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Obviedades

Ver não é tão difícil, é só ter olhos. Mas olhar e sentir, buscar compreender, encarar o cenário e refleti-lo, não é para qualquer um. Enxergar assim, claramente, com visão responsável, implica em compromissos. E o mundo no derredor é isso.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Atualizado em 7 de fevereiro de 2008 12:12


Obviedades

Edson Vidigal*

Ver não é tão difícil, é só ter olhos.

Mas olhar e sentir, buscar compreender, encarar o cenário e refleti-lo, não é para qualquer um. Enxergar assim, claramente, com visão responsável, implica em compromissos. E o mundo no derredor é isso.

Quem enxerga essas coisas, esses mal feitos, esses por fazer, esses desleixos e arrogâncias, essas desigualdades gritantes, essas injustiças amamentando impunidades, e não se toca pra valer não tem mesmo nada a ver com isso aqui.

Conseguiram quase cegar um Povo inteiro, turvando-lhe os olhares e pondo tubos nos ouvidos para que, não vendo nítida a realidade de cada dia, também não ouvisse, nem em graves, nem em agudos, os sons das verdades soltas no mundo.

E a verdade mais triste é que enraizaram uma dependência. Isso tudo à custa do escanteio de valores da civilização e de princípios morais, que precisam urgentemente ser resgatados.

Na lógica deles se pergunta assim, trabalhar, pra que? Na malandragem o lucro não é maior? A ética que prevalece é a esperteza. Em outros tempos, perguntava-se ao infeliz, quem mandou não estudar? Agora, é assim, quem mandou, ó meu, estudar?

Aos poucos, você vai vendo se acostuma com eles, com o egoísmo deles, com a indiferença deles, com as práticas descomunais deles, com as deslealdades deles, ou se arriba deles. Antes de ter que brigar com a própria consciência.

A pobreza política a que relegaram essa maioria do Povo é a grande força, embora anêmica, sobre a qual se movem, ainda vitoriosamente, não só as oligarquias insepultas.

Não só o coronelismo eletrônico. Não só a impunidade triunfante. Não só a desonestidade escancarada. Não só o cinismo descarado. Também, e principalmente, as fortunas inexplicáveis, aliás, desde as origens.

Fortunas que não se explicam por aqui nem alhures. Não remontam assim tantas décadas, porque mesmo trabalhando, e pagando impostos quanto se paga no Brasil, não teriam chegado ao visível. E que, também, não resultaram de heranças, nem de sortes lotéricas.

Quem dessa gente, cujas raízes nem são de samambaia porque vieram mais lá de baixo, da ancestralidade da raia miúda, como a maioria de todos nós, pode mostrar um dia que seja de trabalho sério, em carteira assinada?

Por aqui não nasce mais barão, nem conde, nem visconde, nem príncipe ou princesa. Foi-se a monarquia, mas o patriarcalismo ainda resiste, influenciando malignamente a República.

A luta é antiga. Golpes e contra - golpes, porres de liberdade, ressabiados de uma incerta democracia, e onde ainda estamos amarrados? No sistema partidário e eleitoral, que todos condenam, mas que nas legislaturas que se sucedem ninguém ousa mudar.

No Congresso deles, lá entre eles, a melhor lei é aquela sob a qual se elegem, se reelegem, se reelegem, e ponto. Para que mudar?

É esse sistema eleitoral que aduba a corrupção, sedimentando esse estado de dependência generalizada. Sim, quanto mais analfabetos, mais eleitores ignorantes, prisioneiros da manipulação do poder político e do poder econômico. Quanto mais pobreza, mais indigentes, portanto, menos eleitores independentes.

Quanto menos infra-estrutura, quanto menos desenvolvimento, menos gente trabalhando sério. Quanto menos educação, menos recursos humanos. Quanto menos democracia, menos liberdade e mais ineficácia do Estado.

Um Estado sucateado, deformado, ineficaz, é presa fácil para os salteadores, os corleones da política, que só cuidam deles, fisiológicos até onde não podem.

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*Ex-Presidente do STJ e Professor de Direito na UFMA







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