A empresa familiar no Brasil, seus desafios e a sua profissionalização
É primordial que invistam em governança, observando entre os diversos mecanismos existentes.
quarta-feira, 8 de março de 2023
Atualizado às 09:04
As empresas familiares representam grande parte dos empreendimentos no Brasil, sendo responsáveis por significativa geração de empregos, movimentação financeira e desenvolvimento econômico do país. Se apresentam em diferentes formatos e possuem características diversas, são atuantes em muitos e distintos segmentos de mercado e podem ser de vários tamanhos, desde pequenas ou médias empresas até grandes e impactantes negócios.
Mesmo que existam as suas particularidades, algo bem comum entre a maior parte das empresas familiares é o fato de que essas organizações, com o passar do tempo, se esbarram em cada vez mais e maiores dificuldades e muitas delas não conseguem resistir às mudanças e transições de gerações. O ambiente empresarial acaba se confundindo com o familiar e, na maioria das vezes, os envolvidos não estão preparados para lidar com essa estruturação e muito menos para enfrentar os consequentes obstáculos.
Vários são os estudos que buscam compreender os aspectos e dificuldades das empresas familiares e, ao analisa-los, podemos perceber que muitas delas não conseguem se manter ou manter o controle na família após a terceira geração, o que é um reflexo da falta de profissionalização, em prejuízo da sua longevidade.
Embora o interesse pela governança corporativa esteja cada vez mais presente nos negócios brasileiros de um modo geral, normalmente os investimentos pelas empresas familiares ainda são poucos. Tal fato, aliado aos conflitos característicos da confusão entre família e empresa, bem como à falta de uma estruturação e planejamento do negócio, faz com que muitas delas sejam marcadas pela falta de profissionalização no seu dia a dia e nos seus processos. As empresas familiares devem, assim, explorar os mecanismos e instrumentos de governança que estão em constante evolução e podem contribuir muito para a reversão desse cenário.
Através da elaboração e aplicação de um completo e eficaz acordo, seja de quotistas ou acionistas, as partes pactuantes podem estabelecer os mais variados aspectos que envolvem a empresa familiar e a sua administração, a tomada de decisões no âmbito do negócio, o relacionamento com terceiros, bem como estipular possíveis soluções para os eventuais dilemas que possam surgir com o decorrer dos anos, sendo tal instrumento, portanto, de suma importância para que o negócio se profissionalize.
A instalação de um conselho de administração na empresa familiar também é de grande relevância para a sua profissionalização, já que através dele é possível concretizar uma efetiva separação entre propriedade, gestão e família. Em suma, é o órgão colegiado encarregado pelo processo decisório de uma organização em relação ao seu direcionamento estratégico, sendo importante que os membros eleitos para compor o órgão sejam os mais variados possíveis e estejam alinhados com os interesses da empresa, inclusive é recomendada a eleição de ao menos alguns conselheiros externos e independentes.
Diante de todo o exposto, ressaltamos a importância da profissionalização das empresas familiares no Brasil e que isso somente é alcançado quando separadas família e empresa. É primordial que invistam em governança, observando entre os diversos mecanismos existentes (além dos brevemente explicados acima, são vários os outros: instalação de um conselho de família; aplicação de um código de ética e conduta; investimento no planejamento sucessório, entre outros) os que mais se aplicam à sua realidade, para que, com isso, consigam enfrentar de modo eficaz os seus obstáculos, continuar se desenvolvendo e perdurar ao longo do tempo.
José Silvano Garcia Junior
Advogado no Braga & Garbelotti - Consultores Jurídicos e Advogados.