O mundo do trabalho e sua silenciosa transformação
A pandemia redefine o trabalho: o crescimento do home office destaca a possibilidade de alta produtividade com menos horas. Grandes empresas do Vale do Silício, inicialmente remotas, agora buscam o retorno aos escritórios.
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
Atualizado às 08:51
A pandemia mudou radicalmente nossa concepção de trabalho.
Se alguns veem as evoluções dos últimos anos como uma ameaça à produtividade, outros captaram a oportunidade de reconsiderar a noção de 'tempo de trabalho'.
Vejamos:
O crescimento sem precedentes do trabalho remoto iluminou uma evidência: é possível manter uma produtividade elevada trabalhando menos.
Estaríamos nós presenciando os prenúncios de uma nova era onde a noção de tempo de trabalho seria consideravelmente reduzida?
Ora,
As grandes empresas do Vale do Silício foram as primeiras a adotar o trabalho à distância no início da pandemia.
Três anos depois, a indústria de tecnologia multiplica e envida esforços para "repatriar" seus empregados (back to the offices) ao escritório.
Exemplo dessa realidade: Google, que recentemente teria irritado seus colaboradores ao deles exigir a presença no escritório três dias por semana.
Enquanto isso, para o Meta, a Amazon, v.g., centenas de empregados entraram em greve para expressar seu descontentamento. Tais movimentos demonstram que a transição para um modelo híbrido agora parece ser um fato consumado.
O TELETRABALHO, UM LEGADO DURADOURO?
De acordo com pesquisadores da prestigiada Universidade de Stanford, a adoção do teletrabalho permanecerá como um dos legados duradouros da pandemia. Antes da crise, cerca de 5% da força de trabalho americana trabalhava em casa. Este número saltou para mais de 60% durante a crise e agora está em cerca de 30%.
Essa evolução influenciou o mercado imobiliário, incluindo em nossas metrópoles e cidades.
Atualmente, muitos trabalhadores estão deixando os centros urbanos em busca de moradias mais espaçosas situadas nos arredores das grandes cidades.
E, surpreendentemente, a democratização da Internet e a inteligência artificial fazem com que convivamos formas de entender o trabalho, tornando-o mais autônomo e incorporando tarefas em nosso cotidiano.
Suas aplicações aumentaram a produtividade e liberaram precioso tempo para os empregados.
As tarefas repetitivas de alto valor agregado, como o processamento de dados, por exemplo, encontram-se em processo de automação.
'Muitos trabalhadores estão deixando os centros urbanos em busca de moradias mais espaçosas situadas em seus arredores.'
O cenário acima, embora pareça futurista, levanta questões fundamentais sobre a natureza do trabalho, o valor do indivíduo na sociedade e a maneira como definimos o sucesso, o êxito e a felicidade.
Que possamos antecipar e preparar desde já essa potencial transição, garantindo que os benefícios da tecnologia sejam compartilhados igualmente e que seja dado a todos a liberdade e os meios para escolher seu próprio caminho.
Gilda Figueiredo Ferraz de Andrade
Advogada, sócia fundadora do escritório Figueiredo Ferraz Advocacia. Graduação USP, Largo de São Francisco, em 1.981. Mestrado em direito do trabalho - USP. ExConselheira da OAB/SP.