O papel do profissional de compliance nas estratégias globais
O profissional de compliance é essencial para garantir a conformidade regulatória, mitigar riscos e promover práticas ESG, sendo crucial para o sucesso das empresas no cenário global.
quarta-feira, 19 de março de 2025
Atualizado às 12:17
O cenário empresarial global está cada vez mais complexo e dinâmico, exigindo das organizações uma abordagem estratégica e integrada para a gestão de riscos e conformidade regulatória. Fatores como instabilidade econômica, transformação digital acelerada, crescente rigor regulatório e a necessidade de práticas ESG - Environmental, Social, and Governance tornam a função de compliance essencial para garantir a sustentabilidade dos negócios. Nesse contexto, o profissional de compliance se consolida como um ator estratégico, responsável por assegurar a aderência às regulamentações e fortalecer a governança corporativa, mitigando riscos e viabilizando a expansão global das empresas.
Empresas que operam no Brasil enfrentam um ambiente regulatório rigoroso, com legislações como a LGPD - Lei Geral de Proteção de Dados, a lei 12.846 - Anticorrupção (LAC) e normativas específicas de setores como financeiro, saúde e infraestrutura. Órgãos como o CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica e a CVM - Comissão de Valores Mobiliários impõem regras que demandam uma estrutura de compliance robusta e eficiente. No contexto internacional, normas como o GDPR - Regulamento Geral de Proteção de Dados na União Europeia, a FCPA - Foreign Corrupt Practices Act nos Estados Unidos e as diretrizes da OCDE - Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico exigem que multinacionais adotem padrões de conformidade globais, assegurando integridade e mitigação de riscos regulatórios.
A digitalização dos negócios trouxe desafios adicionais, especialmente no que diz respeito à cibersegurança, privacidade de dados e proteção de informações estratégicas. A não conformidade com essas normativas pode resultar em sanções severas, impactando financeiramente as empresas e minando sua reputação no mercado. Paralelamente, a pressão de investidores institucionais e consumidores por maior transparência corporativa reforça a necessidade de adoção de práticas ESG, o que exige do compliance um papel ativo na estruturação e monitoramento de políticas ambientais, sociais e de governança.
Diante desse cenário, o profissional de compliance atua de forma transversal, assegurando que a organização opere em conformidade com diferentes marcos regulatórios e promovendo uma cultura corporativa ética e transparente. Sua atuação se estende desde a criação e monitoramento de programas de integridade até a condução de due diligence em transações internacionais, prevenindo riscos como corrupção, concorrência desleal e vulnerabilidades regulatórias. Programas de compliance bem estruturados impactam diretamente a mitigação de riscos legais e financeiros, reduzindo a exposição da empresa a penalidades e fortalecendo sua governança corporativa.
A implementação de boas práticas de compliance também é essencial para garantir a adesão aos princípios ESG. Empresas que adotam políticas de sustentabilidade e governança eficazes conseguem atrair investidores e consumidores alinhados com valores éticos e responsáveis. Além disso, reguladores e bolsas de valores internacionais exigem relatórios de conformidade e sustentabilidade, tornando o compliance um fator-chave na viabilização do acesso a mercados e investimentos globais.
Para atuar em mercados altamente regulados, como Estados Unidos e Europa, o profissional de compliance deve possuir um conjunto de competências técnicas e estratégicas avançadas. O domínio de legislações internacionais como o GDPR da Europa, FCPA, SOX - Sarbanes-Oxley Act dos Estados Unidos e UKBA - Bribery Act do Reino Unido é fundamental para garantir a conformidade em operações internacionais. Além disso, a capacidade de análise de riscos regulatórios e estratégicos permite antecipar desafios e fortalecer a resiliência empresarial. Compreender padrões globais de governança e sustentabilidade também se torna um diferencial competitivo, permitindo que o compliance seja um aliado na implementação de políticas ESG.
A fluência em inglês e, idealmente, em outros idiomas como espanhol, francês ou alemão, é um diferencial significativo para profissionais que atuam em multinacionais. A capacidade de traduzir e comunicar conceitos complexos para diferentes stakeholders, bem como conduzir treinamentos e auditorias internacionais, é essencial para garantir a efetividade dos programas de compliance. Conhecimento avançado em cibersegurança, inteligência artificial e proteção de dados se tornou indispensável para profissionais que lidam com desafios regulatórios no ambiente digital.
Além das competências técnicas, o profissional de compliance deve desenvolver habilidades interpessoais (soft skills) para se destacar na área. A comunicação eficaz é crucial para traduzir regulamentações complexas em diretrizes claras e acessíveis a diferentes públicos dentro da organização. Liderança e influência são fundamentais para engajar colaboradores e assegurar a implementação efetiva das políticas de conformidade. O pensamento crítico e a análise estratégica permitem antecipar tendências regulatórias e mitigar riscos antes que se materializem.
A negociação também é uma habilidade essencial, especialmente no contexto de operações internacionais, onde diferentes jurisdições e culturas exigem abordagens flexíveis e personalizadas para garantir conformidade sem comprometer a estratégia de negócios. Adaptabilidade e resiliência são igualmente fundamentais, visto que o ambiente regulatório global está em constante transformação.
Na prática, o compliance desempenha um papel estratégico em diversas situações dentro de operações internacionais. Durante a expansão para novos mercados, a análise de due diligence é essencial para identificar riscos regulatórios, avaliar o histórico de sanções econômicas e garantir o cumprimento de leis anticorrupção. Em processos de fusões e aquisições, a realização de investigações detalhadas sobre a empresa-alvo evita passivos ocultos, protegendo os interesses da organização adquirente e prevenindo implicações legais e reputacionais.
Outra aplicação crítica do compliance ocorre na implementação de políticas globais de conduta, assegurando que todas as filiais operem dentro dos mesmos padrões éticos, mesmo em países com regulamentações distintas. A mitigação de riscos de lavagem de dinheiro e financiamento ao terrorismo também é uma função essencial do compliance, por meio da aplicação de procedimentos rigorosos de KYC - Know Your Customer e monitoramento contínuo de transações financeiras. A conformidade com normativas internacionais de proteção de dados, como o GDPR, também exige uma atuação estratégica, garantindo que a empresa esteja adequada às exigências regulatórias de diferentes jurisdições.
O profissional de compliance evoluiu de um executor de normas para um parceiro estratégico no desenvolvimento e implementação das diretrizes empresariais globais. Em um cenário onde a regulamentação está cada vez mais rigorosa e a governança corporativa se torna um diferencial competitivo, o compliance é um elemento essencial para o sucesso e a sustentabilidade das organizações. Investir no fortalecimento dessa área é crucial para empresas que buscam operar com segurança, eficiência e credibilidade no mercado global.