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Transparência e ética no monitoramento das redes sociais pelo governo: A necessidade de regras claras

Monitoramento de redes sociais pelo governo levanta questões sobre privacidade e transparência, destacando a necessidade de regulamentação clara e definida.

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Atualizado às 08:02

No atual cenário de governança e transparência pública, a questão do monitoramento das redes sociais por parte do governo suscita importantes reflexões sobre privacidade, uso de dados e accountability. À luz das recentes revelações sobre as práticas de monitoramento da Secom - Secretaria de Comunicação da Presidência do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, torna-se imperativo discutir a necessidade de regras claras e bem definidas que regulem essas atividades. 

A prática de monitorar as redes sociais para avaliar a recepção de programas e ações governamentais é, sem dúvida, uma ferramenta valiosa para ajustar políticas públicas e melhorar a comunicação com a população. Contudo, a falta de transparência e a ausência de registros dessas atividades, conforme reportado, levantam preocupações significativas. A legislação atual, incluindo a LAI - Lei de Acesso à Informação, fundamenta-se na premissa de que as ações do governo devem ser abertas e acessíveis ao escrutínio público para promover a confiança e a eficácia na administração pública. 

Diante disso, é essencial que o governo estabeleça diretrizes claras sobre quais dados serão coletados nas redes sociais, como esses dados serão utilizados para aprimorar as políticas públicas e se haverá monitoramento específico de pessoas ou grupos econômicos. A transparência sobre se essas pessoas ou grupos estarão cientes do monitoramento é crucial para manter a ética e a confiança na relação entre governo e cidadãos. 

Além disso, é fundamental questionar se os dados coletados nesse processo de monitoramento serão tornados públicos. A publicidade desses dados não apenas fortaleceria os princípios de transparência e accountability, mas também possibilitaria um diálogo mais aberto e construtivo entre o governo e a sociedade civil sobre as políticas públicas e sua recepção. 

Em síntese, enquanto o monitoramento das redes sociais por governos pode oferecer insights valiosos para a melhoria das políticas públicas, é imperativo que esse monitoramento seja conduzido dentro de um quadro de regras claras, transparentes e responsáveis. A criação de um ambiente de governança digital que respeite a privacidade dos cidadãos e promova a transparência governamental não é apenas desejável, mas essencial em uma sociedade democrática. 

No cenário político e social atual, onde a tecnologia desempenha um papel cada vez mais central na vida cotidiana, a prática de monitoramento das redes sociais pelo governo ganha destaque e gera debates. Especificamente, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem mantido em sigilo os detalhes e dados de seu monitoramento das redes sociais, conforme revelado recentemente. Essa postura de confidencialidade suscita questões importantes sobre privacidade, transparência governamental e o direito dos cidadãos de estar informados sobre as práticas e políticas que afetam diretamente suas vidas. A falta de clareza e a ausência de divulgação dos registros de monitoramento não apenas obscurecem o entendimento público dessas práticas, mas também levantam preocupações sobre os princípios democráticos de accountability e a necessidade de regras claras que governem tais atividades. 

A paradoxal falta de guarda de dados no monitoramento das redes sociais

Em meio a debates sobre transparência e ética no monitoramento das redes sociais pelo governo, a Secom defende uma prática peculiar: a realização de monitoramento sem a consequente guarda dos dados coletados. Essa abordagem suscita uma questão fundamental sobre a eficácia e o propósito do monitoramento de redes sociais realizado pelo governo. Sem a manutenção de registros, torna-se desafiador compreender como essas informações podem ser utilizadas de maneira significativa para aprimorar políticas públicas ou entender a recepção das ações governamentais pelo público. 

A falta de armazenamento de dados impede que análises estatísticas robustas sejam conduzidas sobre tendências, sentimentos e a eficácia das comunicações governamentais ao longo do tempo. Isso limita severamente a capacidade do governo de fazer ajustes informados e baseados em evidências em suas políticas e estratégias de comunicação. Além disso, a ausência de registros tangíveis contraria os princípios de transparência e accountability, já que impossibilita a verificação independente das práticas de monitoramento e dos critérios utilizados para tal. 

