Acqui-hiring: M&A ou recrutamento?
Percebe-se que as transações acqui-hiring estão sendo uma forma estratégica, relevante e provavelmente mais rápida de recrutamento de profissionais, os quais são difíceis de serem encontrados atualmente, principalmente no setor de tecnologia.
terça-feira, 21 de junho de 2022
Atualizado às 07:42
As transações do tipo acqui-hiring estão aumentando no Brasil e estão cada vez mais comuns. Mas o que é uma transação acqui-hiring?
O termo acqui-hiring surgiu da combinação das palavras acquisition e hiring. Portanto, nada mais é do que uma aquisição de pessoas, de talentos, de equipe. O produto ou serviço daquela empresa target não tem relevância ou interesse para o comprador.
Com os investimentos relevantes nas startups nos últimos anos e a cobrança por resultados mais rápidos, passou a ser evidente a falta de pessoas qualificadas, a falta de mão-de-obra, especialmente nas empresas de tecnologia.
Isso está acontecendo porque, na prática, a situação atual é que existem mais vagas disponíveis do setor de tecnologia do que o número de novas pessoas formadas ou capacitadas anualmente. E considerando os investimentos feitos em empresas de tecnologia, esse déficit entre vagas disponíveis e pessoas capacitadas tende a aumentar por enquanto.
Com isso, começa a fazer sentido as transações de M&A no modelo acqui-hiring para efetivar a contratação dos founders e seus colaboradores, sua equipe. Isto porque essas pessoas adquiridas (founders e colaboradores) possuem comprovada capacidade técnica, além de experiência e provavelmente os resultados que uma empresa busca serão obtidos mais rápidos com um time treinado e entrosado do que contratar e desenvolver pessoas internamente.
Apesar deste formato de transação estar em evidência, alguns riscos existem, como, por exemplo, a não permanência na empresa da equipe, dos colaboradores. Isso pode acontecer pela diferença cultural entre empresa adquirida e empresa adquirente. Para o comprador, a melhor forma de evitar esse risco é fazer com que os colaboradores assinem um contrato comprometendo-se a permanecer na empresa e, para tanto, o comprador terá que pagar algo a mais, como um retention bonus ou outros benefícios.
Além desse risco existente, alguns cuidados devem ser observados, a fim de maximizar as chances de sucesso desse tipo de transação:
- Período de Integração. Em qualquer transação de M&A, o período pós-transação, quando acontece a integração entre empresa adquirida e empresa adquirente, é um dos mais importantes. Em uma transação acqui-hiring esse período de integração é mais importante ainda, pois as pessoas precisam se identificar com a nova organização, a nova cultura.
- Earn-out. As cláusulas de earn-out (pagamento adicional condicionado a algum evento) são comuns em transações de M&A. Em uma transação acqui-hiring faz sentido também uma cláusula desse tipo para garantir o empenho dos antigos founders no relacionamento, retenção e manutenção dos colaboradores.
- Estruturação do pagamento ao Vendedor. A forma de pagamento e condições de parcela de earn-out deve ser bem estruturada, a fim de evitar que seja considerada remuneração e não preço de aquisição e o impacto fiscal seja relevante.
- Due Diligence. Ainda que o objetivo da transação acqui-hiring sejam os founders e os colaboradores em si, a realização de uma boa due diligence é necessária. Com a realização da due diligence, contingências materializadas e/ou ocultas poderão ser identificadas e ajudarão na negociação do preço de aquisição e/ou de garantia.
Percebe-se que as transações acqui-hiring estão sendo uma forma estratégica, relevante e provavelmente mais rápida de recrutamento de profissionais, os quais são difíceis de serem encontrados atualmente, principalmente no setor de tecnologia.
Renata Homem de Melo Fontes
Advogada no escritório Focaccia, Amaral e Lamonica Sociedade de Advogados - FAS Advogados.