O arroz e o vilão da vez
Foi-se o tempo em que a expressão "feijão-com-arroz" era sinônimo de algo comum, corriqueiro.
segunda-feira, 14 de setembro de 2020
Atualizado às 15:43
Foi-se o tempo em que a expressão "feijão-com-arroz" era sinônimo de algo comum, corriqueiro. A recessão foi colocando cada vez mais caldo e menos feijão no prato de quem ainda o tinha na mesa. Agora o arroz é praticamente item de luxo, uma verdadeira iguaria, com preços que saltaram de R$ 15,00 em média o pacote de 5 quilos, para até R$ 40,00 em muitos estabelecimentos.
Como explicar isso, se o Brasil é um dos 10 maiores produtores de arroz do mundo? Quando ocorre uma alta de preços nos alimentos nessa proporção começam a ser apontados os candidatos a culpados. É importante esclarecer que o aumento no preço do arroz, principal item da cesta básica, não é uma decisão do varejo de alimentos, mas dos fornecedores do produto.
Esta postura reflete a falta de oferta e o excesso de demanda atuais, resultado em parte da desvalorização da nossa moeda frente ao dólar, que torna mais vantajosa a comercialização do produto no mercado externo. Some-se a tudo isso a entressafra do produto e a estiagem, que atrasou o início do plantio.
Diante desse cenário, os supermercados não são vilões, e sim alvos de uma situação da qual não são responsáveis. Nossa missão é servir a sociedade, porém é inviável adquirir um produto pelo qual grande parte dos consumidores não tem como pagar. E no qual a margem de lucro, por se tratar de item essencial e básico, já é próxima de zero.
Limitar a quantidade de pacotes por pessoa ou mesmo sugerir a substituição desse alimento por outro é apenas um paliativo. A solução para a questão passa pelo fato de a matéria prima estar concentrada em poucos produtores, o que encarece o custo da mercadoria, que por consequência é repassado para toda a cadeia produtiva, até o consumidor final.
O varejo de alimentos reforça nesse momento a importância de que toda a cadeia produtiva esteja engajada em respeitar as normas vigentes, para que não haja prejuízo aos consumidores, seja na forma de desabastecimento ou, pior, de preços abusivos, que inviabilizem a aquisição desse item por uma parcela significativa da população e ainda agravem a recessão econômica do país.
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*Alvaro Furtado é advogado, procurador aposentado do Município e presidente do Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo).