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Produtividade e trabalho

Desde o desembarque no Brasil, na década de 1960, a indústria automotiva deveria ser o carro-chefe do desenvolvimento.

quarta-feira, 12 de julho de 2023

Atualizado às 09:28

O propósito do artigo não é denegrir a imagem do trabalhador. Tenho por ele respeito sagrado, e assim o demonstrei como advogado, Secretário do Trabalho, Ministro do Trabalho, Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, em palestras, artigos e livros. Tanto pela ascendência paterna, como pelas raízes maternas, venho de famílias de trabalhadores, constituídas por pessoas honradas e simples, afeitas à estilo modesto de vida.

É impossível, porém, ignorar estudos internacionais idôneos, voltados à relevante questão da produtividade, expressão em economia definida como "relação entre a quantidade de valor produzido (agregado) e um ou vários fatores necessários para alcançá-la".

Na edição de 30/6, página B16, o jornal "O Estado" publicou matéria sob o título "Brasil amarga o 61º lugar no ranking sobre produtividade do trabalhador". Destaco o primeiro parágrafo, onde se lê: "O Brasil está se distanciando do padrão de competitividade não apenas de economias desenvolvidas, mas também de países emergentes. No ranking de produtividade da força de trabalho, o País está na 61ª posição, de um total de 64 nações avaliadas de acordo com indicadores e pesquisas com executivos de empresas pela escola de educação executiva suíça IMD (Institute for Management Developement). O País só está melhor posição quando comparado à Mongólia, a Nova Zelândia e Venezuela".

Inexistem pesquisas sobre o assunto no mundo jurídico-trabalhista. A preocupação dominante, entre Ministros, Desembargadores, Juízes, Procuradores, consiste na defesa de garantias constitucionais e legais dos assalariados.

Sem lhes desmerecer os cuidados, a questão da produtividade não deve ser relegada ao abandono. É da maior capacidade produtiva que resulta a possibilidade do crescimento econômico, com serviços e produtos competindo no mercado interno e internacional com qualidade e preço. Absenteísmo, desídia, litigiosidade excessiva, ferramentas obsoletas, excesso de bacharelismo e de sociologismo, falta de investimentos para desenvolvimento educacional, científico e tecnológico, carência de mão de obra industrial especializada, são determinantes da baixa produtividade.

No ranking de 62 países produtivos, o Brasil ocupa a 57ª posição. Os dez primeiros lugares pertencem, pela ordem, à Noruega, Luxemburgo, Estados Unidos, Bélgica, Holanda, França, Alemanha, Irlanda, Austrália, Dinamarca. Comparado à de nações latino-americanas, o mais baixo resultado em dólares por hora é o nosso.

A diferença positiva se registra na agroindústria, setor no qual o rendimento das culturas evolui de forma constante. Passamos a ser referência mundial por conta da produção de alimentos, melhor aproveitamento das áreas cultivadas e desempenho internacional.

Os notáveis resultados se tornaram possíveis graças a investimentos desenvolvidos pela Embrapa, faculdades e institutos de agronomia, agrônomos independentes. As principais culturas nacionais deram enormes saltos. Contribuiu, também, de maneira decisiva, a substituição do trabalho humano por máquinas e equipamentos e a utilização de computadores, telefonia celular, drones.

A mão-de-obra rural é de custo aparentemente baixo, mas com encargos sociais elevados e acentuado grau de insegurança jurídica. Exige minuciosa administração. Na agroindústria sucroalcooleira a introdução do computador, de colhedeiras, carregadeiras e transportadoras da cana, trouxe aumento de rendimento, com redução de custos.

Desde o desembarque no Brasil, na década de 1960, a indústria automotiva deveria ser o carro-chefe do desenvolvimento. Razões de natureza política, somadas a equívocos de lançamentos, preços e abertura do mercado à concorrência externa, provocaram a sua estagnação a partir dos anos 80. Desde então, a China, importadora de veículos populares, se converteu na maior produtora do mundo, superando os Estados Unidos, Alemanha, Japão, Alemanha, Itália e, naturalmente, o nosso País.

O processo de desindustrialização não será revertido pela Reforma Tributária. Além dos impostos, existem outros motivos, fortes e profundos. O presidente Lula, o Partido dos Trabalhadores, a CUT, e aliados, admiram Cuba, Nicarágua, Venezuela. Adeptos do socialismo, nutrem aversão à livre iniciativa e ao lucro. Os resultados são previsíveis e se refletirão no crescente empobrecimento do povo.

Almir Pazzianotto Pinto

VIP Almir Pazzianotto Pinto

Advogado. Foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho. Autor de A Falsa República e 30 Anos de Crise - 1988 - 2018. ..

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