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Exploração de vídeo em perícias psiquiátricas e psicológicas

Vídeos são essenciais em perícias psiquiátricas e psicológicas forenses, oferecendo dados visuais cruciais para análises de comportamento e relacionamentos em contextos judiciais.

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Atualizado às 09:34

Em perícias e assistência técnica em psiquiatria forense e em psicologia jurídica, o vídeo é um material que pode ser indispensável para coleta e análise de importantes informações sobre o avaliado, seus comportamentos e maneira de se relacionar. Pode auxiliar por exemplo, na análise de perfil criminal, de coerência biográfica, de desempenho neuropsicológico, caso seja ambientado na situação do crime, poderá contribuir para a criminogênese e criminodinâmica, entre outros usos.

Os estudos de vídeos podem ocorrer pelo método do estudo de imagens em movimento, abrangendo os conjuntos de conceitos e técnicas, que orientam a análise de representações sociais no mundo audiovisual, considerando os complexos sentidos, imagens, técnicas, composição de cenas, sequência de imagens e outros1.

A imagem, seja em movimento ou uma fotografia única, com ou sem acompanhamento de som, proporciona um registro expressivo em relevância dos acontecimentos factuais e das ações temporais2, para gerar esclarecimentos necessários.

Além disso, estes recursos oferecem informações visuais, que dispensam descrições escritas ou numéricas e permitem a análise a partir de dados primários, que contemplam fluxos modernos de comunicação3, com importância capital quando as imagens são parte ou totalmente geradoras de demandas judiciais. 

Nestas circunstâncias é imprescindível considerar a complexidade inerente aos recursos audiovisuais, haja vista sua composição amalgamada de sentidos, sequências de cenas, sons, técnicas e composições múltiplas que podem ofertar notórias elucidações.

Desta forma, quem analisa deve ter habilidades que o permitam decodificar as simbologias não verbais desses recursos, analisando e interpretando, a partir de uma fundamentação referencial teórica, os sinais presentes em uma interação humana captada pelos instrumentos audiovisuais4.

Compreende-se que a análise audiovisual extrapola o aspecto do conteúdo, por compreender também o da estrutura5. Ratifica-se a criteriosidade da análise audiovisual, destacando a percepção ou reconhecimento, que são processos naturais aprendidos pelo ser humano e a interpretação da mensagem visual6.

A interpretação constitui o cerne da análise, utilizando-se de fundamentos teóricos, que destrincham a compreensão sob facetas da ciência, teoria funcionalista, subjetividade, estética, dialética e outras, configurando a contextualização, sob forma de revolução vocabular descritiva, das relações entre os dados observáveis7.

O uso da imagem como recurso em análise psicológica remonta aos médicos psiquiatras no século XIX.

Os registros datados da época indicam, que estes profissionais estudavam as produções artísticas por pacientes dos hospitais, que apresentavam transtornos mentais, por meio de uma metodologia comparativa, para elaborar seus diagnósticos8.

Nestes estudos daquela época, apesar de exprimirem uma iniciativa incipiente, construíam-se avaliações por correspondência entre as formas artísticas e estados psicológicos mais rudimentares, como "melancolia", "demência", "megalomania", dentre outros.9

Nas décadas posteriores, as técnicas foram atravessadas por evoluções. O psiquiatra, filósofo e historiador Hans Prinzhorn, por exemplo, incluiu na metodologia análises de tendências repetitivas e simétricas, considerando certos critérios visuais de maneira mais estrutural10.

No hodierno, o estudo sob a ótica audiovisual apresenta inegável impacto no campo da Psicologia Social, reflexo, por exemplo, de campos como as Ciências Humanas e Sociais, marcadas pela predominância da linguagem verbal em seus estudos antropológicos11. Isto não exclui a importância da comunicação não verbal.

Nesse sentido, é factual salientar que a metodologia da análise de imagem pode ser provida pela semiótica sob diversas aplicações, cujo método de leitura imagética propôs quatro níveis de análise: plástico, figurativo, comunicativo e meta comunicativo12.

Então, evidencia-se que as estruturas discursivas e visuais compartilham ligações despercebidas, pois a leitura é construída a partir de campos visuais. Além disso, ambas são suportes de informações formadas por fragmentos que, idos por uma lógica coesa e coerente, formam o produto carregado de significados13.

Assim, apreende-se a relevância de perceber e analisar imagens como progressões textuais de informações, associando cada fotografia a uma totalidade discursiva e reunindo todas essas progressões e fragmentos, para a compreensão dos sentidos, que a cena expressa, demandando além de estratégias discursivas14.