Esse cenário coloca em xeque a própria utilidade do monitoramento das redes sociais pelo governo, levantando dúvidas sobre a possibilidade de alcançar os objetivos declarados de melhorar a governança, a gestão de campanhas publicitárias e a integridade das informações. Sem dados para analisar e estudar, a prática de monitoramento corre o risco de se tornar uma ferramenta subutilizada, incapaz de contribuir efetivamente para o desenvolvimento de políticas públicas mais responsivas e alinhadas com as necessidades e percepções da população. 

A importância da regulação das plataformas digitais para a proteção da dignidade dos cidadãos

É indubitavelmente louvável a iniciativa de regulamentar as plataformas digitais com o objetivo de remover conteúdos ilícitos de forma mais ágil e eficiente. Esta medida se mostra fundamental não apenas para salvaguardar a integridade de autoridades, mas também para proteger o cidadão comum, cuja honra e dignidade frequentemente se encontram vulneráveis diante de mensagens falsas, deepfakes, montagens criminosas, e outras práticas nefastas que atentam contra a dignidade humana.  

A velocidade e a facilidade com que informações podem ser disseminadas nas redes sociais amplificam o potencial de danos causados por conteúdos difamatórios e falsos, que podem destruir reputações em questão de horas, sem qualquer base na realidade. Portanto, a regulação eficaz dessas plataformas é um passo crucial para criar um ambiente digital mais seguro e respeitoso, onde a dignidade do cidadão brasileiro é protegida contra ataques infundados e maliciosos. 

Além de contribuir para a proteção individual, tal regulação reforça o compromisso com a verdade e a ética no espaço digital, criando precedentes para que informações falsas e práticas criminosas sejam combatidas com a devida seriedade. Assim, ao garantir a remoção rápida de conteúdos prejudiciais, não só se defende a honra e a dignidade das pessoas, mas também se promove uma cultura digital de responsabilidade e respeito mútuo. 

Ao defender a honra de um cidadão, estamos protegendo a dignidade de toda a sociedade. Afinal, a honra e a vida de uma pessoa não são menos valiosas que as de outra.

Conclusão

A transparência, o armazenamento adequado e a análise criteriosa das informações coletadas em redes sociais são pilares fundamentais para uma governança digital eficaz e ética. Estes princípios não são apenas essenciais para garantir a integridade e prestação de contas das ações governamentais e fomentar a confiança pública; eles são também cruciais para criar um ambiente digital seguro e propício ao desenvolvimento saudável de crianças e adolescentes. Além disso, são ferramentas indispensáveis na luta contra as fake news e o discurso de ódio, problemas que desafiam a coesão social e minam o debate democrático. 

O monitoramento das redes sociais, quando realizado dentro de um quadro ético de transparência e com o devido respeito à privacidade, pode servir como um instrumento vital para identificar e combater conteúdos prejudiciais. Isso inclui proteger os mais jovens de exposições nocivas e garantir que o espaço cibernético seja um ambiente inclusivo, onde a diversidade de opiniões possa florescer sem temor de perseguição ou represália. O objetivo é cultivar um espaço onde o debate democrático seja pautado pelo respeito mútuo, e não pela animosidade. 

Neste contexto, a educação digital emerge como um componente indispensável, capacitando o cidadão brasileiro a navegar pelas complexidades das interações online de maneira responsável e informada. Aprender a discutir política e diferenças de opinião sem recorrer ao ódio, mas sim vendo o outro como um concidadão que também sonha e luta por seus ideais, é fundamental para construir uma sociedade mais justa, democrática e unida. O monitoramento das redes sociais, se bem conduzido, pode ser uma ferramenta poderosa para promover essa visão, encorajando um diálogo construtivo e o entendimento mútuo. 

Coriolano Aurélio de Almeida Camargo Santos

VIP Coriolano Aurélio de Almeida Camargo Santos

Advogado e Presidente da Digital Law Academy. Ph.D., ocupa o cargo de Conselheiro Estadual da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção São Paulo (OAB/SP), com mandatos entre 2013-2018 e 2022-2024. É membro da Comissão Nacional de Inteligência Artificial do Conselho Federal da OAB. Foi convidado pela Mesa do Congresso Nacional para criar e coordenar a comissão de Juristas que promoveu a audiência pública sobre a criação da Autoridade Nacional de Proteção de Dados, realizada em 24 de maio de 2019. Possui destacada carreira acadêmica, tendo atuado como professor convidado da Università Sapienza (Roma), IPBEJA (Portugal), Granada, Navarra e Universidade Complutense de Madrid (Espanha).

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