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O que as faculdades de Direito não ensinam

As faculdades de Direito não ensinam que podemos gerir nossas próprias demandas, encaminhando cada caso para a melhor ferramenta e ganhando tempo, liberdade, rapidez nos honorários, mobilidade.

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Atualizado em 29 de outubro de 2021 08:15

(Imagem: Arte Migalhas)

De acordo com o que você sempre ouviu, advogado bom é aquele que:

a)  briga (  )

b)  ganha a briga e a causa (  )

c)  resolve o conflito, a causa e preserva a relação (  )

Desde o primeiro ano da faculdade de Direito somos ensinados a litigar, o tempo todo.

Pare e pense no perfil do estudante de Direito, aquele do passado: geralmente uma pessoa combativa, questionadora e... briguenta! Arruma encrenca na fila do caixa, na rua, no condomínio, no grupo de amigos... treta por todos os lados e tudo vira processo! E a mãe ainda dizia: "Meu filho será um ótimo advogado!"

Nosso sistema jurídico aqui no Brasil se baseia na lei como precedente para ações judiciais (civil law) e isso faz com que, quase que automaticamente, o operador do Direito tenha em mente que a solução para todos os problemas está na propositura de ações perante o Poder Judiciário.

As faculdades não ensinam sobre a advocacia em si, muito menos sobre a advocacia consensual. O curso de Direito nos ensina a decorar leis e códigos, a preparar petições usando termos em latim e a brigar com a parte contrária. Quantos advogados que você conhece advogam além do Judiciário?

As faculdades de Direito não ensinam a fazer acordos, a dialogar, a negociar, a mediar, a oferecer ao cliente um caminho rápido, fácil e acessível, através do sistema multiportas.

As faculdades de Direito não ensinam que podemos gerir nossas próprias demandas, encaminhando cada caso para a melhor ferramenta e ganhando tempo, liberdade, rapidez nos honorários, mobilidade.

É necessário que as faculdades formem profissionais multidisciplinares, que conheçam além da parte técnica, pois hoje em dia não basta que o advogado conheça sobre as leis e processos. É urgente que as faculdades ensinem sobre habilidades comportamentais como inteligência emocional, resiliência, comunicação assertiva, flexibilidade, princípios éticos, dentre outras, porque é isso que vai possibilitar o profissional a exercer um trabalho realmente eficiente junto ao seu cliente.

Há que se falar, ainda, em mudança de mentalidade, pois muitos advogados não conhecem as ferramentas extrajudiciais de solução de conflitos, engessando o resultado de seu trabalho, limitando-o a intermináveis ações judiciais.

Seria ideal que o Poder Judiciário fosse acionado apenas para as questões mais complexas, cujos litígios são realmente inevitáveis e que todas as outras pequenas demandas, de fácil resolução, pudessem ser encaminhadas para a autocomposição. E como conseguir isso? Ensinando e educando a nova legião de advogados e operadores do Direito, que muito têm a ganhar neste formato inteligente de se resolver conflitos.

Marcelle Menezes do Amaral

Marcelle Menezes do Amaral

Mediadora e design de soluções. Especialista em prevenção, solução estratégica de conflitos e práticas colaborativas. Graduada em Direito, Especialista em mediação e arbitragem pela Fundação Getúlio Vargas, especialista em mediação pela Escola Nacional de Mediação e Conciliação e Especialista em conciliação e mediação nas relações de consumo pela Escola Paulista da Magistratura. Pós graduanda em Neurociências e Comportamento pela PUCRS. Sócia do IMAP Soluções.

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