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Para ser lido em voz baixa

Professor universitário expressa preocupação com a restrição da liberdade de expressão e diversidade de pensamento nas instituições de ensino. Alerta para o risco do "politicamente correto" se tornar "ditatorialmente correto", limitando debates e o avanço científico.

quinta-feira, 18 de abril de 2024

Atualizado em 17 de abril de 2024 16:02

Dias atrás encontrei um professor de faculdade. E a ótima conversa evoluiu para um papo sobre a sua frustração de lecionar nos tempos atuais. Hoje em dia, dizia ele, admite-se todo tipo de diversidade, menos a de pensamento. E a universidade, que deveria ser o palco máximo da liberdade de expressão, converteu-se em lugar de vigília e intimidação.

Cuidado ao falar de raça, cuidado ao não falar de raça, cuidado ao falar de gênero, cuidado ao não identificar gêneros, cuidado ao falar de características físicas, cuidado ao ignorá-las, cuidado ao falar sobre ideologia e política, cuidado para não parecer alienado politicamente; cuidado ao cobrar bom desempenho acadêmico, cuidado ao reconhecer quem o tem (e quem não o tem).

Os tempos modernos querem abraçar as diferenças, desde que estejamos todos de acordo sobre quais são as diferenças endereçáveis, ou sobre qual a melhor forma de abordá-las. E somos tão inclusivos que não pensamos duas vezes em linchar publicamente aqueles que ousam expressar um contraponto, tecer uma crítica ou trazer ao debate uma visão polêmica. O cidadão será cancelado, sem chance de defesa ou contraditório. E merecerá arder na fogueira, junto com outras bruxas já queimadas.

Receio que estejamos perigosamente caminhando para longe do Iluminismo e de volta à idade das trevas, gradativamente confiscando um dos maiores patrimônios da sociedade evoluída: a liberdade de expressão. Só que agora trucidamos as divergências "em nome do bem" e não mais em nome de Deus.

A noção de politicamente correto pressupõe - antes de tudo - ser político (e a dialética é elemento nuclear da política). Temo, contudo, que estejamos rumando para o ditatorialmente correto. Salvemo-nos, portanto, do homem massa e da homogeneização do pensamento. Quero lugar de fala para as minorias que exercem o ato subversivo de pensar. Temo pela ciência, se esse almejado "bem comum" for monocórdio. A ciência é problemática por definição. Aliás, tenho tanto medo desse policiamento que escrevo esta coluna para que seja lida em voz baixa...

Fabio Brun Goldschmidt

VIP Fabio Brun Goldschmidt

Sócio Administrador do Andrade Maia, fundador e coordenador da área tributaria. Mestre e Doutor em Direito Tributário.

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