Os desafios de representar a jovem advocacia
Conselhos aos representantes da jovem advocacia nas seccionais e subseções da OAB, sob a ótica da presidência da Comissão da Jovem Advocacia da OAB/SC
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022
Atualizado às 16:22
Representar a jovem advocacia de qualquer seccional não é uma tarefa fácil. Isso porque, muito embora seja esperado que a Comissão da Jovem Advocacia saiba, com exatidão, do que os jovens advogados precisam, cada colega é único e possui demandas diferentes dos demais. Tal afirmação pode, à primeira vista, parecer clichê, mas a verdade é que cada profissional possui a sua própria história, dificuldades, inseguranças, crenças, anseios e, consequentemente, demandas. Talvez a única característica comum a todos seja o fato de estarem iniciando as suas carreiras na advocacia - são jovens advogados aqueles com até cinco anos de inscrição nos quadros da OAB -, de modo que saber exatamente do que a jovem advocacia necessita torna-se algo muito mais complexo do que parece.
No caso da Comissão da Jovem Advocacia da OAB/SC, nossa missão é representar, auxiliar, defender e promover a integração dos jovens advogados catarinenses no regular exercício da advocacia. E essa missão é desempenhada de maneiras diferentes, considerando as mais diversas realidades que encontramos em Santa Catarina. Afinal, se as demandas são diferentes, os meios que a Comissão empregará para representar, auxiliar, defender e promover a integração da jovem advocacia também serão. Colocar em prática cada uma dessas inúmeras maneiras de exercer a nossa missão é, sem dúvida, um grande desafio para nós, das representantes da jovem advocacia de Santa Catarina/SC. Cada Comissão da Jovem Advocacia, porém, possui o seu desafio principal. Seguem, então, alguns conselhos direcionados aos presidentes, vice-presidentes, Secretários e demais membros dos órgãos que têm a finalidade extremamente importante de representar os jovens advogados, tanto nas seccionais quanto nas subseções da OAB, na intenção de que possam ser úteis para a atuação daqueles que voluntariamente doam seu tempo para trabalhar em prol dos seus colegas, especialmente os que iniciam neste triênio as suas gestões à frente das Comissões da Jovem Advocacia.
O primeiro deles é manter a comissão aberta e permitir que todos os jovens advogados dela participem, contribuam com ideias, assumam projetos e opinem sobre seus trabalhos, se assim quiserem. E lembrar sempre que a Comissão da Jovem Advocacia não é composta somente por sua diretoria, mas por colegas jovens advogados de diferentes localidades e áreas de atuação, e que cada um, portanto, conhece uma parte da realidade da jovem advocacia da seccional ou subseção.
Essa abertura começa com a elaboração de um planejamento estratégico participativo, para que metas e planos de ação sejam traçados em conjunto. Consiste em gerenciar a comunicação entre os membros da comissão de forma proativa, em escutar e levar em consideração as sugestões de cada membro e incentivá-los a tomar frente dos projetos, oferecendo-lhes todo o apoio necessário para o desempenho de cada atividade. Isso é conferir, de fato, àqueles que desejarem, a oportunidade de ocupar espaços. Desse modo, a gestão se torna cada vez mais democrática e acessível.
Outro valor fundamental é o respeito à individualidade de cada colega. Os jovens advogados têm realidades e demandas diferentes, e conhecer as realidades e atender às demandas estão entre as atribuições daqueles que trabalham pela jovem advocacia. Para tanto, é preciso deixar de lado certas crenças e suposições que frequentemente pairam sobre a jovem advocacia e acabam por generalizá-la. Não é incomum ouvir dizer que todos os jovens advogados enfrentam nos seus cotidianos a dificuldade X ou Y, que possuem inseguranças em relação a determinada questão ou que necessitam, sem exceção, de tal auxílio.
Ocorre que são incontáveis os perfis de jovens advogados que existem, e que não podem ser colocados em uma vala comum. Não é razoável presumir que todos os profissionais têm as mesmas demandas e dificuldades. Novamente, cada jovem advogado é único e possui uma realidade diferente. Por isso, os representantes da jovem advocacia de cada seccional ou subseção devem se guiar pelo respeito ao indivíduo. Compreender que a forma de representar e atender a cada colega deve ser diferente é essencial para o nosso trabalho: um trabalho de qualidade em prol de todos os jovens advogados, e não somente de uma parcela deles.
Porém, para praticar o respeito à individualidade de cada colega e, assim, trabalhar por toda a jovem advocacia, nós, que exercemos a tarefa de representar os jovens advogados, devemos ter humildade para reconhecer que ainda não sabemos de todas as suas demandas, mas que precisamos conhecê-las. E, para conhecê-las, precisamos ouvi-las com respeito, abertura e atenção.
