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Os árabes e o ocidente

Maomé foi um profeta que viveu depois de Jesus Cristo. Supõe-se que tenha nascido em 571 e falecido em 632. Foi fortemente influenciado pela cultura cristã e judaica. Acreditava ser o último profeta, sucedendo Adão, Noé , Abraão, Moisés, Davi e Jesus Cristo.

quarta-feira, 12 de maio de 2004

Atualizado em 11 de maio de 2004 11:48

 

Os árabes e o ocidente

 

Sérgio Roxo da Fonseca* 

 

Maomé foi um profeta que viveu depois de Jesus Cristo. Supõe-se que tenha nascido em 571 e falecido em 632. Foi fortemente influenciado pela cultura cristã e judaica. Acreditava ser o último profeta, sucedendo Adão, Noé , Abraão,  Moisés, Davi e Jesus Cristo.

 

Até então os árabes eram politeístas e tribais. O islamismo surgiu assim no Século VII da nossa era.  Maomé pregava a substituição do politeísmo pelo monoteísmo, o fim da sociedade tribal e de privilégios de castas.

 

Tal como Cristo, foi perseguido por suas idéias. Tal como Cristo, seus documentos não foram por ele escritos, mas, sim, por um dos seus discípulos que se chamava Zaid. Assim como Cristo foi revelado pelos evangelhos de seus apóstolos, Maomé foi revelado pelo Alcorão que significa recitação.

 

Hoje o islamismo é uma das religiões com maior número de fiéis. Conta com mais de 400 milhões de crentes. Mais de 100 milhões espalhados pela África (Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia, Egito e países negros do sul do continente). Mais de 60 milhões no Oriente Próximo (Arábia Saudita, Síria, Iraque, Turquia, que não é um país árabe).  Mais de 200 milhões no centro da Ásia (Irã, Turquestão, algumas repúblicas da antiga União Soviética, Afeganistão, Paquistão, Bangladesh). Há ainda fiéis em grande número na Albânia, na Sérvia, na Croácia e na Grécia.

 

Logo depois da morte de Maomé, os seus vigários, que se denominavam califas, num único século conquistaram a Síria, o Egito, a Espanha, Portugal e a Gália, hoje território francês. A expansão foi contida pelos cristãos na Batalha de Poitiers em 732.

 

Os árabes dominaram Espanha e Portugal durante vários séculos, deixando ali sinais nítidos de sua grande cultura. Lisboa foi reconquistada pelos cristãos em 1147, Córdoba em 1236 e Granada no ano do descobrimento da América, ou seja, em 1492.

 

A reconquista cristã não significou a expulsão dos árabes da península ibérica. Representou apenas a dominação hegemônica dos cristãos. Até hoje em Lisboa há bairros árabes como a Mouraria e a Alfama. Palavras espanholas e portuguesas têm origem árabe como, por exemplo, quase todas iniciadas pelo prefixo "al", como alfaiate, alface e alferes.  Comidas também, como, por exemplo galinha de cabidela, cujo nome vem de "kabid", que significa fígado. Nem falar no grão de bico e no café, produtos revelados por aquela cultura.

 

Quando em Granada o último príncipe árabe rendeu-se aos reis cristãos, chegou às lágrimas. Sua mão o repreendeu: "não chores como criança pelo que não soube defender como homem.

 

Os principais pensadores árabes foram Avicena e Averróis.

 

O primeiro nasceu no Turquestão. Era médico, político e filósofo. Conseguiu  conformar a doutrina de Maomé à filosofia de Aristóteles, depois de consultar outro sábio, que se chamava Al Farab ou Alfarabi de cujo nome surgiu na nossa língua a palavra "alfarrabista".

 

O segundo chamava-se Averrois que nasceu, viveu e morreu na Espanha, onde foi médico, juiz e filósofo. Coube a ele, por solicitação das autoridades arábicas, comentar Aristóteles.  Recebeu o título de Averrois, o Comentador. O averroismo exerceu grande influência na Escola de Paris. Foi o principal pensador árabe na virada do primeiro milênio.

 

Na mesma época nasceu em Córdoba um judeu chamado Maimônides.  Como Averróis tornou-se um dos maiores pensadores da humanidade. Médico, filósofo e rabino de filiação aristotélico. Saiu da Espanha e fixou-se no Egito, tornando-se o médico do sultão Saladino. Escreveu em árabe, muito embora fosse judeu.

 

Todos três gênios da civilização receberam grande influência de Aristóteles. Eram racionalistas. Avicena, por exemplo,  dizia que tudo que existe pode ser conhecido pelo homem. Se Deus existe, então o homem pode conhecê-lo pela razão. Não apenas pela emoção, tal como pregava Santo Agostinho.

 

Quando São Tomás de Aquino resolveu escrever sua grande obra, atendeu o conselho de seu mestre, Santo Alberto Magno, que indicou os escritos de Avicena, Averrois e Maimônides como instrumento para melhor conhecer Aristóteles.

 

Dessa forma, o principal filósofo católico recebeu grande influência dos árabes Avicena e Averróis e do judeu Maimônides.

 

Contudo, a historiografia ocidental ocultou tal fato, assassinando a memória desses gênios da humanidade.

 

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* Advogado, professor da UNESP e Procurador de Justiça de São Paulo, aposentado

 

 

 

 

 

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