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O retorno do Chansonnier

Escrevendo em Migalhas (nº 1151), recordávamos que, nas memórias, Charles Aznavour compusera uma música dedicada aos seus advogados. E, como nunca dantes ninguém ligado à arte elogiara a profissão, o tema poético foi reproduzido naquele texto que redigimos. E uma mensagem é para a nossa comunidade. Naquela obra, cuidada em relances, o artista-escritor, ao concluir, prospectou interrogativamente: "À suivre?"

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Atualizado em 17 de abril de 2008 15:41


O retorno do Chansonnier

Jayme Vita Roso*

«Personne ne peut rien pour toi.
Toi seul peux décider de ce que tu veux être plus tard.»1

Charles Aznavour

Escrevendo em Migalhas 1.151 (19/4/05 - "Charles Aznavour" - clique aqui), recordávamos que, nas memórias, Charles Aznavour compusera uma música dedicada aos seus advogados. E, como nunca dantes ninguém ligado à arte elogiara a profissão, o tema poético foi reproduzido naquele texto que redigimos. E uma mensagem é para a nossa comunidade. Naquela obra, cuidada em relances, o artista-escritor, ao concluir, prospectou interrogativamente: "À suivre"?

Quando lançou o livro Imagens da Minha Vida, já recém passara dos oitenta anos.

Conjecturou, meditou, fez pausas, consultou seus botões - e os da sua família e os de seus amigos - para decidir sobre quando seria a sua retirada dos palcos e como ela seria feita. Finalmente, chegou à conclusão de que isso deveria ocorrer entre de novembro de 2007 e fevereiro no ano seguinte. Como sempre em sua vida, tudo O que fez foi com muita paixão, com muito afinco e preciosismo. Escolheu um bom teatro em Paris, onde durante várias semanas cantou seu repertório, ou o que de melhor é apreciado, para, em seguida, fazer uma turnê mundial.

Só que o incansável pequeno Grand Charles, como é conhecido, não perdia tempo somente em organizar esta gloriosa despedida. Aproveitou-o também para voltar a escrever, tendo publicado no final do ano de 2007 um livro de novelas, entregue aos seus admiradores pelas Editions Flammarion. Evocativo, o título Mon père, ce géant, com 153 páginas, de forma muito agradável, recordou com sutileza como se fora o personagem de cada novela, querendo sê-lo sem se nominar, mas transparecendo sua intenção e o espírito com que alinhara aquelas pequenas peças literárias.

Mostrou as vicissitudes de um homem viúvo receber seu neto, oriundo de sua filha casada com um negro. No fundo, nesta peça, como a que escreveu sobre um pai sozinho ou a vida tormentosa de um armênio refugiado na França, demonstrou o quanto pesara, em sua existência, os preconceitos que padeceu.

De outro lado, transbordando de amor, ao homem como pessoa humana, ao seu inestimável cãozinho ou aos seus amigos colhidos e apanhados na porta de uma igreja na véspera de um réveillon, focalizou tudo que saía de sua alma com o produto dos seus sentimentos, gerados de um caráter sólido e coerente. Embora passando dos oitenta anos, tem gana de viver como se tivesse vinte. Escrevendo essas novelas e agrupando-as na obra em comento, revelou-se um escritor singular, pois sabe, como poucos, contar anedotas, construir histórias deliciosas e fantasias imaginárias, transpondo os limites da sua arte musical. Mais do que presente no livro, a sua personalidade e, sobretudo, seu caráter de humanista aberto e disposto a defender as diferenças que a vida traz para o ser humano.

Como nem todos os migalheiros terão o deleite de estar presentes nesta noite e rever o Grande Charles, com uma orquestra de vinte e oito acompanhantes, reviver suas músicas imortais, o escriba ajuntou a esta mensagem uma das mais significativas peças do seu maravilhoso repertório: Les plaisirs démodés (Os prazeres fora de moda). É a que mais aprecio.

Até a próxima, Grand Charles.

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1
AZNAVOUR, Charles. Mon père, ce géant. Paris : Flammarion, 2007. p. 151
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*Advogado do escritório
Jayme Vita Roso Advogados e Consultores Jurídicos













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