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Da fiscalização à estratégia: A evolução do TCU na dinâmica de planejamento e avaliação das políticas públicas no brasil

TCU reconfigurado e PPA reformulado marcam uma nova era na governança pública, com foco na eficiência, transparência e participação social.

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Atualizado às 13:44

A governança pública no Brasil enfrenta o desafio contínuo de alinhar o planejamento e a execução de políticas públicas com as expectativas sociais e os objetivos de desenvolvimento sustentável. Neste contexto, a evolução do papel do Tribunal de Contas da União emerge como um elemento central para entender as dinâmicas de regulação e avaliação de políticas públicas. Tradicionalmente focado no controle de legalidade e na fiscalização da aplicação dos recursos públicos, o TCU tem expandido seu espectro de atuação, assumindo uma postura mais estratégica que enfatiza a eficiência, a eficácia e a transparência na gestão pública (Ribeiro e Jordão, 2018; Marques Neto e Palma, 2020). Esta transformação reflete uma resposta institucional às demandas por maior "accountability" e impacto social das políticas públicas, colocando o TCU como um agente catalisador de mudanças na administração pública.

Em paralelo, o Plano Plurianual se posiciona como um instrumento de planejamento essencial, projetado para orientar a alocação de recursos e a implementação de políticas ao longo de um período de quatro anos. No entanto, a análise do TCU sobre as edições anteriores do PPA revela uma série de fragilidades que comprometem sua eficácia como ferramenta de planejamento estratégico (Kanayama, 2024). A identificação de indicadores de desempenho inadequados e metas desalinhadas com as prioridades estratégicas do país exemplifica os desafios enfrentados na promoção de um desenvolvimento social e econômico mais inclusivo e sustentável. Essa problemática destaca a importância crítica de uma abordagem integrada e revisada no planejamento e avaliação das políticas públicas, sublinhando o papel evolutivo do TCU na garantia de que o planejamento governamental reflita genuinamente as aspirações e necessidades da sociedade brasileira.

A evolução do papel do TCU na avaliação de políticas públicas

A transformação do TCU em uma força ativa na avaliação de políticas públicas representa um marco na história da governança pública brasileira. Evoluindo de uma instituição focada primordialmente na fiscalização da legalidade e regularidade das contas públicas, o TCU tem ampliado seu papel para atuar também como um facilitador essencial no desenvolvimento e na implementação eficaz de políticas públicas. Este desenvolvimento, analisado por Kanayama 2024, sinaliza uma resposta institucional às crescentes demandas por uma gestão pública que não só atenda aos critérios de legalidade, mas que também promova a eficiência, a transparência e o impacto social. Marques Neto e Palma 2020, juntamente com Ribeiro e Jordão 2018, reconhecem essa expansão de responsabilidades como uma transição do TCU para um papel de gestor público, sublinhando sua influência significativa na otimização da administração pública e na eficácia do uso dos recursos públicos.

Na análise meticulosa do PPA para o período de 2024/2027, o TCU identificou deficiências cruciais que necessitam de atenção imediata para realçar a função do PPA como um verdadeiro instrumento de planejamento estratégico. As principais questões destacadas incluem a falta de indicadores de desempenho precisos, a inadequação dos mecanismos de monitoramento e avaliação existentes, e a desconexão entre o planejamento e os orçamentos anuais, conforme discutido por Kanayama 2024. Essas críticas apontam para a necessidade urgente de reformular a maneira como os objetivos e metas são estabelecidos, assegurando sua relevância e alinhamento com as necessidades e prioridades nacionais.

Para endereçar essas lacunas, o TCU propõe uma série de melhorias estratégicas, enfatizando a criação de indicadores de desempenho que sejam não apenas claros, mas também mensuráveis e alinhados com as metas estratégicas do país. Ademais, sugere-se o fortalecimento dos sistemas de monitoramento e avaliação para permitir uma análise mais aprofundada do progresso das políticas públicas e a promoção de uma integração mais coesa entre o planejamento plurianual e os orçamentos anuais. Essas ações visam garantir que as prioridades estabelecidas no PPA sejam refletidas adequadamente nas decisões orçamentárias, fortalecendo a coerência e continuidade das políticas públicas.

A atuação proativa do TCU, através de auditorias significativas e análises detalhadas da gestão fiscal, emerge como um catalisador fundamental na busca por um orçamento público que verdadeiramente sirva aos interesses da sociedade. Exemplos notáveis incluem a avaliação da alocação de recursos em áreas vitais como educação e saúde, bem como a análise da sustentabilidade fiscal do país. Essas iniciativas não apenas destacam áreas críticas que necessitam de intervenção, mas também propõem ajustes estruturais que podem levar a uma governança mais eficaz e orientada para resultados.

Além disso, a interação entre o TCU, outros órgãos de controle e a sociedade civil reforça o valor do controle externo como um mecanismo para aprofundar a democracia e fomentar uma cultura de transparência e responsabilidade. Através de diversas formas de engajamento público, como audiências e consultas, o TCU se esforça para incorporar uma ampla gama de perspectivas na avaliação das políticas públicas, contribuindo para uma administração mais inclusiva e responsiva às demandas dos cidadãos.

