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O futuro da oncologia: A legalização da terapia CAR-T no Brasil

As terapias gênicas e celulares estão revolucionando o tratamento do câncer, trago informações importantes para os pacientes que necessitam deste tratamento.

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

Atualizado às 15:02

A terapia CAR-T, um dos avanços mais promissores no tratamento do câncer, representa uma nova fronteira na oncologia. Consiste em uma técnica de terapia gênica inovadora, onde células do sistema imunológico do próprio paciente são modificadas geneticamente para combater células cancerígenas de forma mais precisa e eficaz. Embora já seja uma realidade nos Estados Unidos e na Europa, o Brasil ainda enfrenta desafios legais e estruturais para a implementação desse tratamento revolucionário. Neste artigo, vamos explorar os desafios e as perspectivas para a legalização e o acesso à terapia CAR-T no país, além de seu impacto para os pacientes oncológicos.

O que é a Terapia CAR-T?

A terapia CAR-T - Chimeric Antigen Receptor T-Cell envolve a coleta de células T do paciente, que são então modificadas em laboratório para expressar receptores específicos (CAR) que reconhecem e atacam as células tumorais. Após a modificação, essas células são reinfundidas no paciente, onde atuam como "assassinas" personalizadas das células cancerígenas.

Essa tecnologia tem se mostrado especialmente eficaz em cânceres hematológicos, como leucemias e linfomas, com altas taxas de remissão mesmo em pacientes que não responderam a tratamentos convencionais. A terapia CAR-T oferece a esperança de uma resposta duradoura, frequentemente referida como uma "cura funcional", já que as células modificadas permanecem ativas no corpo para prevenir a reincidência do tumor.

O cenário regulatório no Brasil

No Brasil, a ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária já aprovou algumas terapias CAR-T, porém a sua incorporação ao SUS - Sistema Único de Saúde e ao Rol de Procedimentos da ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar ainda enfrenta barreiras. O custo elevado e a complexidade do tratamento tornam o processo de acesso mais demorado, criando uma lacuna entre o que é aprovado e o que está realmente disponível para os pacientes.

O principal obstáculo está na falta de uma legislação específica que aborde as terapias CAR-T como uma categoria própria, em vez de serem tratadas apenas como medicamentos de alto custo. Isso afeta a disponibilidade tanto pelo SUS quanto pelos planos de saúde, que frequentemente negam cobertura sob a justificativa de falta de previsão legal ou ausência no rol da ANS.

A judicialização como ferramenta de acesso à terapia CAR-T

Diante das negativas dos planos de saúde e da falta de incorporação rápida pelo SUS, muitos pacientes oncológicos têm recorrido à via judicial para obter acesso à terapia CAR-T. A judicialização tem se mostrado uma ferramenta importante para garantir o direito à saúde, permitindo que os pacientes obtenham acesso a tratamentos que já são amplamente utilizados em outros países e possuem eficácia comprovada.

Decisões judiciais recentes, incluindo as do STF, têm reconhecido a obrigação do Estado e dos planos de saúde de fornecer a terapia CAR-T em casos onde não existem alternativas terapêuticas adequadas e o tratamento é prescrito por um médico. Essa abordagem judicial tem sido fundamentada no direito à saúde e na dignidade da pessoa humana, assegurados pela CF/88.

Impacto para os pacientes oncológicos

Para os pacientes oncológicos no Brasil, a terapia CAR-T representa mais do que um novo tratamento: é uma chance real de sobrevivência e melhoria na qualidade de vida. Estudos demonstram que, além de aumentar as taxas de remissão, as terapias CAR-T são menos invasivas e apresentam menos efeitos colaterais em comparação com tratamentos tradicionais, como quimioterapia e radioterapia.

O acesso à terapia CAR-T pode também reduzir o tempo de internação hospitalar e a necessidade de cuidados paliativos prolongados, gerando, a longo prazo, economia para o sistema de saúde. Essa redução de custos a médio e longo prazo pode justificar investimentos iniciais mais altos na incorporação dessa tecnologia.

Desafios e perspectivas para o futuro

A legalização e regulamentação mais ágeis das terapias CAR-T no Brasil exigem políticas públicas voltadas para a pesquisa, desenvolvimento e aplicação dessas tecnologias. A criação de centros especializados para a manipulação e infusão das células CAR-T é essencial para o sucesso desse tratamento no país. Além disso, o financiamento adequado, que pode incluir parcerias público-privadas, é crucial para assegurar o acesso equitativo e sustentável.

Outro ponto a ser trabalhado é a capacitação de profissionais de saúde, que precisam ser treinados para realizar esse tipo de tratamento de maneira segura e eficaz. Uma legislação clara e específica sobre terapias CAR-T pode acelerar a incorporação e a acessibilidade, tornando o Brasil mais competitivo no cenário global de inovação oncológica.

A terapia CAR-T está transformando a oncologia, oferecendo uma abordagem personalizada e eficaz para o tratamento do câncer. No entanto, para que esse futuro se concretize de maneira equitativa no Brasil, é necessário um esforço coordenado entre legisladores, reguladores, profissionais de saúde e sociedade civil. A judicialização tem desempenhado um papel crítico no acesso às terapias inovadoras, mas uma regulamentação mais eficiente e abrangente é indispensável para garantir que todos os pacientes possam se beneficiar dessas novas tecnologias, independentemente de sua condição financeira.

Flaviane Bilhar Caler

VIP Flaviane Bilhar Caler

Advogada Especialista em Direito Médico e da Saúde; Membro da Comissão Nacional de Direito da Saúde - ABA, formada pela Universidade do Oeste de Santa Catarina, Pós graduada em Direito da Saúde.

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