Arbitragem como alternativa à judicialização na Indústria farmacêutica
A indústria farmacêutica é complexa e enfrenta desafios regulatórios e de inovação. A arbitragem surge como solução eficiente para suas disputas.
quarta-feira, 8 de janeiro de 2025
Atualizado às 10:40
- Particularidades da indústria farmacêutica
A indústria farmacêutica é um dos setores mais complexos e regulados do país, já que impacta diretamente a saúde pública, por isso as empresas devem seguir rigorosas regulamentações sob todos os aspectos, desde a pesquisa até a comercialização dos medicamentos.
O setor ainda enfrenta desafios significativos, a exemplificar a necessidade de altos investimentos em pesquisa e desenvolvimento de novos medicamentos, que exigem longos períodos até o efetivo retorno financeiro, além de investimentos em patentes.
Além disso, a cadeia de suprimentos é extremamente complexa, pois envolve diversos players, como parceiros, fabricantes, fornecedores, distribuidores, consumidores.
- Arbitragem no setor
O setor de Life Science teve um crescimento de 500% nos últimos dez anos, que foi impulsionado pela inovação e demanda crescente por soluções de saúde mais eficazes e acessíveis.
A pandemia da covid-19 também teve um papel crucial nesse crescimento, acelerando ainda mais os investimentos na área, sendo que, em 2020 e 2021, os investimentos anuais em empresas de biotecnologia atingiram US$ 105 bilhões, evidenciando a importância do setor.
A maior quantidade de investimentos trouxe como consequência lógica aumento de disputas no setor. Tanto é assim que a CCI - Câmara de Comércio Internacional relatou crescimento de 50% nas arbitragens relacionadas ao setor em julho de 2022, indicando que, à medida em que o setor se expande, surgem também novos desafios e conflitos. A LCIA - London Court of International Arbitration destacou que os setores de saúde e farmacêuticos representaram o oitavo tipo de disputa mais comum em 2021, demonstrando a relevância jurídica dessas indústrias em um cenário global. Da mesma forma, a ICDR - International Centre for Dispute Resolution reportou um aumento de 34% no número de casos relacionados à saúde e Life Science em 2020.
- Benefícios da arbitragem na indústria farmacêutica
A arbitragem oferece uma série de benefícios para a indústria farmacêutica, tornando-se uma boa alternativa para a resolução de disputas se comparada aos processos judiciais tradicionais.
Um dos principais benefícios é a celeridade do procedimento, um dos grandes benefícios das soluções de conflitos conduzidas em disputas arbitrais. Essa rapidez é crucial em um setor em que o tempo pode impactar diretamente na introdução de novos medicamentos.
Outra vantagem importante é a especialização dos árbitros, já que na indústria farmacêutica as disputas frequentemente envolvem questões técnicas e complexas que requerem conhecimento específico. A possibilidade de escolher árbitros com expertise na área garante que as decisões sejam fundamentadas em uma compreensão profunda das nuances do setor, resultando em soluções mais precisas e eficazes.
A confidencialidade também é um aspecto essencial da arbitragem, especialmente para as empresas farmacêuticas que lidam com segredos comerciais e informações sensíveis. A natureza privada do processo protege esses dados críticos, evitando que informações estratégicas sejam divulgadas publicamente, o que poderia comprometer a competitividade das empresas.
Por fim, a facilidade de execução das sentenças arbitrais é um aspecto que merece destaque. As sentenças arbitrais podem ser mais facilmente reconhecidas e executadas internacionalmente devido à Convenção de Nova York, o que é uma vantagem significativa em um mercado globalizado. Essa característica proporciona maior segurança jurídica para as empresas que operam em diferentes jurisdições, permitindo que resolvam disputas de forma eficiente e confiável.
Em conjunto, esses benefícios fazem da arbitragem uma escolha privilegiada para a resolução de conflitos na indústria farmacêutica.
- Desafios e limitações
A arbitragem, apesar de ser uma alternativa eficiente para a resolução de disputas, enfrenta diversos desafios e limitações que precisam ser considerados. Um dos principais desafios está relacionado aos custos. Embora a arbitragem possa ser mais rápida do que os processos judiciais tradicionais, ela pode se tornar dispendiosa, especialmente em casos complexos que exigem peritos especializados e múltiplas audiências.
Outro ponto de limitação é a falta de poder coercitivo dos árbitros, pois diferentemente de juízes, os árbitros não possuem autoridade para impor sanções diretas ou forçar o cumprimento das decisões, o que pode dificultar a execução de sentenças arbitrais em algumas circunstâncias.
Por fim, a escolha de árbitros verdadeiramente independentes também representa uma dificuldade, mas é preciso garantir que os árbitros sejam imparciais e livres de interesses conflitantes para assegurar a legitimidade do processo arbitral. Isso pode ser um desafio, especialmente em setores específicos, onde especialistas podem ter ligações com as partes envolvidas.
Laura de Almeida Machado
Advogada da área de Contencioso Cível e Empresarial do escritório Chenut Oliveira Santiago Advogados.