O profissional da advocacia do século XXI: escolha estratégica do RH
Palavra em voga no vocabulário dos gestores das grandes corporações, a estratégia tem importância vital para a manutenção da competitividade das empresas neste novo cenário de desafios que se desenharam no nascer deste século.
terça-feira, 15 de janeiro de 2008
Atualizado em 14 de janeiro de 2008 11:01
O profissional da advocacia do século XXI: escolha estratégica do RH
Fernando Fabiani Capano*
Palavra em voga no vocabulário dos gestores das grandes corporações, a estratégia tem importância vital para a manutenção da competitividade das empresas neste novo cenário de desafios que se desenharam no nascer deste século.
Nesta mesma linha de raciocínio, é preciso mencionar que as pessoas, mais do que em outros tempos, são ferramentas essenciais para o sucesso na implementação das corretas estratégias que poderão desencadear o crescimento sustentável dos lucros das organizações.
Aliás, bem se manifestaram os professores Hitt, Ireland e Hoskisson, autoridades incontestes na matéria, quando nos ensinam, em sua obra "Administração Estratégica"1 que: "As fontes convencionais de vantagem competitiva, como as economias de escala e orçamentos de publicidade vultosos, não têm a mesma eficácia no cenário competitivo do século XXI. Além disto, a mentalidade administrativa tradicional não é capaz de conduzir uma empresa à competitividade estratégica nesse cenário competitivo. Em seu lugar, gestores devem adotar uma nova mentalidade - a que valoriza a flexibilidade, velocidade, inovação, integração e os desafios que surgem a partir de condições em constante fase de mudança".
Deste modo, necessário se faz dizer que o gestor de RH, cuja função precípua é alocar e gerir corretamente as pessoas para bem desempenharem suas funções, precisa estar sempre atento às novas necessidades mercadológicas das diversas profissões que integram os quadros das organizações, escolhendo, por exemplo, advogados que possam estar plenamente capacitados a atuar em simetria com todos os demais trabalhadores da empresa, na busca incessante por resultados maiores e melhores.
Assim, vale mencionar que os profissionais da advocacia operadores do Direito, especialmente aqueles que integram os quadros dos Departamentos Jurídicos, por vezes nos dão mostra de que pouca (ou nenhuma) preocupação ou compromisso têm com a implementação das estratégias ou decisões tomadas pelos gestores de suas organizações.
Ainda, temos visto com constância indevida que os gestores são, por vezes, impelidos a tomar decisões erradas, desnecessárias e/ou arriscadas em demasia, seja por falta de informação do seu Departamento Jurídico, ou porquanto seu advogado não entendeu a extensão da solução ou do problema apresentado, em conseqüência deste apenas considerar as informações de maneira vertical, aprofundando-se por demais em seu campo de atuação, desconsiderando que a empresa é muito mais do que seu Departamento.
Entre nós, apenas para ilustrar o que não se quer esperar de profissionais do Direito no atual e futuro mundo dos negócios, é conhecido o exemplo de uma grande indústria automobilística que desenhou, anos atrás, uma revolucionária estratégia de vendas de carros de baixa cilindrada através de plataforma com base na internet, cujo objetivo era conquistar significativa participação de mercado já no lançamento do produto.
O plano, submetido à análise do Departamento Jurídico, foi sumariamente obstado pelo responsável, visto que haviam sido detectados entraves legais que poderiam, em tese, ensejar multa de alguns milhares de reais para a organização.
Ora, é de se perguntar se, em algum momento, o profissional responsável pelo parecer legal acerca da situação considerou o tamanho do mercado que a empresa poderia ganhar se a estratégia tivesse sido devidamente implementada. Será que ele enxergou que a multa em questão poderia ter sido questionada na lenta Justiça brasileira, posto que a empresa, com o plano em prática, certamente poderia ganhar milhões em faturamento?
Aliás, em entrevista com o gestor desta organização, este nos relatou que seu Departamento Jurídico era conhecido por "travar" os negócios em andamento, visto que havia excessiva e desnecessária preocupação com detalhes legais de todas as operações, desconsiderando por completo todos os demais ângulos da questão.
Assim, naquela organização (como é comum, infelizmente, em muitas outras), submeter decisões aos profissionais do Direito era sinônimo de obstar o andamento do projeto. Deste modo, os negócios cujos resultados necessitavam aparecer em curto ou médio prazo, não eram analisados pelo Departamento Legal, o que, além de claras desvantagens, acabava, vez por outra, em aumentar o passivo dos procedimentos contenciosos na Justiça, já que era preferível entregar o "problema" para os advogados no fórum, do que estes exercitarem a tão importante análise preventiva (e, insistimos, com grande potencial de agregar valor, caso sejam analisadas por profissionais do Direito conscientes de seu novo papel).
Por vezes, as questões deste caso trazido como exemplo podem sugerir respostas óbvias, no entanto, é comum perceber que o gestor, por evidente desconhecimento técnico-legal, deixa de tomar decisões necessárias, porquanto teme contrariar seu advogado ou seu Departamento Jurídico. Para este, é por demais cômoda a situação de apenas apontar problemas, sem sequer preocupar-se com as soluções que ele deve, neste novo cenário que aqui desenhamos, criar e oferecer para sua organização.
É preciso haver, como já ocorreu, por exemplo, com as áreas de produção e marketing, uma reconciliação estratégica do Departamento Jurídico para com os demais compartimentos das organizações, especialmente se considerarmos que, em um ambiente cada vez mais caracterizado pela competição canibal e pela complexidade legal crescente, a atuação dos profissionais do Direito também pode trazer vantagem competitiva duradoura, bastando para tanto que estes estejam em fino compasso com os objetivos e estratégias das organizações onde trabalham.
Deste modo, necessário ainda acrescentar que estes profissionais devem ter entre suas competências essenciais o completo entendimento do mercado para qual prestam serviços jurídicos, posto que só assim serão plenamente capazes de realmente influir no resultado do negócio.
E escolher estes profissionais, ou ao menos reconhecê-los entre os demais, deve necessariamente estar entre as tarefas principais dos profissionais de RH, posto que, como já o dissemos, é inegável a capacidade de geração de valores consistentes que um profissional da advocacia pode oferecer, ajudando a empresa a implementar, com muito sucesso, estratégias vencedoras.
Diante de vocês então, profissionais de RH competentes e conscientes desta nova realidade, pode estar uma das fontes para se buscar a tão sonhada vantagem competitiva sustentável para sua organização, OS ADVOGADOS. Pense com seriedade nesta questão quando estiver diante de um currículo da área.
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1 Hitt, Ireland e Hoskisson. Administração Estratégica. São Paulo: Pioneira Learning Thomson, 2003. Página 12, capítulo I.
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*Advogado do escritório Gregori Capano Advogados Associados
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