Meu início na Advocacia Criminal
Sempre teremos desafios. Desejo que você possa superar todos e ser um ótimo Advogado ou Advogada.
quinta-feira, 9 de junho de 2022
Atualizado em 8 de junho de 2022 15:31
Em 1991 iniciava-se a minha carreira na Advocacia Criminal, abrindo sozinho um pequeno escritório no interior de São Paulo.
Iniciei com a cara e a coragem, como dizemos, sem as condições financeiras que eu desejava (comum à maioria), sem um colega para trocar ideias e compartilhar, sem telefone, objeto caro à época e um fato que rendia piadinhas na sala da OAB, onde um colega insistia em me perguntar, em voz alta, como ele poderia fazer para entrar em contato comigo. Sempre procurando não me abalar, respondia que ele poderia facilmente ligar na farmácia, minha vizinha, que eles me chamariam, de forma solidária.
Para iniciar na advocacia e adquirir experiência, inscrevi-me num convênio que a OAB mantinha com a Procuradoria (hoje é feito com a Defensoria Pública) para atendimento de pessoas hipossuficientes, como Advogado dativo.
Quando adquiri uma máquina de escrever elétrica, foi uma realização. Depois, quando quase todos já tinham um computador, o famoso PC, eu continuei por um bom tempo utilizando minha máquina elétrica até ter condições de comprar um.
Outro luxo eram as RT`s (Revista dos Tribunais). Elas continham as jurisprudências. Todo tipo de pesquisa era trabalhosa.
A aquisição de livros também era mais complicada, especialmente para nós do interior. Recorríamos às cidades maiores, como Campinas ou São Paulo, ou esperávamos um vendedor de livros passar em nossa porta.
Como é de praxe, comecei advogando em várias áreas, especialmente porque, em início de atividade e numa cidade pequena, torna-se mais difícil especificar uma área de atendimento logo de início. No entanto, desde o princípio, antes mesmo que eu me convencesse disso, colegas e outras pessoas já me viam como um criminalista.
Um fato talvez tenha colaborado para isso: com seis meses de formado, fui nomeado como Advogado dativo para defender, no Plenário do Júri, um rapaz que havia matado o próprio pai, e assim o fiz (já contei essa história em um outro artigo aqui no Migalhas.
Depois de alguns anos advogando no interior, um pouquinho mais experiente, tomei a difícil decisão de realizar o sonho de advogar em São Paulo, cidade onde nasci, onde estou até hoje. Em um certo momento, assumi o fato de que era criminalista. Outra decisão difícil, mas que se mostrou acertada.
Sem condição financeira confortável, tradição familiar ou uma formação adquirida em uma tradicional faculdade de Direito, estivemos, lá no início, e estamos na frente de batalha.
Se posso dizer algo aos que cursam Direito, digo que façam estágios, coisa que não fiz. Não aconselho seguir a minha coragem e iniciar advogando sozinho. Se tiverem a oportunidade, inscrevam-se em algum tipo de convênio como o que havia na minha época, onde possam praticar a advocacia de alto nível, fazendo tudo que puderem fazer como advogado em defesa do seu cliente, mesmo que não estejam recebendo o devido retorno financeiro por isso.
Quando trabalhava como Advogado dativo, fazia o mesmo que eu faria por um cliente que estivesse me contratado. Você faz o que um bom advogado deve fazer, defende, aprende, ganha experiência e se orgulha de você mesmo por realizar um trabalho excepcional.
Especializem-se o mais rápido possível em uma área, a que mais gosta, e passe a responsabilidade ao escritório, e não a você, de atender a várias áreas, se desejar.
Nem preciso dizer sobre a facilidade de aquisição de um telefone e computador nos dias de hoje. As pesquisas são infinitamente mais fáceis de se realizar. Livros podem ser adquiridos e recebidos no mesmo dia.
Um fato quase inacreditável é: eu sempre vivi e sobrevivi da advocacia; se você resolver fazer dela um "puxadinho" de uma outra atividade, não vai dar certo. Mediante minha experiência, os fatos que me acompanharam dificultaram, mas não impediram, o sucesso e a vitória.
Sempre teremos desafios. Desejo que você possa superar todos e ser um ótimo Advogado ou Advogada.
Roberto Parentoni
Advogado criminalista do escritório Roberto Parentoni e Advogados. Pós-graduado em Direito e Processo Penal pela Mackenzie. Presidente por duas gestões do IBRADD - Instituto Brasileiro do Direito de Defesa.