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Atendimento virtual, inteligência artificial e o antagonismo com o slow medicine

A inteligência artificial é uma das mais fascinantes inovações tecnológicas dos últimos anos.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Atualizado em 3 de janeiro de 2025 13:35

No contexto médico, a aplicação da IA promete avanços significativos, oferecendo ferramentas que otimizam diagnósticos, personalizam tratamentos e reduzem o tempo de resposta em situações críticas. Contudo, essa revolução digital gera questionamentos éticos e técnicos, principalmente ao contrastar com o movimento Slow Medicine, que prioriza a humanização, a paciência e o cuidado profundo no tratamento.

A Inteligência Artificial no Direito Médico

No direito médico, a IA se insere em diversos contextos, desde o suporte na gestão de prontuários até a formulação de diagnósticos mais assertivos. Em clínicas e operadoras de planos de saúde, a IA auxilia na automatização de serviços, como agendamentos e consultas. Ferramentas de aprendizado de máquina processam vastos volumes de dados em tempo reduzido, promovendo maior eficiência e ajudando a prevenir complicações.

O uso dessa tecnologia, no entanto, não está isento de controvérsias. Entre os desafios estão a manutenção da privacidade dos dados, a responsabilização por decisões baseadas em algoritmos e o combate à discriminação algorítmica. No Brasil, leis como a LGPD desempenham papel essencial ao estabelecer limites para o uso dessas informações.

O Movimento Slow Medicine

O slow medicine, por outro lado, emerge como uma resposta ao ritmo acelerado da medicina moderna. Ele valoriza o cuidado individualizado e reflexivo, em oposição à rapidez e padronização promovidas por soluções tecnológicas como a IA. Nesse contexto, médicos e pacientes compartilham decisões com base em diálogo, tempo e empatia, elementos que, segundo os defensores desse movimento, são fundamentais para um cuidado mais humano e eficaz.

A tensão entre a IA e o slow medicine reside na abordagem ao paciente. Enquanto a tecnologia busca respostas rápidas e precisas, o slow medicine promove uma conexão mais profunda entre médico e paciente, considerando a história e os valores individuais. Esse antagonismo exige um equilíbrio cuidadoso para que os avanços tecnológicos não prejudiquem a humanização do atendimento.

Desafios Éticos e Jurídicos

Entre os principais desafios na implementação da IA em saúde estão:

  1. Falta de transparência: Algoritmos utilizados na saúde muitas vezes são complexos e não permitem explicações claras sobre como chegam a conclusões;
  2. Precariedade na governança de dados: A coleta e o uso de dados de pacientes devem ser rigorosamente regulamentados para evitar violações de privacidade;
  3. Discriminação algorítmica: Sistemas podem reproduzir preconceitos existentes nos dados, resultando em decisões que prejudicam grupos específicos;
  4. Risco à humanização: A dependência excessiva de tecnologia pode desumanizar o atendimento, prejudicando o vínculo entre médico e paciente;
  5. Autonomia médica: Profissionais podem se sentir pressionados a aceitar decisões de IA, comprometendo seu julgamento clínico.

Caminhos para o Equilíbrio

Para promover uma interação harmônica entre IA e slow medicine, é necessário observar princípios éticos e legais. A OMS - Organização Mundial da Saúde destaca seis pilares fundamentais para a regulação da IA, entre os quais se destacam a proteção da autonomia humana, a promoção do bem-estar público e a inclusão social. No Brasil, a LGPD e o Código de Ética Médica devem ser o alicerce para a implantação dessas tecnologias.

Além disso, políticas públicas devem garantir o treinamento de profissionais de saúde para o uso adequado dessas ferramentas, bem como fomentar debates interdisciplinares que incluam médicos, pacientes, juristas e desenvolvedores de IA.

Considerações Finais

A aplicação de inteligência artificial na saúde e no direito médico pode revolucionar a assistência à saúde, tornando-a mais acessível e eficiente. Contudo, é crucial que essa revolução não comprometa os valores humanísticos do slow medicine. A integração equilibrada dessas abordagens é um desafio contemporâneo, mas também uma oportunidade de construir um sistema de saúde mais justo, ético e centrado no paciente.

O futuro da saúde e do direito médico dependerá da capacidade de harmonizar tecnologia e humanização, garantindo que os avanços sejam utilizados para o benefício de todos, sem perder de vista a essência do cuidado humano.

Thiago Rezende Bastos

Thiago Rezende Bastos

Advogado Direito do Trabalho | Direito Médico, Saúde e Bioética Pós-Graduado em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Advocacia Trabalhista Pós-Graduando em Direito Médico, Saúde e Bioética

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