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De Hatshepsut à Angela Merkel, a luta continua.

Nesse dia das mulheres, escrevo sobre a rainha-faraó do Antigo Egito, Hatshepsut.

terça-feira, 8 de março de 2022

Atualizado às 14:05

 (Imagem: Arte Migalhas)

(Imagem: Arte Migalhas)

Eu sou judia, o que não me impede de estar encantada com o Egito por onde quase toda a civilização ocidental passou. Nesse dia das mulheres, escrevo sobre a rainha-faraó do Antigo Egito, Hatshepsut. A era faraônica foi de apropriação e não é modelo de sociedade a ser seguido, mas o papel da mulher nessa civilização antiga me intriga. A mulher não estava sob a tutela do homem, podia herdar, pedir divórcio, ser escriba e até juíza apesar de o papel comum ser o de mãe e de senhora da casa. A história dessa líder de nome difícil me fascinou desde que me foi contada por outra mulher competente e generosa na missão de compartilhar conhecimento, a egiptóloga brasileira Cintia Gama Rolland com passagem pelo Museu do Louvre e larga experiência em escavações no Egito. 

Hatshepsut teve que se virar para se tornar rainha-faraó. Ela construiu uma narrativa digamos, criativa e ousada, para obter o apoio político e religioso necessários para governar. Hatshepsut advogou ser habilitada ao posto de faraó já que era filha e esposa de faraó, respectivamente Tutemés I e II.  Ela foi além e disse que, na verdade, era filha do Deus Amon que se apaixonou por sua mãe em quem se transformou para gerá-la. Hatshepsut dizia ter sido alimentada com o leite da Deusa Hator, representada por uma vaca.  

A narrativa funcionou e Hatshepsut ficou 22 anos no poder, tendo seu reinado sido marcado pela prosperidade econômica e relativo clima de paz. Ela morreu em 1458 ac. O sucessor Tutemés III tentou retirar Hatshepsut da História e apagou seu nome da lista de faraós. Mas, a história foi implacável e lhe fez justiça.  

Milhares de anos depois, as mulheres seguem na luta por seus direitos, para terem voz e, sobretudo, por reconhecimento.  A missão não tem sido fácil e muitas narrativas foram construídas ao longo do tempo para justificar algo que deveria ser óbvio: as mulheres não deveriam ser penalizadas por serem mulheres.  O que se busca são direitos iguais a seres biologicamente diferentes - homens e mulheres. 

A advocacia tem garantido progressivo espaço às mulheres. Aqueles que escolheram a busca do justo como missão - sejam homens ou mulheres - deveriam estar atentos ao assunto e se não o fazem por justiça ao menos devem se render à constatação de que a diversidade produz decisões mais maduras e, no fim das contas, uma sociedade melhor.   

A lição a seguir me parece ser a da ex-chanceler do governo alemão Angela Merkel que se projetou pela sua inegável competência e, talvez por isso, apenas recentemente se manifestou de forma mais direta sobre o papel das mulheres na sociedade. Com a propriedade usual, ela disse que todos devemos ser feministas se o princípio do feminismo é que homens e mulheres devem ser iguais na participação da sociedade. Um brinde à sociedade plural na qual todas as competências e c0mplementariedades possam ser estimuladas, absorvidas e aproveitadas !

Danielle Silbergleid

Danielle Silbergleid

Sócia do Opportunity, formada pela PUC, especialização em Processo Civil (FGV), experiência em litígios nacionais e internacionais. Participou do Women Global Forum for Economic & Society de 2020.

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