Inteligência artificial no Direito: Como se adaptar à nova realidade?
A inteligência artificial já reduz em até 80% o tempo gasto com revisão de contratos e 70% com pesquisa jurídica, tornando a advocacia mais eficiente.
sexta-feira, 4 de abril de 2025
Atualizado às 11:34
Desde que a inteligência artificial revelou suas inúmeras possibilidades, o mundo não parou de utilizá-la e evoluir com ela. De pequenos a grandes escritórios e empresas, a inovação deixou de ser um diferencial e se tornou uma necessidade para quem deseja se manter competitivo no mercado.
As legaltechs são empresas que combinam tecnologia e experiência jurídica para oferecer soluções que facilitam a rotina na advocacia. Seu objetivo é resolver problemas como burocracia e lentidão nos processos. Como resultado, os advogados se tornam mais produtivos ao adotar essas inovações tecnológicas.
Com um valor de mercado de USD 23,45 bilhões em 2022, as legaltechs devem quase dobrar sua relevância até 2030, atingindo USD 44,12 bilhões e crescendo a uma taxa de 8,2% ao ano. Mas o número mais impressionante não é o tamanho da indústria- e sim o ritmo acelerado de adoção global da tecnologia. Bancas jurídicas tradicionais, que antes a viam como uma ameaça, agora reconhecem que a sobrevivência depende de acompanhá-la.
A América do Norte ainda lidera essa revolução, mas Europa e Ásia-Pacífico estão avançando rapidamente, com startups atraindo mais de USD 1 bilhão em investimentos. Da inteligência artificial aplicada à análise jurídica ao blockchain para contratos inteligentes, o setor caminha para um modelo de advocacia totalmente diferente do que era há alguns anos.
Por que as legaltechs estão crescendo no Brasil?
E o Brasil, como está inserido nessa transformação global? Com mais de 300 startups focadas em soluções para o Direito, o país se destaca como um dos líderes na América Latina na adoção de legaltechs.
O desenvolvimento desse ecossistema não é um acaso - é uma resposta direta à carência urgente de modernização e eficiência no setor. O Brasil possui um dos sistemas judiciais mais complexos e congestionados do mundo, caracterizado por excesso de burocracia, alta litigiosidade e processos que podem levar anos para serem concluídos.
Os números refletem essa mudança: os investimentos em legaltechs no Brasil cresceram 30% em 2022, impulsionados pela crescente adoção de automação, inteligência artificial e análise preditiva em escritórios e departamentos jurídicos. O foco agora está em soluções que reduzem o tempo gasto com tarefas operacionais.
Quais são os benefícios da automação para escritórios de advocacia?
As tecnologias são desenvolvidas para atender a diversas demandas, mas uma das principais é o tempo. Na advocacia, isso se traduz em desempenho e produtividade, já que, tradicionalmente, grande parte dos honorários investidos é consumida por funções como leitura e avaliação de contratos, revisão de documentos e pesquisas jurídicas.
Felizmente, a inteligência artificial transformou completamente esse cenário. Segundo a McKinsey, soluções disruptivas podem diminuir em até 80% o tempo gasto para revisar contratos, permitindo que juristas concentrem seus esforços no que realmente importa: estratégia, negociação e inovação.
Já a LexisNexis otimizou a pesquisa legal, reduzindo em 70% das horas necessárias para consultas e análises, o que representa uma economia significativa de recursos financeiros e horas de trabalho.
Mas não é apenas o tempo que a tecnologia ajuda a economizar - as despesas também são impactadas de forma expressiva. A Kira Systems demonstrou que sua IA consegue economizar em até 50% os custos operacionais associados à revisão de documentos, proporcionando mais velocidade, menos erros e maior previsibilidade. Para as bancas, além da economia, existe também um nível de precisão impossível de atingir manualmente.
E, de fato, cortar gastos é um fator estratégico para qualquer escritório, pois recursos economizados podem ser realocados para a expansão do negócio. Segundo a Gartner, até 2025, metade dos departamentos legais corporativos terão investido em inteligência artificial, resultando em uma economia média de 30% nas despesas legais.
Além dessas soluções, os softwares jurídicos também se destacam como plataformas inovadoras, trazendo um novo nível de automação e gestão para as bancas.
Com um sistema baseado em gestão por tarefas e produtividade, as plataformas proporcionam as operações legais de qualquer porte estruturar melhor seus fluxos de trabalho, acompanhar métricas de desempenho e organizar sua equipe de maneira estratégica. Assim, tempo e recursos são otimizados, reduzindo a necessidade de serviço manual e garantindo maior previsibilidade para os juristas.
