Rápido guia de negociação: roteiro e técnicas para negociar acordos
Estratégias de negociação e persuasão em acordo: o que é fundamental saber para uma negociação eficaz em 4 etapas.
terça-feira, 7 de março de 2023
Atualizado às 14:39
"Negociação" pode ser compreendida como uma "discussão visando alcançar um acordo", como define o dicionário Oxford. Trata-se de uma definição simples e direta focada no resultado final (acordo), abrangendo o processo (discussão). Há uma definição mais completa feira por Peter Sander: "negociação é ter uma discussão de dar e receber com outras partes, muitas vezes com interesses opostos, para conseguir algo importante que você quer ou de que necessita, ou para alcançar um objetivo".1
As formas mais comuns de negociação são duas: a negociação posicional e a negociação ganha-ganha.
Na negociação posicional, cada parte envolvida assume uma posição e hesita ceder, ante o alto comprometimento ao seu plano de ação. Nesse tipo de negociação, as partes ficam muito concentradas em suas próprias necessidades, de modo que não conseguem entender as necessidades e vontades da outra parte, sem discussão de metas e objetivos.
Já na negociação ganha-ganha, busca-se o atendimento, ainda que parcial, da maior parte das necessidades das partes envolvidas na negociação. Quando os envolvidos têm a maior parte dos seus desejos atendidos, das suas necessidades preenchidas, os acordos são feitos mais facilmente. As concessões são ferramentas essenciais nessa negociação.
O êxito da negociação ganha-ganha exige a compreensão e antecipação das necessidades e desejos da parte contrária; além da flexibilidade com sua própria posição.
É extremamente importante o estudo delicado do BATNA ("Best Alternative to a Negotiated Agreement" - melhor alternativa a um acordo negociado). Qual é a alternativa, o melhor resultado, se o acordo não ocorrer? A medição da negociação (e suas concessões) com o BATNA claramente estabelecido melhora o acordo que você conseguirá.
Criar uma sinergia com a parte contrária, com postura cooperativa e escuta ativa e, inclusive, compartilhando informações, é um bom caminho efetivo para construção de um acordo. Compartilhar informações tem efeito de criar confiança da parte contrária. Isto aliado a formação de uma sinergia de identidade, como se verá a seguir, é importante ferramenta para criação de laço interpessoal que facilitará a negociação.
Em geral, as pessoas querem ser ouvidas e ser percebidas como competentes e compreendidas, sentindo-se livres para escolher e tomar decisões.
Sem arrogância ou prepotência, mantendo um clima amistoso e aberto ao diálogo, é importante demonstrar confiança e objetividade; sem demonstrar desespero ou pressão de urgência na celebração do acordo. Expor suas principais vantagens e pontos fortes é interessante, desde que seja feito com calma e de forma amistosa, sem criar um ambiente hostil.
Caso a parte contrária esteja muito fechada, sem abertura a compartilhar seus principais desejos e necessidades, é válido formular perguntas abertas para pesquisar os reais interesses e necessidades. E até apresentar opções que você presuma que sejam os principais pontos relevantes da negociação para ela. É muito importante compreender os pontos mais desejados (ou necessários) da parte contrária e também os pontos de pressão da parte contrária (aqueles que enfraquecem a negociação dela).
Como estratégia de negociação, podemos apontar o seguinte breve guia prático, condensado em 4 etapas.
