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Cartas a um jovem advogado: A importância em crer no direito de defesa

A ética é a espinha dorsal de qualquer advogado. Nossa função é fazer mais do que simplesmente advogar; nós somos guardiões do equilíbrio e da justiça, e isso exige uma devoção irrevogável ao direito de defesa.

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Atualizado às 09:38

Querido Colega, que recentemente atravessou os portões da academia e agora se encontra na areia da arena do direito criminal, talvez esteja se perguntando: por que escolhi esse caminho? Acredito que a resposta repousa na crença inabalável no direito de defesa - um princípio que representa o cerne da nossa profissão e está profundamente enraizado nos fundamentos dos direitos humanos. Gosto de citar pensadores para inspiração.

Como observou Albert Camus, "um homem sem ética é uma fera solta ao mundo". A ética é a espinha dorsal de qualquer advogado. Nossa função é fazer mais do que simplesmente advogar; nós somos guardiões do equilíbrio e da justiça, e isso exige uma devoção irrevogável ao direito de defesa.

Citando o ilustre advogado brasileiro Sobral Pinto: "Ao advogado cumpre lutar pela justiça. Aos jurados, acomodar a lei ao caso concreto. Ao juiz, proferir a sentença." Nesse tríptico de responsabilidades, o papel que desempenhamos é essencial para a administração da justiça.

Neste ponto, é imperativo lembrar o art. 10 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estabelece: "Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele".

Permita-me lembrá-lo das palavras de Martin Luther King Jr.: "A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todos os lugares". Acreditamos nisso fervorosamente. Não importa o crime de que nosso cliente é acusado, não importa o peso da evidência contra ele, seu direito à defesa, garantido pelo Artigo 11 da mesma Declaração, que afirma que "toda pessoa acusada de delito tem direito à presunção de inocência até que a sua culpabilidade tenha sido provada", não deve ser negligenciado.

O mesmo Sobral Pinto também observou que "No tribunal, não se faz política, faz-se justiça". Portanto, não importa as circunstâncias sociais ou políticas que cercam um caso, devemos nos manter firmes em nosso propósito de fazer a justiça prevalecer.

Você irá descobrir que em alguns momentos será difícil defender aqueles que a sociedade já condenou. Nesses momentos, lembre-se das palavras do filósofo francês Voltaire: "É melhor arriscar salvar um homem culpado do que condenar um inocente".

Nossa missão é salvaguardar o direito de defesa, garantindo que cada voz seja ouvida, que cada argumento seja considerado. Sem isso, a justiça não é justiça, é apenas um simulacro.

Na sua jornada, você encontrará dificuldades, decepções e dilemas, mas acredito que o amor pela justiça e o compromisso com o direito de defesa podem ser o farol que guia seu caminho.

Reflita sobre o sábio conselho de Sobral Pinto: "A advocacia não é profissão de covardes". Não se encolha diante da adversidade, e lembre-se sempre que o direito de defesa não é um privilégio dos inocentes, é um direito de todos, consagrado pelos mais elevados documentos de direitos humanos.

Meu conselho para você e todos que se interessam pelo tema, é nunca perder a fé no direito de defesa. Ele é a fundação de nossa profissão, o cerne da justiça e a chama inextinguível que deve iluminar nosso caminho.

Assim, a coragem, determinação e sabedoria são os guias da jornada de um advogado criminalista. Que você encontre significado e propósito em sua busca pela justiça e que você nunca deixe de acreditar na dignidade inalienável do direito de defesa.

Marcelo Campelo

Marcelo Campelo

Advogado atuante em Direito Criminal, com experiência de 22 anos. Trabalha na defesa de crimes contra a vida, contrata o patrimônio, dentre outros. Realiza audiência de custódia.

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