O papel das universidades no desenvolvimento sustentável
Entre os tantos papéis que desempenham na sociedade, as universidades brasileiras também são instituições estratégicas na implementação da agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável da ONU.
sexta-feira, 27 de maio de 2022
Atualizado às 08:32
Pela posição que ocupam na sociedade, as universidades são instituições estratégicas na implementação da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Dentre os 17 objetivos consagrados na agenda, o ODS 4 trata especificamente de educação de qualidade, convocando governos, setor privado, sociedade civil e cidadãos a "garantir o acesso à educação inclusiva, de qualidade e equitativa, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos".
O papel específico das universidades na jornada global rumo à Agenda 2030 pode ser desdobrado em cinco pilares: educação em ética e sustentabilidade; laboratório de experimentação e desenvolvimento ambiental, social e de governança (ESG); Walk the Talk na operação; catalisador de mobilidade social e inclusão; e liderança social.
Educação em ética e sustentabilidade
A primeira e mais evidente contribuição das universidades para a Agenda 2030 é promover a educação para o desenvolvimento sustentável (EDS). A EDS inclui a absorção de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes para lidar com os desafios interconectados do mundo atual, incluindo mudanças climáticas, pobreza e desigualdade. A universidade deve capacitar os alunos a encontrar soluções para esses desafios, transformando as sociedades e preservando o meio ambiente.
Para atingir esses objetivos, as instituições devem proporcionar formação sobre os ODS e a EDS a coordenadores de cursos e docentes; e estruturar o aprendizado em torno de projetos colaborativos com aplicação prática, nos quais os alunos tenham oportunidade para atuar e refletir de maneira interativa, enquanto trabalham pelos objetivos de desenvolvimento sustentável.
Laboratório de experimentação e desenvolvimento ESG
Além do ensino, pesquisa e extensão são campos igualmente férteis para a agenda 2030 na educação terciária. Adotar os ODS como critério para priorização da pesquisa e direcionamento das atividades de extensão é um excelente ponto de partida. No desdobramento de metas dos 17 ODS, estão as pesquisas científicas para agricultura sustentável, desenvolvimento de vacinas, consumo e produção sustentáveis, gestão dos oceanos e da pesca, entre outros.
O setor produtivo brasileiro tem abraçado de forma crescente a pauta ESG. É razoável imaginar que o capital para investimento em pesquisa e projetos de impacto positivo continuará a crescer nos próximos anos. As universidades podem firmar parcerias com empresas, ONGs e o próprio Poder Público para iniciativas ESG, em especial para benefício das comunidades e cidades onde se situam os campi, mas não exclusivamente. Também podem organizar competições, rankings, hackatons e outras atividades como incentivo adicional para engajamento de alunos, professores e comunidade em prol dessas iniciativas.
Modelo de ética e sustentabilidade
A universidade exerce uma enorme influência não apenas no desenvolvimento intelectual do aluno, mas também em sua postura ética e visão de mundo. É nesse período que se plantam as sementes a partir das quais florescerão os futuros profissionais.
Uma universidade que pretende ter um papel relevante no desenvolvimento da sociedade, portanto, deve buscar constantemente ser exemplo de quatro valores fundamentais: ética, respeito, sustentabilidade e pluralismo. Dentro dos limites legais e éticos, a universidade deve ser o espaço do pluralismo por excelência, o principal agente de combate à radicalização e polarização a que temos assistido e que resultam em tantos retrocessos sociais.
Catalisador de mobilidade social e inclusão
A educação superior é uma arma importante no combate às desigualdades. Ela amplia significativamente a empregabilidade, a capacidade empreendedora, além de empoderar indivíduos para que busquem a realização de todo o seu potencial humano. Uma educação superior equitativa garante oportunidades de acesso a alunos de todos os estratos e grupos sociais.
No Brasil, a criação de programas de financiamento estudantil, como ProUni e FIES, e o sistema de cotas raciais e sociais contribuíram para a democratização do ensino terciário, ampliando significativamente o acesso de pretos, pardos, indígenas, PCDs e egressos de escolas públicas à universidade. Mas o país ainda tem um longo caminho a percorrer na redução das imensas desigualdades sociais existentes.
E as universidades privadas também têm um papel a desempenhar nessa jornada. Elas dispõem de um extenso leque de opções para ampliar o acesso, além da adesão aos programas públicos, tais comoticket médio mais acessível, concessão de bolsas de estudo, parcerias para financiamento de estudantes e empregar ou promover programas de emprego para alunos de baixa renda e/ou de outros grupos minorizados. Na agenda ESG, inclusão e mobilidade social são questões materiais prioritárias para qualquer instituição de ensino.
Liderança social
Por fim, a academia tem papel proeminente na liderança e influência externa, no engajamento público e participação em decisões que afetem os ODS, facilitando o diálogo e ações intersetoriais e ajudando a projetar políticas públicas baseadas nos ODS.
Claudia Pitta
Consultora e professora de Ética Organizacional e ESG, fundadora da Evolure Consultoria, mentora e sócia da plataforma digital CompliancePME, diretora do IBRADEMP e coordenadora de sua Comissão ESG e membro da Comissão de Ética do IBGC.