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Representatividade e presença da mulher negra na política

O artigo tematiza a representatividade da mulher negra na política, repercutindo as discussões realizadas no 2º. encontro 'Ciclo de estudos: mulheres e política' promovido pelo Tribunal Regional eleitoral de Pernambuco e a Escola Judiciária Eleitoral.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Atualizado às 15:25

Falar sobre a participação das mulheres negras na política nos remete à reflexão acerca da importância da representatividade nos espaços de poder; antes disso, da sua repercussão na vida das pessoas representadas e da responsabilidade social de quem as representa. 

Falar sobre a participação das mulheres negras na política implica, de pronto, aceitar o quão ainda precisamos elevar o nível de representatividade nos espaços de poder para nos fazermos presentes nesses lugares. É fundamental democratizar os espaços!

A representatividade possui uma dimensão criativa e criadora, que organiza, desperta desejos e sonhos, inspira, descortina caminhos possíveis e motiva à mobilização de energia mental para afastar as interdições que nos são impostas. E não são poucas!!!!!

"É olhar-se no espelho..." Esta é a impressão e repercussão provocadas pela representação. A representatividade conecta e aproxima pessoas, por derradeiro, as suas pautas, dando início a um diálogo produtivo e silencioso. Trata-se, portanto, de um importante gatilho de coesão e mobilização política.

Para além do argumento da relevância social da representatividade, importa reafirmar a sua importância política e estratégica, estágio necessário para ocuparmos esses lugares sociais, consolidando e naturalizando a nossa presença. É preciso dar alcance e visibilidade a estas narrativas de vida.  A representatividade reclama novas vozes, o que exige proporcionalidade em diversidade e oportunidades efetivas, eficazes de inclusão.

Promover a diversidade de gênero e raça nos espaços de poder desloca o nosso olhar para a realidade social, para a mulher negra e suas interseccionalidades, marcadores sociais da diferença, o que notadamente complexifica o processo de inclusão. É preciso ir além do recorte de gênero e raça para alcançar a diversidade cultural, geracional e religiosa!  Esta constatação revela o quão é importante estudarmos cientificamente a nossa experiência ao longo do processo eleitoral e os fenômenos que o atravessam (antes, durante e depois).

Reforço que a pauta da inclusão deve contemplar, além da demanda da representatividade, a proporcionalidade (demográfica) de participação dos grupos minorizados na vida política de nosso país. Ocupação e paridade! Entendo que as políticas e ações afirmativas integradas são o caminho, todavia, pensadas pelas pessoas a quem se destinam. Mulheres negras como destinatárias, autoras e pensantes das políticas públicas!

Falar sobre a participação das mulheres negras na política é também problematizar a estruturalização dos desafios, dos bloqueios e a ausência ou insuficiência de referências femininas negras nos espaços de decisão.

Falar sobre a participação das mulheres negras na política é também refletir sobre o significado e impacto dessas 'ausências', reconhecer que os espaços sociais são divididos com placas psicológicas de interdição (de não lugar).  É, igualmente, admitir que a expressão da violência também se revela na ausência, na insuficiência de mulheres negras na política, no silêncio cômodo e confortável da sociedade, na violência recreativa. A comicidade se transformou em um disfarce para a agressividade, verdadeiros dutos de ódio.

Por que a participação da mulher está longe de ser expressiva como gostaríamos? Desinteresse? Despreparo? Timidez? NÃO! Silenciamento estrutural, dentre outras formas de opressão! É preciso combater as opressões que obstaculizam o nosso acesso!

Os marcadores imagéticos e estéticos nos desumanizam e excluem pela hostilização, exotização e estranhamento de nossos corpos nos diferentes espaços. Aprendemos desde cedo a lição da 'não projeção', internalizando que determinados ambientes e posições sociais simplesmente não nos pertencem. Contraditoriamente, estamos em diferentes lugares, mas nem sempre autodeterminadas, ocupando uma posição de protagonismo, escreventes de nossa história.

Representatividade, ocupação e presença!

Grata ao Tribunal Regional eleitoral de Pernambuco e a Escola Judiciária Eleitoral, encerro estas linhas marcando em homenagem as mulheres com quem tive a honra de compartilhar estas impressões no 2º. encontro 'ciclo de estudos: mulheres e política': a ministra Dra. Claudia Bucchianeri, a Dra. Mariana Vargas, a Dra. Ingrid Zanella, a Dra. Iasmina Rocha, a Dra. Renata Berenguer, a Dra. Luciana Maranhão, a Dra. Mônica Oliveira e a Dra. Manoela Alves. Avancemos!

Yumara Lúcia Vasconcelos

VIP Yumara Lúcia Vasconcelos

Docente e pesquisadora da UFRPE, pós-doutora em Direitos humanos (UFPE), doutora em Administração (UFBA), especialista em Direito civil e em Filosofia e teoria do Direito (PUC MINAS).

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