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Tecnologia jurídica: a jornada advocatícia e a busca por aperfeiçoamento profissional

Márcia Guia Mendes Ferreira e Sofia Rezende

Os advogados devem estar atentos para aumentar o seu campo de atuação, aptos a enxergarem as diversas oportunidades que a junção da tecnologia com o direito é capaz de trazer.

quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Atualizado às 09:00

A advocacia sempre esteve relacionada com a imagem dos grandes juristas e com toda a formalidade inerente ao meio. Quando se fala em competências e habilidades, o que vem à mente são assuntos estritamente legais, processos, tribunais, petições e audiências. 

Porém, esta não é mais a realidade dos serviços jurídicos. Atualmente, os desafios trazidos por clientes são cada vez mais complexos e multidisciplinares, exigindo dos advogados não apenas uma robusta ancoragem técnica, mas também familiaridade com os avanços tecnológicos, visão empreendedora, inovadora e extremamente aderente às mudanças.

A globalização e as constantes mudanças no comportamento do mercado têm exigido um leque maior de habilidades e competências. De fato, apenas o background legal, isolado de outros conhecimentos, não tem sido suficiente para oferecer a melhor experiência em serviços jurídicos.

Vivemos num ambiente complexo e em constante mudança. Temos que acompanhar as tendências e nos manter em constante desenvolvimento para entregar resultados de forma criativa, inovadora, com excelência de qualidade, dentro do prazo e do orçamento pactuados.

Mas o que é preciso? Quais habilidades e competências desenvolver?

A seguir compartilharemos um pouco da nossa visão sobre como os advogados podem direcionar sua jornada profissional e o design dos serviços jurídicos, buscando novas formas para aprimorar sua forma de atuação.

Compreender o negócio do cliente e o seu contexto, ter intimidade com a evolução tecnológica que tem recriado diversos aspectos da prestação de serviços jurídicos, ter habilidades para a geração e análise de dados de modo a embasar a tomada de decisão, ter competências para modelar serviços mais aderentes à complexidade atual e ao mesmo tempo conceitualmente simples e acessíveis, estar conectado às redes sociais, desenvolver soft skills, são apenas algumas das habilidades e competências essenciais para os advogados do futuro.

Inicialmente, é fundamental que os advogados compreendam o negócio de seus clientes para poderem colaborar de forma significativa na solução dos problemas apresentados.

As novas linhas de pensamento do mercado enobrecem a expertise de profissionais que têm uma firme compreensão do modelo de negócio de cada cliente e amplo entendimento do seu seguimento de atuação, da inteiração desses clientes com o mercado e um profundo conhecimento sobre os seus principais concorrentes.

Os clientes esperam que seus advogados entendam completamente o seu negócio e quais questões sociais, políticas e econômicas mais amplas podem afetá-lo. Se aplicável, os advogados também devem avaliar as implicações de curto, médio e longo prazo da proposta de negócios de seus clientes e pensar estrategicamente sobre os pontos fortes, fracos, oportunidades e ameaças. Isso permite que o advogado forneça aconselhamento jurídico pragmático e voltado para os negócios da melhor maneira possível.

Acompanhar de perto as mudanças no mercado e entender os reflexos jurídicos, permite identificar novas oportunidades na prestação de serviços. Pensar no negócio do cliente é fundamental para deixar de olhar para o retrovisor, focar no futuro e antecipar cenários e oportunidades.

A habilidade de entender e aplicar a tecnologia para melhorar a eficiência e os resultados entregues para os clientes, também é fundamental. Conhecer e utilizar as múltiplas ferramentas e softwares disponíveis no mercado, de maneira intuitiva, é um diferencial que garante sustentabilidade aos advogados.

Vale ratificar que os avanços da tecnologia jurídica e dos investimentos no setor são exponenciais. Inúmeras tarefas que antes levavam horas de trabalho para serem concluídas, hoje são realizadas em segundos. E este é apenas um exemplo, dentre inúmeros, sobre como a tecnologia tem mudado o cenário da prestação de serviços jurídicos.

O uso de ferramentas de Inteligência Artificial no aconselhamento dos clientes é uma realidade. Estas são capazes de vasculhar grandes volumes de dados, desenhando cenários e resultados preditivos de forma cada vez mais consistente.

As tarefas repetitivas também estão sendo assumidas por ferramentas de Inteligência Artificial, que analisam contratos, rastreiam informações relevantes e realizam diligências, abrindo espaço para que os advogados foquem em atividades mais estratégicas.

Além disso, muitos escritórios já possuem soluções de inovação para oferecer aos seus clientes juntamente com os serviços jurídicos. Soluções combinadas (jurídica e de Software) em plataformas em que advogados e desenvolvedores buscam entender as necessidades dos clientes e criar projetos customizados são comuns hoje em dia.

O uso da nuvem, permitiu que os advogados acessem seu ambiente de trabalho de qualquer lugar, permitindo que os escritórios atuem com maior segurança e acessibilidade.

A forma como o direito é praticado está evoluindo rapidamente, através de ondas de inovação tecnológica, uma tendência sem volta. Tópicos de tecnologia jurídica e até mesmo tutoriais de codificação estão chegando aos currículos das Faculdades de Direito, portanto, a próxima geração de advogados não mais se encaixará no formato tradicional.

Atualmente, os advogados estão totalmente conectados, gerando conteúdos inteligentes e inovadores, interagindo com suas redes sociais e com potenciais clientes, o que deixa claro que a presença online é uma tendência que veio para ficar, diminuindo distâncias e aumentando a escala de alcance de clientes e parceiros de negócios.

Assim, o que irá diferenciar os advogados de seus pares num futuro próximo são as habilidades para navegar num mundo em constante mudança e totalmente pautado pela tecnologia, utilizando tais ferramentas para conectar, engajar e atender os clientes e parceiros de negócio da melhor forma.

Os advogados devem estar atentos para aumentar o seu campo de atuação, aptos a enxergarem as diversas oportunidades que a junção da tecnologia com o direito é capaz de trazer, como novas atividades: especialista em dados, gestor de privacidade, analista de dados jurídicos, entre outros. Isto é, considerar além do direito tradicional.

Não devemos nos esquecer que os relacionamentos mais duradouros na prestação de serviços jurídicos são aqueles baseados na confiança do cliente, que sabe que o advogado o apoia com empatia e fará o necessário para viabilizar os resultados solicitados. E todas essas mudanças trazem uma chance valiosa para que os advogados possam se concentrar no trabalho estratégico, com mais informações e rapidez na tomada de decisão.

Márcia Guia Mendes Ferreira

Márcia Guia Mendes Ferreira

Advogada, gerente do Núcleo de Privacidade e Proteção de Dados no Nelson Wilians Advogados; bacharel pela Estácio de Sá e pós-graduada em Direito Tributário pela Universidade Cândido Mendes. Especializada em Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), EXIN Privacy, GDPR e CDPO BR pela Udemy Brasil e Privacy Academy, possui certificação em Direito Contratual pela Harvard University. Membro da Comissão de Proteção de Dados da OAB/RJ.

Sofia Rezende

Sofia Rezende

Advogada, coordenadora do programa de Compliance do Nelson Wilians Advogados; formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, possui experiência na estruturação da Governança, Gestão de Conteúdos como Código de Ética e Políticas de Compliance e Privacidade de Dados e Sistema de Privacidade para conformidade à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD).

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