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O futuro da aposentadoria no Brasil: Estamos preparados para trabalhar até os 78 anos?

Em 2060, o Brasil pode enfrentar aposentadoria aos 78 anos, segundo o Banco Mundial. O envelhecimento rápido e a falta de dados atualizados complicam a reforma previdenciária.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Atualizado às 12:33

Imagine-se com 78 anos, ainda trabalhando, sem a certeza de quando poderá, finalmente, descansar. Pode parecer um cenário distante, mas é exatamente isso que o Banco Mundial projeta para o Brasil em 2060, se nada for feito. O alerta é claro: sem reformas, a idade mínima para aposentadoria pode saltar para 72 anos em 2040 e chegar a 78 anos em 2060. Mas o que está por trás dessa projeção assustadora?

Vamos colocar em perspectiva: o Brasil está envelhecendo em um ritmo acelerado, bem mais rápido do que países como a Europa ou os Estados Unidos. Enquanto a Europa levou 70 anos para duplicar a taxa de dependência - a proporção de idosos sobre a população ativa - o Brasil pode enfrentar essa mudança em apenas 23 anos. Isso significa que teremos menos tempo para ajustar nossas políticas previdenciárias e, talvez, menos margem de manobra do que gostaríamos.

Mas por que essa urgência? Em primeiro lugar, há um "apagão" de estatísticas que dificulta a gestão eficiente da Previdência. Conforme noticiado pela Folha de S.Paulo, o governo brasileiro enfrenta sérios desafios na atualização dos dados previdenciários em meio a uma explosão de benefícios. Sem dados precisos, é como tentar navegar em mares turbulentos sem um mapa. Como garantir que as decisões políticas estejam à altura dos desafios se os números não estão em dia?1

Outro dado preocupante: apenas 56,4% da população economicamente ativa contribuiu para o RGPS - Regime Geral da Previdência Social em 2020, segundo o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2022. Isso significa que quase metade dos trabalhadores brasileiros não está construindo sua aposentadoria através do sistema público. E o que isso nos diz sobre a sustentabilidade da Previdência no longo prazo?2

A comparação com outros países nos ajuda a entender melhor onde estamos. Nos Estados Unidos, por exemplo, um estudo revelou que 25% dos adultos com 50 anos ou mais acreditam que nunca poderão se aposentar devido à falta de segurança financeira. Esse dado é alarmante e nos faz questionar: será que estamos caminhando para um cenário semelhante?3

Evidentemente, o sistema previdenciário não é um problema exclusivamente brasileiro, mas o que torna nossa situação particularmente desafiadora é o ritmo do envelhecimento populacional e a estrutura ainda precária de nossa Previdência. Enquanto alguns países têm sistemas robustos, com forte adesão da população e políticas bem estabelecidas, o Brasil luta para equilibrar um sistema que já mostra sinais de colapso.

Então, o que pode ser feito? O Banco Mundial sugere várias medidas, como equalizar as idades de aposentadoria entre homens e mulheres, eliminar as diferenças entre trabalhadores urbanos e rurais, revisar as contribuições especiais, e rediscutir os benefícios mínimos e as regras de pensão por morte. Mas será que essas mudanças serão suficientes?

A questão aqui é mais profunda: estamos preparados para enfrentar as mudanças que se avizinham? Estamos dispostos a contribuir mais, a trabalhar por mais tempo, e a aceitar reformas que impactarão diretamente nossas vidas? A escolha pode não ser fácil, mas é inevitável. O que está em jogo é o nosso futuro e a segurança financeira que esperamos alcançar.

A realidade é que, sem reformas substanciais, o sonho da aposentadoria pode se tornar uma miragem. E, assim, a pergunta que devemos nos fazer é: estamos prontos para enfrentar essa nova realidade? E mais importante ainda, estamos preparados para agir agora e evitar que esse futuro sombrio se torne uma certeza?

O debate está lançado. O tempo, como sempre, é um recurso que não podemos desperdiçar. Mas enquanto refletimos sobre o futuro da Previdência Social, vale a pena perguntar: estaremos prontos para depender exclusivamente do governo em 2060? Ou será que devemos começar a explorar alternativas, como a bolsa de valores, fundos de renda fixa, ou até mesmo o investimento em imóveis?

A escolha é nossa.

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1 Disponível em: Folha de S.Paulo

2 Disponível em: Anuário Estatístico da Previdência Social

3 Disponível em: InfoMoney

Carlos Renato Santos

VIP Carlos Renato Santos

Advogado Especialista em Direito Previdenciário, Pós-graduado LL.M em Direito e Processo Previdenciário. Atualmente, atua como Assessor Jurídico Eleitoral e é Sócio do escritório Santos & Castro.

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