O PPA como instrumento de planejamento

O PPA, no cerne da administração pública brasileira, estabelece o quadro para o planejamento de médio prazo, delineando diretrizes, objetivos e metas governamentais para um ciclo de quatro anos. Esse instrumento estratégico visa não apenas alinhar as ações governamentais às expectativas e necessidades da sociedade, mas também promover uma gestão pública marcada pela eficiência e eficácia, conforme destacado por Kanayama 2024. O PPA, portanto, emerge como uma ferramenta vital para a orientação precisa da alocação dos recursos públicos, garantindo que estes reflitam as prioridades estratégicas nacionais e contribuam para o desenvolvimento sustentável e inclusivo do país.

Nessa direção, o TCU tem exercido um papel fundamental na revisão e análise crítica das versões anteriores do PPA, identificando uma série de falhas que exigem atenção e correção. As análises profundas realizadas pelo TCU revelaram lacunas significativas, como a falta de indicadores de desempenho claramente definidos, a inadequação dos mecanismos de monitoramento e avaliação e a desconexão entre o planejamento estabelecido pelo PPA e as práticas orçamentárias anuais (Kanayama, 2024). Essas deficiências não só complicam a medição efetiva do avanço das políticas públicas, mas também comprometem a capacidade do governo de ajustar e otimizar suas estratégias ao longo da execução do PPA.

Em resposta a esses desafios, o TCU propõe uma série de aprimoramentos destinados a fortalecer o PPA como um instrumento de planejamento estratégico mais eficaz. Dentre as recomendações, destaca-se a necessidade de desenvolver indicadores de desempenho mais precisos e alinhados com os objetivos estratégicos do governo, garantindo uma avaliação mais acurada das metas. Adicionalmente, a implementação de sistemas robustos de monitoramento e avaliação é sugerida como meio de assegurar um acompanhamento contínuo e efetivo das políticas, permitindo intervenções tempestivas para correção de rota. A ênfase na integração entre o planejamento plurianual e os orçamentos anuais ressalta a importância de uma alocação de recursos que efetivamente espelhe as prioridades definidas no PPA, promovendo assim a coerência e a continuidade das iniciativas governamentais ao longo do tempo (Kanayama, 2024).

Essas medidas propostas pelo TCU são fundamentais para transcender as limitações atuais e posicionar o PPA como um verdadeiro catalisador do progresso nacional, alinhando as ações governamentais com as metas de longo prazo de desenvolvimento social e econômico. Ao adotar essas recomendações, espera-se que o governo possa otimizar a gestão pública, elevando a transparência, a responsividade e a eficácia das políticas públicas em benefício de toda a sociedade brasileira.

Conclusão

A reconfiguração do TCU como um vetor estratégico na avaliação e aprimoramento das políticas públicas brasileiras, juntamente com a reformulação do PPA como eixo central do planejamento estratégico nacional, marca uma era de transição na governança pública no Brasil. Esta transformação não apenas reflete a adaptabilidade e a resposta do TCU às necessidades emergentes de uma gestão pública mais eficiente e transparente, mas também evidencia a importância de ferramentas de planejamento como o PPA, que devem ser robustas, estratégicas e alinhadas com os objetivos de desenvolvimento sustentável e inclusivo do país. Através das análises críticas e das recomendações propostas pelo TCU, conforme delineado por Kanayama 2024, emerge um caminho para a melhoria contínua do planejamento e execução das políticas públicas, sublinhando a necessidade de indicadores de desempenho precisos, sistemas efetivos de monitoramento e avaliação, e uma integração coesa entre planejamento e orçamento.

Por outro lado, a interação proativa do TCU com outros órgãos de controle e a sociedade civil ilustra um compromisso com a ampliação da transparência, a responsabilidade e a participação social no processo de governança. Esta abordagem não só fortalece o papel do controle externo como um instrumento de cidadania, conforme destacado por Marques Neto e Palma 2020, mas também assegura que as políticas públicas estejam efetivamente alinhadas com as necessidades da população e os princípios de justiça social. Em última análise, as iniciativas do TCU e as reformulações propostas para o PPA são passos vitais para assegurar que a alocação dos recursos públicos no Brasil seja feita de maneira que maximize o bem-estar social e promova um desenvolvimento equitativo e sustentável, reafirmando o compromisso do país com uma administração pública que é não apenas eficaz, mas também inclusiva e responsiva às demandas de sua sociedade.

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KANAYAMA, Rodrigo Luís. "Papel do TCU na avaliação de políticas públicas." Jota, 14 fev. 2024. Disponível em: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/controle-publico/papel-do-tcu-na-avaliacao-de-politicas-publicas-14022024.

MARQUES NETO, Floriano de Azevedo; PALMA, Juliana Bonacorsi de. "Diálogos fora de esquadro: o controle das agências reguladoras pelo Tribunal de Contas da União." Revista Brasileira de Estudos Políticos, n. 120, pp. 203-236, jan./jun. 2020.

RIBEIRO, Mauricio Portugal; JORDÃO, Eduardo. "O TCU atua como gestor público, tratemo-lo como tal." Jota, 13 nov. 2018. Disponível em: https://www.jota.info/tributos-e-empresas/regulacao/o-tcu-atua-como-gestor-publico-tratemo-lo-como-tal-13112018.

Thiago Roberto Aparecido Marcelino Ferrarezi

Thiago Roberto Aparecido Marcelino Ferrarezi

Advogado especialista em Direito do Estado pela UFRGS e Licitações e Contratos Administrativos pela USP. Mestre em Administração Pública pela FGV. Doutorando em Inteligência Artificial na PUC-SP.

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