Assim como não se deve tomar por base suposições oriundas do senso comum sobre jovens advogados, nenhum representante da jovem advocacia deve dizer que conhece os anseios e inseguranças da classe se nunca percorreu seu estado ou subseção para ouvir o que os seus colegas têm a dizer. E cabe ressaltar que nem mesmo os membros mais experientes de uma Comissão da Jovem Advocacia conhecem todas as necessidades de tais profissionais, haja vista que elas se alteram ao longo do tempo.
Por isso, ouvir a jovem advocacia constantemente é indispensável. Os membros das Comissões da Jovem Advocacia precisam estar sempre em contato com os jovens advogados, além de manter canais de comunicação abertos e acessíveis. Dessa forma, será possível receber e analisar cada demanda que chegar à Comissão.
Portanto, ouvir é a única forma de colher, de fato, as demandas de cada jovem advogado, para, então, atendê-las de forma eficaz. Não podemos falar sobre as dificuldades dos colegas cujas realidades são diversas das nossas sem nunca os ter visitado, nem afirmar que sabemos do que a jovem advocacia necessita se constituímos apenas uma parte de um universo extremamente plural de profissionais.
Ao invés disso, cabe aos representantes da jovem advocacia se organizar e traçar planos de ação para conseguir ouvir o máximo de jovens advogados possível. Precisamos ir ao encontro dos nossos colegas e conferir-lhes a oportunidade de relatar as suas necessidades, pois é somente por meio da humildade e da disponibilidade de escutá-los que será possível compreender a OAB que cada jovem advogado realmente deseja.
Uma vez percebidas as demandas dos jovens advogados, outra questão importante para se atentar é o fato de que a Comissão da Jovem Advocacia precisa ser multidisciplinar para atendê-las. A Comissão precisa ser parceira do Conselho Estadual ou Subseccional da OAB, da CAA, da Escola Superior de Advocacia e, ainda, de outras Comissões de sua seccional ou subseção. Toda a OAB opera em conjunto para atender à advocacia, então a integração da Comissão da Jovem Advocacia com os demais órgãos da OAB é fundamental.
Assim, pode-se firmar parcerias para solucionar as necessidades que forem mapeadas e recebidas pela Comissão, por meio da criação de políticas voltadas para a jovem advocacia, do desenvolvimento de projetos, da realização de eventos, entre outras ações. Ademais, cumpre destacar que a Comissão da Jovem Advocacia pode e deve trabalhar em conjunto com a sua OAB não só nos projetos voltados especificamente para jovens advogados, mas também nas demais ações da gestão. Isso porque políticas que atendem à advocacia como um todo atendem também à jovem advocacia.
Por fim, o conselho mais importante de todos: trabalhar incansavelmente pela Comissão da Jovem Advocacia. E quando falamos de trabalho incansável, precisamos ter em mente que esse trabalho acontece por meio de uma atuação proativa, responsável e atenta. É sempre procurar por novas soluções para a jovem advocacia, se abrir a novas ideias, dar voz a todos os membros, firmar parcerias e fazer o que for possível para representar a classe com qualidade e eficiência. E vale ressaltar que o trabalho não reside nas palavras, mas nas ações. Logo, ele não deve ficar somente no discurso, nas fotografias ou nas aparições em solenidades e eventos. Ele deve ocorrer verdadeiramente e na prática, nas contribuições, no estabelecimento de metas, na execução dos planos e na busca por resultados.
Transmitidos todos esses conselhos, nunca é demais recordar que a atuação eficaz da Comissão da Jovem Advocacia - assim como a de qualquer outra organização - depende de um Planejamento Estratégico bem elaborado, com a ajuda de todos os membros que desejarem participar. As metas definidas devem ser plausíveis e condizentes com a realidade de cada Comissão e de cada OAB, bem como os planos de ação devem ser elaborados considerando prazos, responsáveis e indicadores de desempenho. E, por último, mas não menos importante, a boa comunicação interna deve ser prioridade, para que todos os membros da Comissão estejam cientes das deliberações.
Ademais, faz-se oportuno salientar que cada organização possui a sua própria realidade e, consequentemente, cada gestão necessitará de diferentes competências. Os conselhos aqui propostos têm por base o cotidiano da Comissão da Jovem Advocacia da OAB/SC. Contudo, considerando os diferentes contextos nos quais cada órgão está inserido, nem tudo que funciona no âmbito da referida Comissão fará sentido às Comissões da Jovem Advocacia de outras seccionais ou subseções. Destarte, é importante que cada presidente, vice-presidente, secretário e membro identifique as diretrizes que funcionam para a sua respectiva Comissão.
De fato, representar a jovem advocacia é um desafio complexo. Mas não estamos sozinhos! São diversas Comissões da Jovem Advocacia que existem em todo o Brasil, nas seccionais e subseções, que contam com membros dedicados a trazer cada vez mais avanços para a jovem advocacia de seu estado ou subseção e, por conseguinte, para toda a advocacia brasileira. Por isso, devemos trabalhar de modo que todas as Comissões da Jovem Advocacia se comuniquem, troquem ideias e se apoiem mutuamente, contribuindo de forma conjunta em prol do futuro dos nossos colegas jovens advogados.