A "nova" tributação e os "novos" desafios práticos
A LC 214/23 trouxe mudanças complexas à legislação tributária, desafiando empresas a se adaptarem, com custos elevados e necessidade de tecnologia especializada.
quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Atualizado em 21 de janeiro de 2025 14:14
Introdução
A legislação tributária brasileira tem sido, historicamente, um dos maiores desafios enfrentados pelo empresariado nacional. A recente publicação da LC 214, de 2023, introduziu mudanças significativas que afetam diretamente a estrutura fiscal das empresas. Com uma abordagem mais complexa e detalhada, as novas normas demandam das corporações um esforço redobrado para garantir o cumprimento das obrigações tributárias e evitar sanções legais.
A complexidade da legislação tributária
A legislação tributária brasileira é amplamente reconhecida por sua complexidade, resultado da sobreposição de normas Federais, estaduais e municipais. A LC 214/23, apesar de prometer simplificação, introduz novas regras que exigem alto grau de conhecimento técnico e constante atualização. Os empresários enfrentam dificuldades em interpretar corretamente os dispositivos legais, além de lidar com um sistema de apuração e declaração que se torna cada vez mais digitalizado e burocrático.
Um dos principais desafios enfrentados pelas empresas é a compreensão das alíquotas diferenciadas, dos regimes de tributação especiais e das constantes atualizações normativas. Pequenas e médias empresas, em particular, têm dificuldades em investir em assessorias especializadas ou sistemas de automação fiscal, o que pode levar a erros e passivos fiscais.
Dificuldades do empresariado na adaptação
A recepção da reforma tributária pelas empresas exige uma mudança profunda na cultura organizacional e no planejamento estratégico. Os principais entraves incluem:
- Falta de informação clara: A linguagem técnica utilizada na legislação dificulta a compreensão pelos empresários, que precisam recorrer a consultorias para entender suas obrigações.
- Alto custo de adequação: Sistemas de gestão fiscal, treinamento de equipes e consultorias especializadas representam custos elevados, especialmente para micro e pequenas empresas.
- Mudanças sistêmicas internas: Processos administrativos e financeiros precisarão ser reformulados para atender às novas exigências de apuração e declaração tributária.
- Incerteza sobre impactos futuros: A implementação gradual da reforma torna difícil o planejamento a longo prazo, gerando insegurança jurídica e fiscal.
O novo cenário tributário: Principais mudanças
A LC 214/23 promoveu mudanças estruturais em diversos aspectos, incluindo:
- Unificação de tributos: Com a substituição de tributos Federais, estaduais e municipais por um modelo mais centralizado;
- Sistema de apuração eletrônica: Introdução de plataformas digitais obrigatórias para a prestação de contas;
- Novas regras de compliance fiscal: Aumento das exigências para adequação à transparência e às boas práticas contábeis;
- Tributação do consumo: Redefinição das bases de cálculo e alíquotas para bens e serviços.
Essas mudanças trazem consigo um aumento substancial na complexidade do sistema tributário, exigindo das empresas um planejamento fiscal mais robusto e um investimento significativo em tecnologia e capacitação.
Impacto na rotina fiscal das empresas
Na prática, as mudanças da nova legislação terão impactos diretos na rotina fiscal das empresas, tais como:
- Gestão de NF-e - notas fiscais eletrônicas: As empresas precisarão revisar seus sistemas para garantir a emissão correta de notas com base nas novas regras de tributação.
- Reestruturação do planejamento tributário: O cálculo de impostos precisará ser revisado periodicamente para garantir a maximização dos benefícios fiscais e evitar passivos tributários inesperados.
- Integração de sistemas contábeis: A necessidade de integração de sistemas ERP com as plataformas governamentais para evitar divergências no envio de informações fiscais.
- Monitoramento contínuo das alíquotas: Além da adequação inicial, será necessário um monitoramento contínuo das alíquotas aplicáveis para cada região e tipo de produto.
Mudanças sistêmicas necessárias
Para garantir a conformidade com a nova legislação, as empresas precisarão realizar mudanças estruturais nos seguintes aspectos:
- Automatização fiscal: A adoção de softwares avançados para apuração e declaração tributária.
- Revisão de contratos com fornecedores: Ajustes nas cláusulas contratuais para garantir a correta aplicação dos tributos nas operações.
- Adoção de programas de compliance: Implementação de políticas internas para mitigar riscos fiscais e assegurar transparência.
Considerações finais
A nova legislação tributária representa um marco regulatório importante para o Brasil, mas impõe desafios consideráveis para as empresas nos próximos anos. A complexidade do sistema tributário requer das organizações um planejamento estratégico robusto e investimentos contínuos para garantir a conformidade.
Menndel Assunção Oliver Macedo
Advogado Tributarista. Bacharel em Direito pelo UniCeub. Especialização em Direito, Estado e Constituição pelo SuiJuris. MBA na Massachusetts Institute of Business (MIB) Especialização em Contabilidade Tributária no IBET. Diretor Jurídico da Câmara Brasil-Ásia (CBA). Cientista Tributário da Federação Nacional das Operações Portuárias (FENOP).