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Por que o mercado de seguros não para de crescer?

O setor de seguros no Brasil cresce anualmente, impulsionado pela busca por segurança financeira, inovação regulatória e digitalização, garantindo proteção e estabilidade.

sexta-feira, 14 de março de 2025

Atualizado em 17 de março de 2025 13:45

O setor de seguros no Brasil tem apresentado crescimento contínuo e consistente, mesmo diante de desafios econômicos e regulatórios. Em 2024, a arrecadação do mercado segurador, previdência privada e capitalização atingiu R$ 435,56 bilhões, representando um crescimento nominal de 12,2% em relação ao ano anterior, segundo dados da SUSEP - Superintendência de Seguros Privados. Mas o que justifica essa ascensão ano após ano? E mais importante: como as seguradoras devem se posicionar nesse cenário para garantir um crescimento sustentável e juridicamente seguro?

Diante de um ambiente econômico instável, a busca por segurança financeira se tornou prioridade para empresas e indivíduos. A instabilidade histórica da pandemia de Covid-19 impulsionou essa necessidade, reforçando o papel do seguro como instrumento essencial de proteção contra riscos diversos. O setor de seguros de danos e pessoas (excluindo o VGBL) arrecadou R$ 207,10 bilhões em 2024, um aumento nominal de 10,4% em relação a 2023, demonstrando que a população está cada vez mais consciente sobre a importância da proteção patrimonial e pessoal.

Essa percepção também se reflete nos seguros de vida e previdência privada, como o VGBL e PGBL, que registraram crescimento de 16,3% e 9,9%, respectivamente. O aumento da longevidade da população e as incertezas sobre o futuro da previdência pública estimulam essa adesão crescente. Mas, afinal, por que este mercado está sempre tão aquecido?

O crescimento do setor não é apenas reflexo de maior demanda por proteção, mas também do fortalecimento regulatório que garante mais segurança para seguradoras e consumidores. A SUSEP, responsável pela supervisão do setor, tem adotado medidas que promovem maior transparência e eficiência na operação das seguradoras, garantindo estabilidade e previsibilidade jurídica.

A resolução CNSP 432/21, por exemplo, modernizou a estrutura regulatória do setor, flexibilizando produtos e incentivando a inovação. Além disso, a crescente digitalização dos serviços seguradores trouxe mais eficiência para processos como regulação de sinistros e precificação de apólices, permitindo maior controle de riscos e ampliação da base de segurados.

Mas, se por um lado o crescimento contínuo do mercado apresenta oportunidades de ampliação e diversificação de produtos, por outro, impõe desafios significativos às seguradoras. A elevação dos valores pagos em indenizações, resgates e benefícios, que somaram R$ 241,42 bilhões em 2024 (crescimento de 6,8% em relação ao ano anterior), exige uma gestão de riscos ainda mais eficiente para garantir a sustentabilidade do setor.

Outro ponto de atenção é a crescente judicialização das relações securitárias. O CDC (lei 8.078/1990) tem sido frequentemente utilizado como fundamento em disputas entre segurados e seguradoras, o que impõe às empresas a necessidade de políticas mais robustas de compliance e transparência contratual para evitar litígios desnecessários.

Além disso, a recente regulamentação do seguro de vida universal, que combina características de seguro de vida tradicional e previdência privada, pode representar um novo marco no mercado, mas também traz desafios em termos de tributação e gestão atuarial. A resolução CNSP 344/16, que estabelece regras para esse tipo de seguro, já apontava algumas diretrizes, mas a nova regulamentação da SUSEP deve determinar aspectos tributários cruciais para sua viabilidade no Brasil.

Para que o crescimento do mercado segurador seja sustentável, as seguradoras devem adotar estratégias que garantam equilíbrio entre expansão e segurança jurídica. O aperfeiçoamento da precificação, impulsionado pelo uso de inteligência artificial e telemetria, permite personalizar apólices e ajustar prêmios conforme o risco real de cada segurado, reduzindo perdas com sinistros e fortalecendo a previsibilidade financeira.

Além disso, a digitalização e a inovação são essenciais para modernizar o setor, facilitando a contratação e gestão dos seguros. O investimento em governança e compliance reduz a litigiosidade e reforça a credibilidade das operações, enquanto a educação securitária auxilia na conscientização dos segurados, prevenindo inadimplência e disputas contratuais. O desafio para as seguradoras está em transformar esse cenário positivo em um modelo sólido e sustentável a longo prazo.

Por fim, o crescimento do setor de seguros reflete a crescente conscientização sobre a importância da proteção contra riscos. A evolução regulatória e tecnológica impulsiona esse avanço, mas o sucesso depende da adaptação das seguradoras. Garantir segurança jurídica, inovar e estruturar um modelo sustentável são desafios essenciais para transformar essa expansão em previsibilidade financeira e proteção eficaz aos segurados.

Claudinéia Pereira

Claudinéia Pereira

Sócia-diretora da Jacó Coelho Advogados. Tem MBA em Gestão Jurídica de Seguro e Resseguro pela FUNENSEG. É pós-graduada em Direito Tributário e Processo Tributário pela Faculdade Atame de Goiânia-GO e Mestranda em Direito do Agronegócio e Desenvolvimento pela UniRV.

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