Qual o impacto na experiência do usuário nas redes sociais com o fim da verificação de fatos?
A Meta reformula suas redes sociais com as "Notas da Comunidade", permitindo usuários corrigirem conteúdos, mas gerando preocupações sobre desinformação e saúde mental.
quarta-feira, 26 de março de 2025
Atualizado em 25 de março de 2025 16:59
Nos últimos meses, a Meta, dona do Facebook e do Instagram, anunciou mudanças significativas que impactarão diretamente a experiência dos usuários, embora ainda não tenham sido implementadas no Brasil. Entre essas mudanças, destacam-se o fim do sistema de verificação de fatos e o lançamento das "Notas da Comunidade". Enquanto essas iniciativas buscam aumentar a participação dos usuários, elas também levantam questões relacionadas à confiança, desinformação e até saúde mental.
O sistema de verificação de fatos, presente nas redes sociais da Meta por anos, desempenhou um papel fundamental no combate à disseminação de notícias falsas. Por meio de parcerias com agências externas de checagem, conteúdos potencialmente errôneos eram sinalizados para alertar os usuários sobre os riscos de desinformação. Contudo, a empresa decidiu substituir esse mecanismo por um novo modelo em que os próprios usuários poderão adicionar informações contextuais por meio das "Notas da Comunidade". Esse modelo não elimina a verificação de fatos completamente, mas modifica o processo ao permitir que usuários adicionem notas explicativas, correções ou contextos às postagens. Apesar disso, a Meta continuará fazendo verificações posteriores dessas notas para evitar a disseminação de desinformação, equilibrando a colaboração comunitária com a moderação da plataforma.
O objetivo das "Notas da Comunidade" é oferecer aos usuários a oportunidade de contextualizar e corrigir conteúdos específicos, promovendo maior interação e transparência. Embora essa abordagem incentive a participação ativa, a ausência de um sistema de verificação centralizado pode levar a confusões. Notas manipuladas ou distorcidas podem surgir, especialmente quando os usuários carecem de treinamento ou disposição para uma análise crítica. Além disso, a implementação do novo modelo sem consulta prévia aos usuários pode gerar frustrações, uma vez que mudanças dessa magnitude exigem maior reflexão sobre seu impacto na experiência cotidiana.
Sem o sistema tradicional de verificação de fatos, os usuários podem se sentir mais inseguros sobre a veracidade das informações, o que pode abalar a confiança nas plataformas e desencorajar o engajamento. A constante necessidade de questionar a autenticidade do conteúdo pode gerar estresse e angústia, aumentando a exposição à desinformação e potencializando sentimentos de ansiedade e impotência. Esse desgaste psicológico tem impactos diretos na saúde mental, especialmente entre aqueles mais vulneráveis à pressão digital. Outro efeito preocupante é o aumento da polarização, já que a falta de moderação formal permite que informações tendenciosas ganhem força, intensificando divisões e limitando o diálogo saudável.
Além disso, a navegação nas redes sociais pode se tornar mais exaustiva e improdutiva. Sem o selo de verificação, identificar fontes confiáveis exigirá mais esforço dos usuários, aumentando o tempo gasto em busca de informações relevantes e prejudicando a experiência geral.
Diante desse cenário, é crucial que a Meta reconsidere o impacto dessas mudanças na experiência dos usuários. Consultá-los para compreender como essas alterações afetarão suas interações seria essencial. Também é necessário que a empresa implemente mecanismos que apoiem os usuários na navegação, forneçam filtros de conteúdo confiáveis e promovam recursos para minimizar os impactos negativos da sobrecarga informacional. Tais medidas poderiam contribuir para um ambiente digital mais seguro e saudável.
Bruna Rodrigues de Oliveira
Sócia e advogada no Núcleo de Customer Experience da Nelson Wilians Advogados.