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Desafios jurídicos e oportunidades em fusões e aquisições EUA-América Latina

As fusões e aquisições entre América Latina e EUA enfrentam desafios regulatórios e estratégicos. Descubra como os vistos L-1 e E-2 podem facilitar essas operações e impulsionar investimentos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Atualizado às 13:41

Aspectos jurídicos de fusões e aquisições transnacionais entre América Latina e Estados Unidos

Introdução

As F&A - fusões e aquisições transnacionais entre a América Latina e os Estados Unidos, têm se intensificado nas últimas décadas, refletindo a crescente integração econômica e a busca por novos mercados. Essas operações envolvem desafios jurídicos significativos, decorrentes das diferenças regulatórias entre as jurisdições envolvidas. Como advogado atuante no Brasil, com experiência em operações cross-border em toda a América Latina, tenho acompanhado esses processos de perto.

Neste artigo, não apenas apresento uma análise das questões regulatórias e estratégias para lidar com os desafios de F&A transnacionais, mas também compartilho reflexões sobre como as empresas podem se preparar melhor para navegar nesse ambiente. É fundamental adotar uma abordagem proativa, utilizando ferramentas como os vistos L-1 e E-2 para facilitar a integração de equipes e garantir o sucesso dessas operações.

Diferenças regulatórias e desafios jurídicos: Uma análise crítica

1. Estruturas societárias e governança corporativa

Um dos principais desafios em F&A transnacionais é a divergência nas estruturas societárias e práticas de governança corporativa entre a América Latina e os EUA. Enquanto os EUA oferecem uma estrutura empresarial flexível, muitos países latino-americanos ainda mantêm sistemas burocráticos que dificultam a atração de investidores estrangeiros.

No Brasil, por exemplo, a formação de uma Ltda. - sociedade limitada exige um contrato social detalhado e registro em junta comercial, o que pode levar semanas. Em contrapartida, nos EUA, a criação de uma LLC - Limited Liability Company pode ser concluída em poucos dias, com requisitos mínimos. Essa diferença coloca as empresas latino-americanas em desvantagem competitiva.

Seria o momento para os países da região modernizarem suas legislações societárias? Acredito que sim. A simplificação desses processos poderia fortalecer a integração econômica e aumentar o interesse de investidores internacionais.

Além disso, um outro fator que precisa ser debatido é a resistência de alguns países latino-americanos em flexibilizar suas leis empresariais. Em alguns casos, essa burocracia excessiva é mantida sob o pretexto de proteção ao mercado interno, mas o efeito prático acaba sendo o oposto: a falta de atração de investidores e a ineficiência na expansão das empresas locais para mercados globais.

2. Regulação antitruste: Um campo minado

A regulação antitruste é um aspecto fundamental nas operações de F&A. Nos EUA, a FTC - Federal Trade Commission e o DOJ - Department of Justice seguem critérios claros, como o HHI - Índice Herfindahl-Hirschman para medir a concentração de mercado. Na América Latina, entretanto, os processos costumam ser mais demorados e imprevisíveis.

Já presenciei casos em que uma fusão aprovada rapidamente nos EUA levou meses para ser analisada no Brasil ou no México, impactando negativamente o planejamento das empresas envolvidas. A burocracia excessiva e a falta de padronização regulatória representam barreiras ao crescimento econômico da região.

Para que essa realidade mude, é essencial que haja maior colaboração entre as agências reguladoras internacionais. Um processo harmonizado de avaliação de concorrência poderia reduzir significativamente o tempo e os custos envolvidos nas transações transnacionais.

3. Compliance e due diligence: Um desafio contínuo

A due diligence é um dos pilares de qualquer operação de F&A bem-sucedida. Muitas empresas, no entanto, subestimam os riscos associados a questões trabalhistas, ambientais e de compliance.

A aplicação extraterritorial de legislações como o FCPA - Foreign Corrupt Practices Act dos EUA, é um fator crítico. Empresas norte-americanas podem ser responsabilizadas por práticas corruptas de subsidiárias adquiridas na América Latina, mesmo que os atos tenham ocorrido antes da aquisição.

Portanto, é imprescindível que empresas adotem uma abordagem proativa, investindo em auditorias detalhadas e consultoria especializada para mitigar riscos desde o início.

O papel dos vistos L-1 e E-2: Facilitadores essenciais

  • Visto L-1: Integração de equipes e continuidade operacional

O visto L-1 é essencial para garantir a mobilidade de executivos, gerentes e profissionais especializados entre subsidiárias, afiliadas ou matrizes nos EUA. Muitas empresas ainda desconhecem sua importância ou enfrentam dificuldades na documentação necessária.

Em minha experiência, empresas que fazem uso eficiente do visto L-1 conseguem evitar rupturas operacionais e integrar suas equipes com mais rapidez após uma aquisição.

  • Visto E-2: Atraindo investimentos estrangeiros

O visto E-2 é uma opção valiosa para investidores de países com tratados de comércio com os EUA. Embora o Brasil não tenha esse tratado, cidadãos de países como Canadá e Itália podem se beneficiar desse visto para facilitar investimentos e aquisições nos EUA.

A ausência de um tratado E-2 entre Brasil e EUA é uma oportunidade perdida. Acredito que um acordo nesse sentido poderia impulsionar significativamente os investimentos bilaterais.

Casos práticos e lições aprendidas

Um caso que ilustra bem os desafios e oportunidades em F&A transnacionais é a aquisição de uma empresa brasileira de tecnologia por uma corporação norte-americana. Na ocasião, a due diligence revelou passivos trabalhistas significativos, que foram resolvidos através de um acordo com os funcionários antes da conclusão da transação. Além disso, a utilização do visto L-1 permitiu a transferência de executivos brasileiros para os EUA, garantindo a continuidade operacional e a integração cultural das equipes.

Esse caso reforça minha convicção de que uma abordagem estratégica e preventiva é essencial para o sucesso dessas operações. Ignorar detalhes como passivos trabalhistas ou a integração de equipes pode resultar em fracassos dispendiosos.

Considerações finais: Um chamado à ação

As fusões e aquisições transnacionais entre a América Latina e os EUA oferecem oportunidades promissoras, mas também desafios jurídicos complexos. A harmonização de legislações, a modernização de processos e a assinatura de novos tratados comerciais são passos essenciais para fortalecer essa integração.

Finalizo com uma provocação: Como podemos, como profissionais do Direito e agentes econômicos, tornar as F&A transnacionais mais ágeis, seguras e benéficas para todos? A resposta está na colaboração, na inovação e na busca constante por melhores práticas.

A discussão está aberta: É necessário um esforço conjunto entre advogados, empresários e reguladores para criar um ambiente de negócios mais dinâmico e previsível. O futuro das F&A transnacionais dependerá de nossa capacidade de adaptação e da busca por um equilíbrio entre regulação e livre mercado.

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1 USCIS - L-1 Intracompany Transferee

2 USCIS - E-2 Treaty Investors

3 Departamento de Estado dos EUA - Vistos de Tratado de Comércio e Investidor

Caio Henrique Bernal Dela Marta

VIP Caio Henrique Bernal Dela Marta

ADVOGADO, EMPRESÁRIO. Criador do Cronograma Direito com Caio

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