Direito de life sciences: Uma nova fronteira jurídica da inovação em saúde
O direito de Life Sciences se consolida no Brasil com a criação do primeiro curso estruturado, refletindo a crescente demanda por especialistas no setor regulado.
quinta-feira, 20 de março de 2025
Atualizado em 19 de março de 2025 13:51
O avanço da sociedade, das tecnologias e das relações econômicas impulsiona o desenvolvimento de novas áreas do Direito. Nesse cenário, o direito de Life Sciences se consolida como disciplina autônoma, refletindo a complexidade da indústria farmacêutica, biotecnológica, de dispositivos médicos e produtos inovadores, como vacinas e derivados de cannabis.
Seu status constitucional foi estabelecido em 1988, e sua relevância cresceu com a pandemia de Sars-Cov2. Agora, o lançamento do primeiro curso estruturado da área no Brasil, pela Escola de Negócios da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CCBC), marca um novo capítulo na formação de especialistas nesse setor regulado.
A construção de uma nova disciplina jurídica
Uma disciplina se torna autônoma quando apresenta um corpo teórico consolidado, métodos próprios de ensino e reconhecimento acadêmico. Esse processo ocorre em três fases interligadas: produção acadêmica, reconhecimento institucional e impacto prático.
A base teórica envolve literatura especializada, artigos, teses e doutrinas específicas. O reconhecimento institucional acontece quando o tema passa a integrar currículos de graduação e pós-graduação como disciplina própria. Por fim, sua consolidação se dá quando influencia práticas jurídicas, jurisprudência e políticas públicas, como ocorreu com o Direito Digital.
O Direito de Life Sciences segue esse caminho, impulsionado pela necessidade de regulamentação específica para um setor dinâmico e em constante inovação.
A complexidade jurídica do setor de life sciences
Esse campo transcende as fronteiras do Direito Civil, do Consumidor, Empresarial, Regulatório e da Propriedade Intelectual, exigindo uma abordagem própria. O setor opera sob um arcabouço normativo específico, como a lei 6.360/76 e a lei 10.742/03, além de resoluções da Anvisa que impactam diretamente o mercado.
O ciclo de desenvolvimento de produtos exige conhecimento jurídico técnico sobre patentes, ensaios clínicos, licenciamento, precificação e compliance regulatório. A judicialização da saúde, biossimilares, responsabilidade civil, proteção de dados em pesquisas clínicas e desafios biotecnológicos são temas centrais dessa especialização.
A crescente demanda por especialistas
A complexidade do setor impulsiona a busca por advogados especializados, tanto em escritórios quanto em departamentos jurídicos de empresas. Esse movimento tem estimulado a criação de cursos e programas específicos para atender a essa demanda crescente.
O Direito de Life Sciences exige profissionais que compreendam não apenas a legislação, mas também a dinâmica regulatória, científica e econômica do setor. A atuação envolve desde a regulação sanitária e propriedade intelectual até contratos, tributação, compliance e práticas anticompetitivas analisadas pelo CADE.
O marco de uma nova formação
O curso da CCBC representa um marco para a consolidação da área no Brasil. Pela primeira vez, um programa estruturado aborda de forma integrada os aspectos jurídicos do setor, com metodologia que une teoria e prática.
O currículo inclui temas como formação de preços pela CMED, licenciamento de registros sanitários, judicialização de patentes e regulação de insumos farmacêuticos. Além disso, promove estudos de caso e debates que refletem os desafios do mercado.
A criação desse curso fortalece a formação de profissionais capacitados para lidar com um setor estratégico para a inovação e a saúde pública. Sua institucionalização representa um avanço significativo para o mercado jurídico, preparando advogados para enfrentar desafios regulatórios e impulsionar o desenvolvimento econômico e social do país.
Guillermo Glassman
Advogado, sócio da L.O. Baptista Advogados e Coordenador do Curso de Direito de Life Sciences da Escola de Negócios da CCBC.