Outro diferencial é a inteligência artificial integrada, que possibilita desde a automação de peticionamento até o aprimoramento da experiência do cliente. Ao tornar processos mais ágeis e acessíveis, os softwares diminuem custos operacionais e ampliam a capacidade de atendimento sem comprometer a qualidade do serviço prestado.
A tendência é clara: a advocacia será cada vez mais orientada por tecnologia. Plataformas como estas demonstram que a adoção de sistemas não significam substituir os advogados, mas sim potencializar seu trabalho, tornando-os mais estratégicos e eficientes.
Quais são os principais desafios na adoção da tecnologia no Direito?
Muitos advogados ainda enxergam a tecnologia com desconfiança ou receio, acreditando que o uso de ferramentas sistematizadas é capaz de reduzir a importância da atuação humana. A atuação legal sempre foi vista como uma profissão baseada na interpretação e argumentação - habilidades que, para alguns, não podem ser substituídas por máquinas.
Dessa forma, a realidade mostra que essas inovações não substituem defensores, mas potencializam suas capacidades, permitindo que eles foquem no pensamento estratégico, na criatividade e no atendimento empático aos clientes.
Outro obstáculo é o desconhecimento sobre as soluções disponíveis no mercado. Muitos profissionais ainda não sabem como a IA otimiza a rotina e acreditam que sua implementação exige um alto financiamento ou uma curva de aprendizado muito longa.
Mas, de fato, não basta começar a usar tecnologia de forma repentina, sem antes entender as necessidades específicas do escritório. Esse processo requer compreensão e planejamento. Por isso, é importante investir em capacitação digital, possibilitando que toda a equipe domine o uso de softwares jurídicos, automação de documentos e análise preditiva baseada em dados, além de estar alinhada aos objetivos estratégicos da banca.
A ideia de que a inteligência artificial substitui especialistas ainda gera medo em parte do setor. Embora algumas tarefas repetitivas e burocráticas estejam sendo sistematizadas, o advogado continua uma peça fundamental e insubstituível.
O que acontece, na prática, é uma mudança no perfil do profissional. Ao invés de gastar horas revisando contratos ou buscando jurisprudências, os juristas passam a atuar como estrategistas, analistas e consultores especializados, empregando a tecnologia como ferramenta de apoio, e não como concorrente.
Além disso, a adoção de soluções digitais também esbarra em questões regulatórias e éticas. Isso porque, o uso da computação cognitiva no processo decisório, no peticionamento automático e na gestão de informações sensíveis levanta debates sobre responsabilidade, privacidade e imparcialidade.
Os órgãos reguladores do campo legal precisarão acompanhar essa evolução e criar normas claras para certificar um uso ético e transparente, sem comprometer a qualidade da advocacia e o acesso à Justiça. Até que isso aconteça, é possível se basear em outras legislações existentes, como a LGPD, para aplicar a inovação com bom senso e integridade.
Esse processo de adaptação não precisa - e nem deve - acontecer do dia para a noite. A incorporação da tecnologia no Direito deve ser estratégica, funcional e bem estruturada. Alguns passos são essenciais para que aconteça uma implementação eficaz dentro dos escritórios.
O mais relevante é entender que a digitalização não é mais algo do futuro, mas do presente. Não se trata apenas de "não ficar para trás", mas de se manter competitivo e lado a lado com os concorrentes que já utilizam soluções modernas para aprimorar seus serviços.
Quais são as novas oportunidades para advogados na era digital?
As inovações atuais abrem portas para novas oportunidades e modelos de negócio. O avanço das legaltechs e a ampliação exponencial da inteligência artificial funcionam como vetores de inovação, permitindo que advogados repensem sua forma de atuar.
O profissional do Direito que souber integrar os avanços à sua atuação poderá diversificar seus serviços, alcançar um público maior e desenvolver soluções mais ágeis, personalizadas e escaláveis, tornando sua prática mais competitiva e alinhada às demandas do mercado atual.
Além disso, essa evolução representa uma oportunidade significativa para juristas se especializarem em nichos do Direito voltados à tecnologia, como compliance e propriedade intelectual, áreas em expansão acelerada especialmente porque grandes empresas já demandam esse tipo de assessoria para garantir segurança jurídica em um ambiente digital.
A integração entre o digital e a advocacia também proporciona a especialização em áreas antes pouco exploradas, como proteção de dados, regulação de IA, contratos inteligentes e disputas online.
Ignorar essa mudança não é mais uma opção. A tecnologia já faz parte da realidade jurídica em grande parte do mundo, e o único caminho para advogados e escritórios que desejam se manter crescentes é se adaptar e evoluir junto.