ESG: boas práticas e lucratividade
A análise do cumprimento de questões relacionadas com ESG tem sido atentamente observada por investidores como fatores para avaliar a sustentabilidade e o potencial de crescimento e de confiabilidade de uma empresa.
sexta-feira, 26 de novembro de 2021
Atualizado às 09:33
A disputa histórica no âmbito de estudos de economia e governança corporativa entre a stakeholders theory (teoria da maximização da riqueza dos acionistas) e a shareholders theory (teoria de equilíbrio dos interesses dos públicos afetados pela companhia) parece ter ganho um importante ponto para debate: a crescente importância da Agenda ESG (Environmental, Social and Governance).
Em um mundo hiperconectado, em que as informações circulam de forma extremamente ágil, existe uma maior exposição da administração de uma empresa (do modo que atua perante investidores, colaboradores e clientes) e da forma como a empresa está inserida na comunidade. Nesse contexto, faz sentido uma abordagem em que o lucro não é mais um fator isolado a ser considerado como medida de sucesso de uma empresa.
O ponto de reflexão que os investimentos em ESG propõem é a necessidade de uma maior compreensão de como uma empresa, através de boas práticas de governança, pode afetar positivamente pessoas, comunidade e meio ambiente e como esses benefícios podem impactar na própria empresa.
Como principais razões da importância da Agenda ESG e da realização de investimentos sustentáveis pode-se destacar que a sua implementação possibilita uma melhora na imagem da empresa, um aumento na lucratividade e a criação de um ambiente de desenvolvimento sustentado a longo prazo. Importante salientar que não se está apenas tratando de gerar valor, mas também de medidas que evitem a ocorrência de práticas danosas à comunidade, ao meio ambiente e/ou aos colaboradores e que possam expor a empresa a elevados prejuízos financeiros e/ou de imagem.
A análise do cumprimento de questões relacionadas com ESG tem sido atentamente observada por investidores como fatores para avaliar a sustentabilidade e o potencial de crescimento e de confiabilidade de uma empresa. A devida preocupação com ESG parece indicar para um promissor futuro. A B3, por exemplo, possui o Índice Sustentabilidade Empresarial (ISE) que compreende grandes empresas e em 2020 lançou o Índice S&P/B3 Brasil ESG em parceria com a S&P Dow Jones.
Quando se fala de investimentos em ESG não se está falando de uma revolução nas práticas empresariais, mas sim de encontrar oportunidades nos modelos de negócios existentes para realizar um melhoramento de práticas e processos utilizados. Pode-se citar como exemplo de prática a conquista de certificações de boas práticas administrativas, ambientais, laborais e financeiras. Para alcançar tais certificações é necessário, com o devido apoio, a implementação de práticas/mecanismos de corporate governance e compliance que permitam uma gestão mais eficiente, a utilização eficiente dos recursos existentes, maior valorização dos colaboradores, entre outros.
Os investidores do século XXI esperam que o empresário, ao exercer atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, tenha como foco, além do lucro, uma responsabilidade social e ambiental. Diante disso, os investimentos na Agenda ESG representam um bom desafio para o empresário e uma oportunidade de se ter uma vantagem no mercado.
A´thilla Silva
Advogado do escritório Andrade Maia Advogados, doutorando em Direito Civil (Universidade de Coimbra), mestre em Direito Empresarial (Universidade de Coimbra), especialista em Direito Internacional (UFRGS).