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Dr. T, Sr. N, Sra. X, a Humanidade e o direito

Três amigos discutem sobre a importância do direito e do papel dos operadores do direito nessas relações.

terça-feira, 23 de novembro de 2021

Atualizado às 12:07

 (Imagem: Arte Migalhas)

(Imagem: Arte Migalhas)

Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça... É ela... É ela! Doce menina, mulher... professora e advogada, que a todos encanta, fascina e intimida, com seu doce balanço, sutil gingado e inteligência e humor imensuráveis. Enfeitiça e por sua magia prende e aprisiona os dois amigos, que a observam chegando ao bar, com sua entrada magistral. Unhas das mãos e dos pés, francesinhas. Tornozeleira fina e discreta. Pequena tatuagem em forma de estrela em um dos pés. Cabelos longos, soltos e castanhos. Pele dourada, com marquinha de biquíni. Vestido vermelho, dama de vermelho, com licença para matar. Áurea e espírito a engajar!

Dr. T e Sr. N não a viam há anos. Muito tempo havia passado, desde a última vez que a viram. Realmente, desde os tempos do mestrado (2012 a 2014). Tinham boas lembranças. Os três estudavam juntos para as provas. Frequentavam o saudoso Bar Roda-Viva, na Vila Madalena, onde se tocava Chico e todos tomavam cerveja de engradado em copo de boteco, junto com porção de macaxeira. Frequentavam também o Jazz Nos Fundos, também na Vila Madalena, onde escutavam os sons que tocavam as almas e enalteciam o espírito, tomavam uísque cowboy e fumavam charutos.

Na verdade, os dois amigos eram perdidamente apaixonados pela moça. Mas ela não dava mole. Pra nenhum dos dois. Era uma disputa saudável. Mas ela não queria nem saber. Havia uma grande amizade, um forte elo entre os três.

Sentados, hoje, de frente para o balcão do bar, tomam suco temperado de tomate. Lembram dos tempos passados. Conversam sobre séries, filmes e livros, sem deixar de tocar no direito.

Mas o que chama a atenção é a mudança de comportamento, que afeta os jovens de hoje. Quando estavam no início do mestrado, havia Facebook e Twitter, mas mal se ouvia falar em Instagram, WhatsApp, ou ainda, muito menos, TikTok ou Snapchat.

Entre goles e baforadas... refletem sobre a Humanidade.

Hoje, dois irmãos na mesma casa, em quartos diferentes, conversam por mensagens de celular, sem ir ao encontro um do outro. Uma garota de 30 anos, sim, garota, e não uma legítima balzaquiana, após num encontro conversar por horas com um rapaz cara a cara, diz que ele não é confiável por não ter um perfil no Instagram. Ora! É quase uma religião, uma questão de fé! E aliás! Qualquer um pode postar o que quiser nas redes sociais. Há até quem poste vídeos e converse com seus seguidores, que, na realidade, não existem! Loucura! Também há jogos em que se criam animais de estimação virtuais, preferindo-os no lugar de um companheiro canino de carne e osso. Há ainda uma disputa por seguidores, em alguns casos, tendo milhões deles, sem, no entanto, ter quase amigos na vida real. É live para cá... tuíte para lá! Metaverso! E se esquece das boas e enriquecedoras relações pessoais e reais! Loucura pura mesmo! Aonde vamos parar?! Para aonde caminha a Humanidade?!

Os três amigos, então, discutem sobre a importância do direito e do papel dos operadores do direito nessas relações. O direito deve regulá-las. Evitar abusos, fraudes e crimes. Ter um caráter preventivo e também repressivo. Mas, mais que isso, um caráter pedagógico. Orientar as condutas. Guiar os passos. Possui, portanto, uma função social. Um relevante papel a ser desempenhado, para a convivência em sociedade e o bem-estar social.

Entre goles e petiscos filosofam...

Tudo isso não significa ficar para trás, no passado. Desatualizados. Peças de museu. Não. Pelo contrário, é possível, esperamos, manejar e conduzir bem as relações virtuais e presenciais. O cenário é um pouco obscuro, mas é preciso, apesar de tudo, termos esperança. Vermos o copo meio cheio. Sermos otimistas racionais e não pessimistas amargos. Assim como tudo na vida... Mas, mesmo assim, não escondemos, o que vem pela frente, nos preocupa. E nos perguntamos: Será que somos os únicos?! Na realidade, não somos os únicos. Mas cremos, aparentemente, que somos poucos! Hoje, diante das mudanças cada vez mais aceleradas, parece-nos que há apenas duas alternativas. Ou se está na rede. Ou não se está. É preciso, pois, escolher! O que vai ser!?

A tarde de domingo avança e os três amigos conversam mais, bebem mais, comem mais, observando uma partida de xadrez disputada por dois jovens, numa mesa, num grande tabuleiro empoeirado, aos goles de guaraná e coca-cola e beliscos de batatas fritas com maionese. Enquanto isso, o Timão vence o Peixe por 2 a zero, no Itaquerão!

Nicholas Maciel Merlone

Nicholas Maciel Merlone

Advogado | Professor na Pós-graduação do Senac & Escritor. Mestre em Direito Político e Econômico pelo Mackenzie. Bacharel em Direito pela PUC/SP. Autor de artigos, ensaios e análises.

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