- Preparação: antes do início da negociação em si, é necessário ter claro o objetivo que se pretende na negociação. Quais são as necessidades e desejos? Quais pontos são cruciais e quais pontos admitem flexibilização? E qual é o principal objetivo? A compreensão da urgência na negociação é determinante: saber se você ou a parte contrária tem urgência é importante elemento de pressão externa que pode auxiliá-lo na negociação. Caso você tenha urgência, é importante que a outra parte não tenha conhecimento disto (ou isto seja minimizado). E caso a urgência seja da parte contrária, vale usar isso como pressão externa, desenvolvendo uma negociação mais lenta. É absolutamente necessário que se estude o pior cenário possível alternativo à negociação: caso o acordo não seja conquistado, qual o melhor (e o pior) cenário que pode ocorrer? E qual a probabilidade disto ocorrer? Com isto, você definirá limites da negociação. Estabelecer o ZOPA (Zona Possível de Acordo) é importantíssimo. Uma pesquisa da parte contrária para conhecê-la é relevante e desejável, facilitando a compreensão das suas necessidades e desejos, além de outros interesses envolvidos, principalmente comerciais e concorrenciais. O estudo prévio também ajudará a antecipar as objeções que serão feitas pela parte contrária, em quais pedidos haverá maior resistência e, com isto, previamente buscar argumentação (ou concessões de sua parte) para contorna-las.
- Introdução: com prática de empatia e escuta e percepção ativa à parte envolvida contrária, mantendo uma comunicação eficaz e um canal aberto, sem utilização de linguagem dura, extremamente técnica ou intimidadora. A sinergia e reconhecimento é importante. Uma conversa inicial descontraída sobre outros assuntos pode ter bons resultados na criação de um vínculo inicial e afastar o clima hostil de início. Sinergia de identidade: é importante criar laços com o negociador da parte contrária. A utilização de roupas semelhantes, tom de voz parecido, utilização de termos iguais e até identidade na postura não-verbal são importantes ferramentas para maior vinculação do outro. Em uma reunião inicial, é importante deixar claro o objetivo pretendido e escutar a parte contrária em suas pretensões. Perguntas como "qual é o ponto mais relevante para você nesse acordo?" ou outras para desvendar o principal interesse na negociação facilitarão o percurso até o acordo.
- Concessões: para maior chance de êxito, em uma negociação ganha-ganha, devem ser feitas concessões. As concessões devem ser apresentadas em ordem crescente de importância: primeiro se pede as mais fáceis da parte contrária aceitar. De outro lado, quando você fizer as concessões, todas devem ter o mesmo grau de resistência, de forma a ocultar da parte contrária quais são mais relevantes para você. Para cada concessão feita, deve ser pedida outra em troca. E é absolutamente crucial que todos os pedidos de concessão sejam justificados, fundamentados. Não se deve iniciar a negociação e concessões com o maior desconto ou condições, com o máximo (ou próximo) da flexibilização. A primeira proposta servirá de âncora e o restante da negociação se desenvolverá a partir dela. De outro lado, o início muito fora e abaixo do esperado pela parte contrária pode frustrar a negociação e impedir o seu início. É importante que a negociação tenha intervalos, feita em pelo menos dois momentos: contrapropostas deixam todos mais confortáveis, com a percepção das partes que fecharam um melhor acordo. Uma negociação muito rápida prejudica essa percepção e a satisfação dos envolvidos.
- Demonstração das concessões: a adoção de um estilo cooperativo de negociação, onde as partes envolvidas ganharão a maior parte de seus objetivos é o melhor método. Opções bem trabalhadas, com a preservação das relações interpessoais para o futuro, com um ambiente aberto ao diálogo e escuta ativa são ferramentas que facilitam se chegar a um acordo. Nesse cenário de transparência, vale registrar ao negociador contrário as vantagens e ganhos que ele estará levando com a negociação. É importante conseguir demonstrar à parte contrária que o acordo é melhor que o BATNA dela. A demonstração que a negociação é melhor que o pior cenário também é válida, mas deve ser feita com cautela para que o ambiente não se torne hostil ou essa colocação seja vista como ameaça.
Esse breve roteiro de negociação auxiliará na criação de um ambiente mais favorável a um acordo, com uma negociação eficaz. O foco da negociação são as pessoas envolvidas e os laços que são criados (ou reconstruídos). Um ambiente amistoso, com exposição tranquila e honesta dos principais interesses, facilita o acordo.
--------------------------
1 São Paulo: Editora Gente, 2020. P. 18