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As ("novas") responsabilidades e missões do conselho de administração

A pesquisa do IESE discute os desafios atuais dos Conselhos de Administração diante das disrupções nos negócios, como mudanças climáticas e tecnológicas, enfatizando a necessidade de adaptação rápida e eficaz das empresas.

quinta-feira, 4 de julho de 2024

Atualizado às 07:12

Ao desenvolvermos nossas atividades de membro do conselho de administração de vários clientes, nos deparamos com os novos desafios e demandas decorrentes do desenvolvimento dos negócios empresariais.

Assim, muito oportuno a pesquisa realizada pelo IESE, cujo título já aborda e define os desafios dos Conselhos de Administração para 2024.

"How can boards improve their effectiveness? 2024 IESE survey on board of directors - jun/24".

O cenário de negócios está passando por grandes disrupções, incluindo mudanças climáticas, transição energética, inteligência artificial e tensões geopolíticas. As empresas precisam se adaptar rápida e efetivamente a essas disrupções para sobreviver. Os conselhos de administração têm o dever de ajudar suas empresas e trabalhar com o CEO e a alta administração para orientar a empresa e contribuir para seu desenvolvimento de longo prazo e criação de valor de maneira sustentável.

Neste novo contexto, é importante entender como a missão e as funções do conselho de administração estão mudando. No relatório do IESE, foram apresentados os resultados de uma recente sondagem exaustiva dos diretores dos conselhos de administração sobre a forma como encaram estas quatro áreas críticas com um grande impacto no futuro das suas empresas: a) finalidade e cultura das empresas; b) conselhos em ação: c) competências e dinâmica dos conselhos de administração; d) CEO desenvolvimento de liderança e planos de sucessão; e) o conselho em estratégia corporativa e geopolítica. Ao perguntar aos diretores suas opiniões sobre essas áreas, podemos obter respostas qualitativas sobre algumas das funções críticas e tarefas dos conselhos de administração no atual contexto disruptivo.

Para reflexão, destacamos os principais temas e conclusões do relatório, refletindo sobre a eficácia dos conselhos de administração e os desafios enfrentados no contexto corporativo atual.

  • Propósito corporativo: A maioria dos diretores devem verificar se suas empresas possuem um propósito corporativo formal e escrito, focado principalmente em pessoas e clientes. O propósito está bem integrado à estratégia e às políticas corporativas.
  • Cultura corporativa: Confiança, transparência, ambiente colaborativo e meritocracia são considerados os aspectos mais importantes da cultura corporativa, influenciando fortemente as decisões de contratação e desenvolvimento de pessoas, incluindo a seleção do presidente e do CEO.
  • Competências do Conselho: Liderança, estratégia e colaboração em equipe são consideradas competências importantes para os membros do conselho. A integridade, a confiabilidade e pensamento crítico são habilidades pessoais essenciais para a eficácia do conselho.

Dinâmica do conselho: A eficácia do conselho é atribuída a competências profissionais e habilidades interpessoais dos diretores, sugerindo que características estruturais do conselho definidas por reguladores e gestores de ativos são insuficientes sem considerar a dinâmica do conselho e as dimensões humanas na tomada de decisões:

  • Planejamento de sucessão do CEO: A sucessão do CEO é um processo complexo e crítico, com muitas empresas não tendo planos formais de sucessão. A motivação e o engajamento das pessoas são considerados capacidades-chave de liderança para um CEO.
  • Estratégia corporativa e geopolítica: A competição intensa e as disrupções tecnológicas são forças principais que levam as empresas a reconsiderar suas estratégias. A estratégia é mais presente nas discussões do conselho do que antes, e os diretores reconhecem a importância de entender os clientes e considerar os riscos geopolíticos nas decisões estratégicas. Os conselhos devem reagir positivamente a essas forças. A geopolítica também é um fator relevante, embora haja diferenças na percepção de sua importância entre empresas listadas e não listadas.

Em paralelo, não podemos deixar de mencionar as principais tendências em governança corporativa, que se somam as responsabilidades dos executivos das empresas, para desenvolvimento e construção de valor de maneira sustentável.

As principais tendências em governança corporativa para 2024 são:

  • Sustentabilidade e ESG: A sustentabilidade e os critérios ESG (Environmental, Social, and Governance) continuam sendo uma prioridade. Há um aumento na adoção de relatórios ESG padronizados e na implementação de estratégias de longo prazo focadas na sustentabilidade.
  • Diversidade e inclusão: A diversidade é vista como um imperativo de negócios, com empresas mais diversas sendo mais inovadoras e apresentando melhor desempenho financeiro. As empresas estão implementando políticas claras para promover a inclusão e criar programas de desenvolvimento para minorias.
  • Transparência e responsabilidade: A demanda por transparência e responsabilidade está crescendo. Investidores e o público em geral exigem mais clareza sobre as práticas empresariais e políticas de remuneração dos executivos. A divulgação proativa e a comunicação aberta são essenciais para construir confiança e proteger a reputação corporativa1.
  • Cibersegurança: A proteção contra ameaças digitais é crucial, com as empresas fortalecendo suas políticas e infraestruturas de segurança cibernética.
  • GRC - Gestão de Riscos e Compliance: As empresas estão aprimorando suas práticas de gestão de riscos e compliance para se adaptarem ao cenário regulatório em constante mudança.
  • Digitalização da governança: A transformação digital está influenciando a governança corporativa, com a adoção de tecnologias para melhorar a eficiência e a tomada de decisões.

A expressão ESG ou ASG, em sua versão nacionalizada, vem sendo utilizada desde o início dos anos 2.000, para traduzir a modernização da sustentabilidade ou um novo modelo de negócios, calcado em um conjunto de ações, práticas ou iniciativas para que se alcance o desenvolvimento sustentável das empresas, aliando maior rentabilidade, respeito à saúde, qualidade de vida e um meio ambiente equilibrado, bem como práticas empresariais voltadas para a ética e o compliance.

Fundados nestes 3 Pilares, resultantes do acrônimo ESG: E (Environmental ou Meio ambiente), S (Social) e G (Governance ou Governança) os novos projetos socioambientais estão olhando para seu público-alvo, que vem mudando ao longo dos últimos 10 anos.

São investidores, consumidores e até empregados (novos talentos) que vêm buscando um novo olhar para as empresas e seus produtos e práticas, dentro e além de seu "chão de fábrica".

Tudo isso passa pelos relacionamentos com o meio ambiente, a sociedade, a escolha de fornecedores e as práticas laborais dentro da empresa, a Escola de Negócios de Navarra, mais conhecida pela sigla IESE, vem propondo adicionar à sigla ESG a letra P, para justificar a inclusão de pessoas no desafio das empresas em geral.

Essas tendências refletem a evolução contínua da governança corporativa e a necessidade das empresas de se adaptarem às expectativas dos stakeholders e às mudanças no ambiente de negócios.

Em suma, os resultados da pesquisa refletem o crescente engajamento e as novas responsabilidades dos diretores do conselho para ajudar suas empresas a enfrentar desafios estratégicos relevantes. Ao mesmo tempo, dados da pesquisa sugerem que em algumas áreas, como processo de transição de CEO e estratégia corporativa, os conselhos de administração podem e devem agregar mais valor às suas empresas.

Ronaldo Corrêa Martins

VIP Ronaldo Corrêa Martins

Fundador e CEO do Escritório RONALDO MARTINS & Advogados, fundado em 22/03/1990. Formado em: Ciências Econômicas, Ciências Contábeis e Direito.

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