Herança: O que não te contaram
Herança não une família. Planejamento sim. Testamento isolado, doação mal feita e falta de estratégia custam caro. O que ninguém te conta sobre herança, eu conto aqui.
segunda-feira, 14 de abril de 2025
Atualizado às 13:23
Você já deve ter ouvido que "herança une a família". É mentira.
O que une a família é planejamento. O que resolve problema não é testamento bonito. É estratégia.
Herança mal pensada vira guerra. Herança mal planejada vira disputa. E, na grande maioria dos casos que chegam ao meu escritório, vira inventário milionário, custoso e traumático.
Aqui está o que ninguém te conta sobre herança:
1. Testamento, sozinho, não salva ninguém. Pode ser bonito, pode ser comovente, pode até ser perfeito. Mas pode ser feito um por dia.
Testamento, por si só, é o retrato da insegurança jurídica.
Isso porque o testamento pode ser revogado a qualquer momento. Basta uma nova vontade, uma nova fase de vida ou uma nova influência emocional.
Eu já vi pessoas fazerem três, quatro, cinco testamentos em poucos anos - mudando tudo a cada novo relacionamento, a cada novo desentendimento familiar.
E pior: o testamento, muitas vezes, nasce em um ambiente de vulnerabilidade extrema dos idosos.
Infelizmente, o aumento da expectativa de vida trouxe junto um outro fenômeno - o da manipulação emocional e patrimonial de idosos, especialmente por netos, familiares e, pior ainda, por cuidadores e pessoas próximas.
Um exemplo emblemático e recente é o caso da socialite Regina Gonçalves, de 88 anos, herdeira da Copag Baralho, que foi enganada, ludibriada e induzida a realizar alterações patrimoniais pelo próprio motorista particular. O caso ganhou repercussão nacional e expôs a fragilidade de idosos em momentos decisivos de sua vida patrimonial.
Por isso, testamento sem planejamento maior é um risco enorme - é um convite para que terceiros mal-intencionados atuem e se aproveitem de um momento de vulnerabilidade emocional, afetiva ou de saúde.
Por isso, o testamento deve ser parte de um planejamento maior - nunca o único instrumento.
2. Doação sem cláusula certa é erro primário. E a doação mal feita pode ser o início do pesadelo.
Doar é um ato de amor, mas sem estratégia é um convite ao caos.
O que poucos sabem é que a doação, especialmente de imóveis ou cotas sociais, exige muito mais do que boa intenção.
Primeiro: muitas vezes o donatário precisa dar anuência. Especialmente na doação de cotas sociais, onde a anuência do sócio ou do próprio donatário é indispensável.
Isso significa que o avô ou pai que deseja doar, por exemplo, para um neto - mas sem que ele saiba - enfrenta sérios limites legais.
Aqui entra a doação testamentária: um mecanismo híbrido, que conjuga a vontade de doar com a blindagem jurídica necessária.
Na doação testamentária, o doador mantém controle sobre o bem enquanto vivo, garante cláusulas de proteção (inalienabilidade, incomunicabilidade, reversão) e só efetiva a transferência após o falecimento - afastando inclusive o risco do bem parar nas mãos de terceiros ou de virar objeto de execução de dívidas do donatário.
Sem planejamento, a doação pode ser judicializada, anulada e virar um problema ainda maior do que o inventário que se buscava evitar.
3. Quem deixa tudo pra depois, paga caro depois.
As famílias mais ricas que eu atendo têm um erro em comum: acham que depois dá tempo de resolver. Depois a saúde muda. Depois o casamento acaba. Depois os filhos brigam.
Depois tudo fica mais caro, mais demorado e mais traumático.
O que seria barato e simples hoje, vira fortuna em inventário, litígio e impostos.
4. Planejamento não é luxo. É proteção inteligente.
Planejamento patrimonial não é coisa de bilionário. É de família inteligente. É de quem não quer ver o que construiu virar briga, processo ou prejuízo.
Planejamento é um presente de quem pensa na família com amor e responsabilidade.
Quem acha que "herança se resolve depois"... Bem, esse vai descobrir da pior forma possível.
Quer evitar problemas futuros? Quer herança sem guerra? Quer paz patrimonial?
Planeje enquanto há tempo.
Procure um especialista. Procure quem vive isso todos os dias. Procure quem, mais do que advogar, entende de família real.