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Só faltou um cafezinho!

É preciso aprender a lidar com a frustração de perder uma causa. O estresse não tem relação direta com a especialidade, seja criminal, trabalhista ou de família. O que mais conta é a pressão pelo êxito, até para garantir o retorno financeiro.

terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Atualizado às 09:40

Ao pensar sobre o tema desta nossa conversa, lembrei de um caso impactante ocorrido em São Paulo, no mês de agosto de 2022. A imprensa noticiou o caso de um estagiário que se jogou do 7º andar de um escritório de advocacia. Sim, não é fácil tocar em assuntos delicados, mas é imperioso colocar luz sobre uma questão real: o alto nível de estresse em advogados. Acredito que no geral, a profissão é observada com glamour por, constantemente, fazer parte de roteiros de filmes e de novelas destacando as performances dos profissionais nos tribunais, mas esconde um lado que leva ao adoecimento mental e físico.

Eu tenho base científica para bater esse papo delicado com você, porque eu realizei o primeiro estudo no Brasil sobre a saúde física e mental dos advogados. Por isso, eu peço que acredite que o estresse é uma realidade inquestionável no segmento da advocacia, que se estabelece principalmente a partir das demandas psicológicas associadas ao trabalho e ao perfil exigido do profissional.

O que é impressionante também, embora haja grande sofrimento por parte de muitos advogados e até mesmo estagiários, eles possuem dificuldade em assumir que precisam de algum tipo de suporte emocional. Na maioria das vezes precisam resolver sozinhos as demandas que se apresentam. Muitos dizem de forma equivocada e errada que o estresse em advogados não existe. Gente, é assim mesmo. Acho, porém, que com a situação da pandemia pelo novo coronavírus, as pessoas, hoje, entendem melhor que a saúde mental compromete a saúde física, as relações e os resultados do trabalho.

É fundamental que consigamos aumentar a visibilidade e a possibilidade do entendimento sobre a importância de um olhar com atenção e zelo para a saúde mental, inclusive como forma de sobreviver à realidade da profissão. A demanda psicológica dos profissionais de direito é muito elevada. Portanto, é importante que se aprenda a lidar com a inteligência emocional. E, talvez, você esteja se perguntando: mas estresse na profissão não é igual para todas as carreiras? Definitivamente não. Cada profissão tem especificidades que devem ser consideradas de modo particular.

Posso garantir que é comum que os profissionais desta categoria adoeçam, seja por diabetes, pressão alta, problemas renais ou cardíacos ou transtornos psíquicos. Este quadro acontece porque o sucesso do trabalho de um advogado não necessariamente depende dele. O ganho de uma causa depende, no fim das contas, do entendimento do juiz, não necessariamente do desempenho de quem representou aquele processo. A pressão é grande, até porque, em muitos casos, a remuneração está associada à vitória da causa.

Aproveito a oportunidade para apontar outros fatores de risco para a saúde mental do advogado. Vem comigo no raciocínio: sabemos que o serviço do advogado é solicitado quando existe algum tipo de conflito. Numa briga de casal, por exemplo, o advogado, sem o devido preparo para isso, tem uma função de mediador. O estresse é constante quando há qualquer tipo de questão jurídica em jogo, concorda? Lembro que o advogado é preparado durante a sua formação para ganhar sempre. Alguém duvida disso? É claro que isso acontece. Então, é preciso aprender a lidar com a frustração de perder uma causa. O estresse não tem relação direta com a especialidade, seja criminal, trabalhista ou de família. O que mais conta é a pressão pelo êxito, até para garantir o retorno financeiro.

O estresse pode não ser inevitável, porém é possível aprender a gerenciar o problema. A maneira como você percebe o que está a sua volta, como você sente cada uma das situações, determina suas reações. Assim, se você consegue autogerenciar o estresse será capaz de minimizar seus impactos. É importante que se aprenda a lidar com a questão. Como fazer isso? O primeiro passo é admitir que precisa de ajuda. Quer saber qual é o segundo passo? Busque ajuda profissional o quanto antes. Lembre-se que você é importante para você, para a sua família, para os seus amigos. Obrigado pela conversa. Ah, só faltou um cafezinho!Rsrsr! Até o próximo encontro.

Fátima Antunes

Fátima Antunes

Psicóloga, Mestre em Psicologia, Especialista em Gerenciamento do Estresse pelo International Stress Management Association. Professora Universitária. Autora do livro Estresse em Advogados

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