Em suma, as partes do material em áudio e vídeo utilizadas como fontes que expressam o discurso do sujeito, têm sido optadas como escolhas metodológicas, por considerável número de cientistas em pesquisas qualitativas, pois se propõem a contemplar o fenômeno complexo, que os discursos e as imagens estão presentes.

Esta metodologia vem sendo adotada nos últimos anos em progressões cada vez mais frequentes em função dos adventos tecnológicos, os quais vislumbram modificar diversos sistemas e processos, para proporcionar facilidades e diversidades de opções15.

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1 ROSE, D. Análise de imagens em movimento. In: Bauer MW, Gaskell G, editores. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. 10ª ed. Petrópolis (RJ): Vozes; 2002.

2 BAUER, M. W; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002.

3 BAUER, M. W; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Petrópolis: Vozes, 2002.

4 PINHEIRO, E. M., KAKEHASHI, T. Y e ANGELO, M. O uso de filmagem em pesquisas qualitativas. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 13, n. 7, p. 717-22, 2005.

5 PINHEIRO, E. M., KAKEHASHI, T. Y e ANGELO, M. O uso de filmagem em pesquisas qualitativas. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 13, n. 7, p. 717-22, 2005.

6 ORTIGUES, Edmond. Interpretação. IN: Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1987, v. II, pp.218-233 apud VICENTE, Tania Aparecida de Souza. Metodologia da análise de imagens. In: Revista Contracampo. Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. Niterói: n. 4, p. 147-158, 2000.

7 ORTIGUES, Edmond. Interpretação. IN: Enciclopédia Einaudi. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1987, v. II, pp.218-233 apud VICENTE, Tania Aparecida de Souza. Metodologia da análise de imagens. In: Revista Contracampo. Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal Fluminense. Niterói: n. 4, p. 147-158, 2000.

8 FIGUEIRA, Emílio; AMARANTE, Marina Colombo; BELANCIEIRI, Maria de Fátima. O pioneirismo como espelho: o uso da arte por psicólogos em ambientes hospitalares. Psicol. hosp. (São Paulo Roberto), São Paulo Roberto, v.5, n.1, p.100-113, 2007. 

9 ANDRIOLO, Arley. O método comparativo na origem da psicologia da arte. Psicologia USP, 17(2), p. 43-57, 2006.

10 ROSA, A. R.; CRUZ, F. S.; EMERIM, C. Estudos preliminares sobre Metodologias de Análise de Imagens em movimento no jornalismo., 2018.

11 ROSA, A. R.; CRUZ, F. S.; EMERIM, C. Estudos preliminares sobre Metodologias de Análise de Imagens em movimento no jornalismo., 2018.

12 MEDINA FILHO, A. L. Importância das imagens na metodologia de pesquisa em psicologia social. Revista Psicologia & Sociedade, 25(2), 2013, p. 263-271. 

13 LUSTOSA, S. C. Análise de Discurso Crítica e a análise da imagem em movimento: uma aproximação teórica.  Revista Interfaces, v. 8, n. 1, 2017.

14 LUSTOSA, S. C. Análise de Discurso Crítica e a análise da imagem em movimento: uma aproximação teórica.  Revista Interfaces, v. 8, n. 1, 2017.

15 PINHEIRO, E. M., KAKEHASHI, T. Y e ANGELO, M. O uso de filmagem em pesquisas qualitativas. Revista Latino-Americana de Enfermagem, v. 13, n. 7, p. 717-22, 2005.  

Thaiéle Teixeira

Thaiéle Teixeira

Psicóloga inscrita no CRP/RS sob nº 07/39.939. Graduada em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Mestranda em Psicologia no grupo de pesquisa Avaliação e Intervenção no Ciclo Vital (AICV) na PUC/RS.

Ana Carolina Schmidt de Oliveira

Ana Carolina Schmidt de Oliveira

Psicóloga (PUC Campinas e UNIR Espanha), especialista em dependência química (UNIFESP), máster em psicologia lega e forense (UNED Espanha).

Elise Karam Trindade

Elise Karam Trindade

Elise Karam Trindade, psicóloga inscrita no CRP sob nº 07/15.329; especialista em Psicologia Jurídica e Neuropsicologia. Coordenadora da equipe de Psicologia Jurídica da Vida Mental.

Hewdy Lobo

VIP Hewdy Lobo

Psiquiatra Forense (CREMESP 114681, RQE 300311), Membro da Comissão de Saúde Mental da Mulher da Associação Brasileira de Psiquiatria. Atuação como Assistente Técnico em avaliação da Sanidade Mental.

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