Eleições 2024: Estabilidade, moderação e desafios para um novo ciclo político
As eleições de 2024, com 82% dos prefeitos reeleitos. Partidos de centro lideraram, e o desafio dos novos gestores será equilibrar demandas locais com políticas estaduais e nacionais.
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
Atualizado às 14:41
As eleições municipais de 2024 deixaram claro o que o eleitorado busca e apontaram as tendências que devem marcar a política brasileira nos próximos anos. A continuidade das gestões e a força dos partidos de centro mostram que os brasileiros parecem preferir estabilidade e moderação em tempos incertos.
Segundo um estudo da CNM - Confederação Nacional dos Municípios, um dos pontos mais marcantes foi o alto índice de reeleição. Dos mais de três mil prefeitos que tentaram renovar seus mandatos, 82% tiveram sucesso - a maior taxa desde que a reeleição foi permitida no Brasil. Em termos práticos, quase metade das cidades do país optou por manter seus gestores. Em estados como Amapá e Roraima, todos os prefeitos que concorreram novamente conseguiram se reeleger, enquanto Santa Catarina teve o pior desempenho, com apenas 64% de êxito. Isso mostra que, pelo menos no nível municipal, experiência e continuidade ainda são grandes trunfos.
Outro ponto relevante foi o aumento da presença feminina nas prefeituras. Com 730 mulheres eleitas - número que pode chegar a 734 após o julgamento de alguns casos -, o avanço é real, mas ainda é tímido. Apenas 13% das prefeituras terão mulheres no comando. A distribuição também é desigual: enquanto Roraima alcançou 27% de prefeitas eleitas, o Espírito Santo ficou com apenas 3%. Isso revela que, embora existam avanços, a representatividade feminina na política ainda enfrenta grandes desafios.
Uma dúvida que surge é se esses números estão mais ligados à cultura local ou a alianças políticas. A legislação brasileira, vale lembrar, exige proporcionalidade de gênero apenas para candidaturas proporcionais, mas não para cargos majoritários, como prefeitos.
O cenário partidário também trouxe dados interessantes. As eleições confirmaram a força das legendas de centro, com PSD, MDB e PP conquistando o maior número de prefeituras. Por outro lado, mesmo com muitos candidatos em disputa, PT e PL tiveram desempenho mais discreto, sugerindo que a população prefere, neste momento, caminhos menos polarizados.
Esse movimento pode indicar um cansaço do eleitorado com a polarização que se arrasta desde 2018. A disputa constante entre PT e PL pode ter levado muitos eleitores a buscarem estabilidade e moderação. Para se ter uma ideia do impacto, essa rivalidade já dura cinco anos, o dobro do tempo da Guerra da Independência do Brasil, que levou pouco mais de dois anos. A comparação sugere que a população está exausta com embates constantes e quer um cenário político mais tranquilo e previsível.
A política local também mostrou sua força nessas eleições. Em 17 dos 26 estados, o partido do governador conseguiu eleger a maior parte dos prefeitos, reforçando a influência das lideranças estaduais.
Nesse contexto, fica evidente que a interferência das emendas parlamentares desempenhou um papel crucial. Os prefeitos que buscaram reeleição foram beneficiados por deputados e governadores, que, por meio do direcionamento estratégico de recursos, fortaleceram seus caixas e viabilizaram ações que agradaram o eleitorado. Esse apoio reforça que a integração entre as diferentes esferas de governo é um trunfo poderoso, especialmente quando se trata de reeleição e da utilização da máquina pública. Essa dinâmica mostra como o poder econômico e político, amparado pelas emendas, se tornou um fator decisivo para garantir continuidade nas gestões municipais.
O segundo turno, realizado em 51 cidades, trouxe outros dados relevantes. A idade média dos candidatos subiu para 52 anos, indicando que perfis mais experientes foram valorizados nas disputas mais acirradas. Em contrapartida, houve uma queda na participação de mulheres e candidatos negros, mostrando que esses grupos ainda enfrentam obstáculos nas eleições mais competitivas.
Outro fenômeno curioso foi o das candidaturas únicas. Em 223 municípios, apenas um candidato concorreu à prefeitura, um dado que reflete a baixa competitividade em algumas regiões. Esse número é significativo: se compararmos com a divisão por estados, é como se toda a Paraíba não tivesse realizado eleições.
A qualificação dos prefeitos eleitos também chama atenção. Segundo os dados, 89% deles completaram ao menos a educação básica. Esse índice reforça a importância crescente da formação educacional dos gestores, em um momento em que a política está caminhando para se profissionalizar cada vez mais. Embora o Brasil ainda enfrente dificuldades para valorizar a educação como requisito essencial para a gestão pública, está claro que o tempo do amadorismo está ficando para trás.
No fim, as eleições de 2024 revelam um Brasil que valoriza continuidade, mas que também busca equilíbrio e segurança. É como uma criança aprendendo a andar: ela sempre se apoia no que já conhece, para evitar quedas e dores. Depois de anos de escândalos, debates acalorados e polarização política, o eleitorado parece preferir um perfil mais sério e comprometido com a continuidade, buscando um caminho mais seguro e previsível para o futuro.
Com as urnas definindo o comando de 5.528 prefeituras, o grande desafio dos novos gestores será atender às demandas locais e, ao mesmo tempo, manter sintonia com os cenários estadual e nacional. Esse desejo por estabilidade certamente influenciará as eleições gerais de 2026, marcando um novo ciclo político no país.