O STF é a rainha presa no jogo? As PEC 50/23 e 28/24
As PECs 28/24 e 50/23 visam fortalecer o congresso e limitar o STF, refletindo tensões entre os poderes e o ativismo judicial.
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Atualizado às 08:11
A Proposta de EC-PEC 28/24 foi apensada à PEC 50/23. De Reinhold Stephanes - PSD/PR , Mauricio Marcon - PODE/RS , Paulo Litro - PSD/PR e outros foi apresentada em 10/07/24 e acrescenta o art. 97-A e §§4º e 5º da CF/88, para estabelecer o julgamento de referendo de liminares pelo colegiado de tribunal, bem como criar hipótese de sustação de decisão do STF.
Já a PEC 50 altera o art. 49 da CF/88 para estabelecer competência ao Congresso Nacional para sustar, por maioria qualificada dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, decisão do STF transitada em julgado, que extrapole os limites constitucionais. São analisadas conjuntamente e se aprovadas terão efeitos diversos com o grande poderio do Parlamento e o enfraquecimento do sistema de contrapesos que remontam a teoria clássica de Montesquieu.
Contexto
Primeiro devemos contextualizar o porquê de chegarmos a esse ponto. Primeiro, o ativismo do STF se tornou cada vez maior nos últimos anos. Um STF de caráter mais progressista em algumas pautas como aborto, drogas, casamento entre pessoas do mesmo sexo, eleições, etc, bem como os eventos de 8 de janeiro de 2023. Porém, o choque entre os Poderes se tornou muito mais acirrado após o ministro Flávio Dino suspender às emendas ao orçamento. Fruto do sistema do mensalão, às emendas ao orçamento saiu do submundo do Congresso Nacional para se tornar numa pauta institucionalizada nos últimos anos. Além de as "emendas" ao orçamento terem caráter impositivo, o congresso ainda queria impor o dever de cumprimento dentro do ano orçamentário no qual foi aprovado, tendo inclusive derrubado o veto presidencial contra o prazo de cumprimento das emendas em maio.
Judiciário defensor das minorias
Óbvio que um dos grandes problemas democráticos é a decisão da maioria. Os direitos individuais e humanos são balizas para evitar os excessos e sem a possibilidade do Judiciário exercer sua função contramajoritária teríamos muitos prejuízos para as minorias. O ativismo é inicialmente benéfico, mas quando excede compromete também o equilíbrio democrático.
Mas as emendas ao orçamento funcionam como?
Cada parlamentar ou bancada tem um valor para alocar em suas bases na forma de transferências voluntárias da União. Muitas das emendas não têm objetivos claros, nem uma projeto consistente de aplicação, algumas são destinadas a Organizações da sociedade civil, sem controle de sua execução. A prática no âmbito federal se estendeu para Estados e municípios, cujos membros dos parlamentos locais teriam um "pedacinho" do orçamento para "chamar de seu" e apoiar suas áreas e instituições de interesses.
Ao não mais dependerem das benesses do governo para alocar benefícios para suas bases, os parlamentares estavam livres da dependência do executivo.
Essa prática despencou cada vez mais em infortúnios diversos e desvios, noticiados na televisão, fora que constituíam uma desnaturação do orçamento e invasão das atribuições do Poder Executivo, atrapalhando as políticas públicas e a previsão necessária de despesas.
Dino e o fim da festa
A posição de Dino já era esperada. Alguns decisões já vinham se insurgindo contra as emendas ao orçamento. O equilíbrio do sistema é frágil e os jogos de poder são reais e permanentes.
Quem estuda os atores institucionais conhece os dois lados e os errosve acertos de ambos. Mas a atuação do congresso contra o STF pode desequilibrar ainda mais as instituições até porque o Congresso está cada vez mais à direita política.
O resultado imediato dessas eleições locais são significativos para os partido de direita e centro direita que ganharam muitos municípios no Brasil. Fortalecidas e ampliadas as bases desses partidos a pressão sobre o Judiciário vai aumentar.
Outras medidas mais adequadas
Um das medidas adequadas para o STF seria o estabelecimento de um mandato para seus membros. Na alemanha há mandato e Gilmar Mendes é um estudioso da instituição germânica. Hoje os ministros da Suprema Corte só se despedem da casa aos 75 anos. A dinâmica do processo estrutural que está em debate também será importante para que as demandas de massa e de impacto sejam melhor debatidas com a sociedade.
Lira é uma águia!
A inteligência política de Lira e a sua imensa capacidade de articulação são surpreendentes. Oriundo de um dos menores Estado da Federação (Alagoas) e entrincheirado entre os Collor de Melo e Calheiros, ele sabe com maestria mover as peças na Câmara dos Deputados.
Seria o nosso Kinssiger tropical?
O encaminhamento das duas PECs são representativas de seu poder e capacidade de desafiar o Judiciário.
De qualquer forma, pode também frear um pouco do ativismo que colocou o STF como um protagonista histórico privilegiado.
Certo ou não tão certo, Lira sabe que a política se faz de voto e o STF não tem legitimidade popular para muita coisa que vem fazendo.