Min. Hélio Quaglia Barbosa e Des. Roberto Stucchi, meus amigos
Corria o ano de 1968 e três jovens, em anseio maior de vocação, participavam do mesmo Concurso de Ingresso na Magistratura paulista: Hélio Quaglia Barbosa, Octavio Roberto Cruz Stucchi e Ovídio Rocha Barros Sandoval.
terça-feira, 11 de março de 2008
Atualizado em 10 de março de 2008 15:27
Ministro Hélio Quaglia Barbosa e desembargador Roberto Stucchi, meus amigos
Ovídio Rocha Barros Sandoval*
Corria o ano de 1968 e três jovens, em anseio maior de vocação, participavam do mesmo Concurso de Ingresso na Magistratura paulista: Hélio Quaglia Barbosa, Octavio Roberto Cruz Stucchi e Ovídio Rocha Barros Sandoval.
Hélio trazia o testemunho do jovem bem educado, de rara inteligência e de um dedicado amor ao estudo do Direito e já era conhecedor respeitável do Direito Administrativo que aprendeu a gostar a partir de sua convivência amiga com o notável professor Hely Lopes Meirelles, quando Secretário da Segurança Pública, sendo Hélio seu oficial de Gabinete.
Stucchi trazia a marca de uma personalidade alegre, educada, inteligente, com um fantástico pendor e dedicação ao estudo do Direito.
Fomos aprovados, com a alegria de termos os nossos nomes entre os cinco primeiros classificados, entre 730 candidatos. No mesmo dia - 13 de janeiro de 1969 - tomamos posse e iniciamos nossas carreiras.
Ficamos amigos por quase quarenta anos e por admirá-los, acompanhei toda a escalada de cada um deles nos degraus da Magistratura, com grande entusiasmo.
Quando assumi, como Juiz titular, a comarca de Guariba em 29 de novembro de 1969, tive a alegria de receber a sua jurisdição por intermédio do Hélio, que ali judicava há quatro meses, como Juiz Substituto da Circunscrição de Araraquara. No início de dezembro, fiz a correição anual nos Cartórios e me entusiasmei ao tomar conhecimento do fantástico trabalho de Hélio naquela comarca. As duas primeiras páginas do meu relatório encaminhado à Corregedoria-Geral de Justiça foram utilizadas para apontar e descrever o excelente trabalho por ele realizado e dizia, quase em profecia, que estávamos diante de um fantástico Juiz. O tempo se encarregou de demonstrar essa verdade. Em seguida acompanhei a sua ida para a comarca de São Simão onde, em troca de olhares, da janela do salão do Júri, com uma jovem que passava pela calçada, acabou encontrando a sua querida esposa. Acompanhei a sua chegada
A contribuição do Ministro Hélio Quaglia Barbosa para o Poder Judiciário brasileiro é inestimável. De seu labor colhem-se centenas de sentenças, de pareceres na Corregedoria-Geral da Justiça de São Paulo em questões administrativas, de centenas de acórdãos e votos que engrandecem os anais forenses.
O Ministro Hélio Quaglia Barbosa soube ser um Homem magnífico e um Juiz fantástico.
Da mesma forma acompanhei a carreira do Desembargador Octavio Roberto Cruz Stucchi. Na comarca de Espírito Santo do Pinhal proferiu sentença admirável em uma difícil ação de anulação de testamento e deixava a marca do verdadeiro Juiz. Ainda jovem, em virtude de seu indiscutível merecimento, galgou todos os degraus da carreira, chegando ao honroso cargo de Desembargador. No dia de sua posse, perante o Órgão Especial do Tribunal de Justiça estava presente e assisti, encantado, a uma das mais emocionantes e marcantes posses de um Desembargador. Stucchi foi recebido e saudado por seu pai Desembargador Octavio Stucchi - único caso na história de nosso Tribunal. Emocionei-me ao ouvir o pai saudar o filho, dispensando o seguinte tratamento: "Senhor Desembargador Octavio Roberto Cruz Stucchi". Sua trajetória foi luminosa e Stucchi nunca deixou de gostar de gente, de ser simples e puro de coração. Ao lado de sua vocação de Magistrado, era bom, alegre e sempre disposto a servir aos anseios da Justiça. Infelizmente, nos últimos dois anos, veio a padecer de uma grave moléstia, sendo operado diversas vezes. Não se abateu um único instante, continuava o mesmo Stucchi. O Desembargador Laerte Nordi, outro querido Amigo, contou-me que foi visitar o Stucchi no Hospital e notou a presença de alguns processos ao lado de sua cama. Indagou a razão daqueles autos estarem em seu quarto, vindo a receber a seguinte resposta: "são processos que estudei para preparar meus votos" . Gravemente enfermo, ainda achava tempo para ser Juiz. Exemplo admirável para todos os Magistrados de nossa terra.
No último mês de fevereiro, os meus queridos amigos partiram para a Casa do Pai e passaram a viver uma nova dimensão do Amor, na lembrança daqueles que os amaram em vida.
A Humanidade empobreceu e o Poder Judiciário ficou privado da presença de dois fantásticos e verdadeiros Juízes
Em momento, onde se escasseiam as verdadeiras vocações, com Juízes, em grande maioria, transformados em burocratas de gabinete, os exemplos deixados pelo Ministro Hélio Quaglia Barbosa e Desembargador Octavio Roberto Cruz Stucchi enchem nossos corações de Esperança - quem sabe, as novas gerações possam abrigar Homens e Juízes, verdadeiramente, vocacionados!
Meus queridos Amigos, até sempre.
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*Advogado do escritório Advocacia Rocha Barros Sandoval & Ronaldo Marzagão
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