura chamada Vedor surgiu essa outra que tem gente pra caramba querendo ser, sua excelência o Ve-re-a-dor! Sua função é vê a dor, a dor do Povo. Não é interessante?

O mar pode até não ter ouvidos, mas que tem garganta, tem. Chamam de marulhos o som forte das ondas quando elas espocam em espumas alvas, especialmente nas areias das praias.

Mas o mar não só tem voz rouca, que nem a voz do povo, aquela voz rouca das ruas, o mar é que nem o povo, também denuncia. Ninguém pense que está dando fim a alguma coisa quando a joga no mar porque logo logo ele a devolve, não a quer, e a atira aos olhos de todos, na praia.

Agora mesmo está tudo aí, sapato velho, toras de pau, garrafas de plástico, pedaços de isopor, cacos de vidro, cadeira quebrada, sungas, calcinhas, camisinhas, pneu careca, ih não é possível, não acredito no que estou vendo.

Daqui a pouco virá o sol e com ele certamente virão os urubus. E enquanto os urubus não chegam? Mistérios. Mistérios velados.

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA

 

 

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