Advocacia 5.0 e 'legal design', a nova gestão dos escritórios
É essencial melhorar comunicação com o cliente, traduzir o juridiquês de contratos e criar atendimento jurídico totalmente humanizado. Assim, o cliente poderá ter acesso efetivo ao direito e à justiça.
domingo, 10 de abril de 2022
Atualizado em 8 de abril de 2022 14:44
Com os avanços tecnológicos e uma gestão focada nas pessoas, os escritórios de advocacia estão diante de novos desafios. E oportunidades. É cada vez mais relevante, por exemplo, melhorar a comunicação com os clientes, traduzir o juridiquês nos contratos e criar um atendimento jurídico totalmente humanizado.
Nesse cenário, a advocacia 5.0 e o legal design são conceitos e ferramentas importantes para a transformação da advocacia. E, por que não dizer, do próprio direito. Afinal, o acesso, pleno, ao direito e à justiça é um direito fundamental de toda a pessoa. E para isso, sempre vale lembrar, nosso país e os advogados precisam se empenhar também na manutenção do Estado Democrático de Direito, conquistado por gerações de brasileiros.
Na advocacia 5.0, o advogado passa então a utilizar as tecnologias de uma forma mais amigável, humanizada. Com as mudanças no mundo jurídico, tornou-se essencial facilitar a vida dos clientes. E, nesse contexto, surge o legal design. Para tornar os serviços jurídicos mais acessíveis e utilizáveis pelos clientes, conceitos de design thinking precisam ser implantados no dia a dia dos escritórios.
O histórico distanciamento entre o cidadão comum, o cliente, e o advogado, afinal um representante do direito e da justiça, deve ser cada vez menor num ambiente jurídico moderno. E cabe ao advogado 5.0 se adaptar às mudanças de um mundo mais complexo e disruptivo e, especialmente, é essencial ele inovar na forma de advogar.
Com origem no Japão, a ideia da chamada sociedade 5.0 tem como objetivo criar uma vida mais feliz para as pessoas, por exemplo, em cidades inteligentes, smart cities, com tecnologias e processos inovadores. Assim, são implementadas ações em áreas como transportes, segurança, educação, saúde e sustentabilidade que ajudam a melhorar a qualidade de vida da população.
E os advogados 5.0 refletem esses conceitos, desenvolvendo soluções humanas e criativas nos seus escritórios, aliando habilidades jurídicas e visão social. Eles podem atuar também em qualquer área do direito, de maneira consensual, litigiosa ou consultiva. Estamos diante, na verdade, de um modelo de gestão tecnológico, inovador, humanizado e, claro, colaborativo.
Na era digital em que vivemos, a tecnologia invadiu não só as casas e as grandes empresas, mas também os escritórios de advocacia. A realidade atual é muito diferente do cenário visto há cinco, dez anos atrás. Investimentos em softwares para escritório, assim como sistemas de e-cloud, entre outras tecnologias, trouxeram novas soluções e oportunidades, mudando radicalmente a forma de relacionamento do advogado com os seus clientes.
Essa transformação digital também trouxe novos desafios para os operadores do direito. Eles agora devem ter inclusive uma formação tecnológica. O DNA digital. E os escritórios precisam contar com profissionais munidos de habilidades digitais.
A pandemia de covid-19 ajudou a expor também essas demandas tecnológicas, digitais, além de gargalos e novas possibilidades de atuação. Tribunais on-line podem, por exemplo, cada vez mais reduzir custos e trazer uma economia de tempo para advogados e clientes.
A aposta na transformação digital requer, porém, um esforço dos advogados visando a focar as necessidades dos seus clientes, numa relação colaborativa. A começar pelo atendimento jurídico humanizado e pela linguagem mais clara e simples dos contratos, com menos juridiquês.
Essa gestão baseada no ser humano, no cliente, e usando técnicas de legal design ajuda a mudar até os processos internos do escritório de advocacia. Há uma colaboração interna maior, com um envolvimento de todo o time de colaboradores com o objetivo de aprimorar o atendimento ao cliente.
Para aproximar advogado e cliente, o uso de novos recursos em contratos, como infográficos, imagens em cores, hiperlinks, explicando termos técnicos, e anexos, certamente facilita a comunicação. Torna os contratos mais compreensíveis e atraentes para as pessoas.
A tecnologia permite, enfim, que o documento, antes um calhamaço em preto e branco, seja uma peça de conteúdos que têm apelo visual e diferentes funcionalidades. Seja mais intuitiva e compreendida pelo cliente.
Atribuída ao filósofo chinês Confúcio, a expressão "uma imagem vale mais que mil palavras" pode nos inspirar a sermos - nós, advogadas e advogados -, mais claros na nossa comunicação. Precisamos buscar melhorar nossa relação com o cliente, sempre. Afinal, somos nós que o ajudamos a ter acesso efetivo ao direito e à justiça.
Eduarda Gouvêa
Advogada graduada na PUC-Rio, é sócia do GAE - Gouvêa Advocacia e Estratégia.