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Homicídio simplesmente

Ainda pior do que o extermínio com requintes de crueldade do Genivaldo foi seu inacreditável átimo de repercussão.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Atualizado às 10:11

Falhamos miseravelmente como nação. 

Um homicídio estatal multiqualificado, pena de morte sem processo, transforma-se em algo banal. Uma banana.

Barbárie qualificada; mas simples assim.

Genivaldo foi torturado e morto, com transmissão em tempo real, universal e a cores. Asfixiaram-no nazistamente numa improvável câmara de gás, dublê de viatura policial.

Mórbido espetáculo ao qual a maior parte da população do Brasil assistiu quase sem reação. Alguma indignação aqui e ali. Algum choro; poucas velas, lamentos esparsos. Passados dois ou três dias, tudo normal, (sobre)vida que segue. "Até breve: a gente se encontra na próxima barbaridade...". Quem sabe na selva amazônica?

Passeata, panelaço? Não houve. Não se ouve. Ou vê.

As lágrimas do brasileiro secaram há algum tempo, há alguns anos.  Ainda pior do que o extermínio com requintes de crueldade do Genivaldo foi seu inacreditável átimo de repercussão. Mesmo uma cultura dinheirista e preconceituosa, como a dos EUA, um crime estatal até menos bárbaro, o assassinato de George Floyd, sacudiu a nação, o mundo e gerou consequências.

Uma indiferença que sequer tem o poder de surpreender: até mesmo os 4/5 acima da média mundial, mais de 500 mil mortos por covid-19 por culpa direta e imediata de um governo desidioso para com a vida de seu povo, já estão, a depender da memória coletiva, praticamente esquecidos; "precificados", na linguagem do mercado.

Cada um que chore os seus; por eles os sinos não dobrarão. O gigante não está dormindo. Está em coma.

Paulo Calmon Nogueira da Gama

VIP Paulo Calmon Nogueira da Gama

Mestre em Teoria do Estado e Direito Constitucional pela PUC-Rio

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