Sucessão: seu escritório vai além do fundador?
Vencer essa resistência inicial à transferência de poder é um dos primeiros passos para se realizar um bom processo sucessório. Se esse é seu desafio, esteja pronto para ser cuidado e ter paciência.
terça-feira, 10 de outubro de 2023
Atualizado às 12:52
Encarando o problema
A situação é comum: o escritório existe há mais de trinta anos, já foi referência em sua área e ainda goza de algum prestígio com os clientes antigos. O problema é que a firma vem perdendo espaço no mercado, novos clientes são cada vez mais raros e os resultados ainda são positivos apenas devido a êxitos de processos antigos. A equipe, que já teve quase 50 pessoas, foi reduzida. Ficaram o fundador, do alto de seus 75 anos, seus dois filhos (que se vêm como merecedores do título de sócio, mas agem pouco como tal) e cerca de 15 advogados.
O que houve com a outrora bem-sucedida firma do passado?
Diversos fatores podem levar um escritório bem-sucedido a perder seu vigor e mesmo a fechar as portas. A falta de um processo sucessório está entre os mais comuns e traiçoeiros. Isso porque esse é um daqueles trabalhos que podem ser feitos com tranquilidade, enquanto o fundador ainda goza de plena saúde e está antenado com o mundo dos negócios.
Como não é urgente, poucos fazem. É como check up anual: todos precisamos. Apenas alguns fazem antes do primeiro enfarte.
Não deveria ser assim, mas há motivos para tal. Para muitos fundadores, falar em sucessão não traz bons sentimentos. Uma sócia de um escritório brincava seriamente com a questão sempre que o assunto vinha à tona: "vocês estão querendo matar a mamãe, é isso?". Para ela, e muitos outros empreendedores, deixar o comando da firma significa admitir o envelhecimento, reconhecer que o criador do negócio não é mais a melhor pessoa para conduzi-lo ao próximo estágio.
Vencer essa resistência inicial à transferência de poder é um dos primeiros passos para se realizar um bom processo sucessório. Se esse é seu desafio, esteja pronto para ser cuidado e ter paciência. As dicas a seguir vão ajudá-lo:
- mostre que respeita e valoriza o patrimônio material e imaterial que o fundador criou (a marca, a reputação, os ativos financeiros da família, etc.);
- evidencie que a ideia é de continuidade e não de ruptura. O objetivo é fazer o escritório perpetuar;
- tente trazer alguns casos de processos sucessórios bem-sucedidos e discuti-los com os demais sócios. Frequentar juntos os cursos sobre o tema pode ser muito proveitoso;
- deixe claro que o sócio fundador terá um papel importante na nova fase do escritório, seja qual for sua configuração.
Essas dicas valem para qualquer processo sucessório. Mas, se você está em um escritório familiar, redobre os cuidados. Em geral, tanto pais e filhos têm dificuldade para enfrentar o tema sucessão. A ajuda de um profissional independente e da confiança de todos pode ser muito benéfica.
Feito isso, é provável que depois de algum tempo o fundador aceite realizar um processo gradativo de sucessão. Seu primeiro desafio foi vencido.
Sebastião de Oliveira Campos Filho
Graduado em Marketing pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie. Há 20 anos fundou a Oliveira Campos Consultoria, empresa especializada no mercado jurídico e que já atendeu mais de 70 escritórios de advocacia. É autor do livro Gestão Jurídica, Perguntas e Respostas que Levarão seu Escritório a um Desempenho Superior.