Os aspectos do recrutamento online durante e pós-pandemia
Empresas tradicionais estão modificando a abordagem de recrutamento de profissionais, pois o isolamento social fez com que o processo seletivo e a manutenção do quadro de talento dos colaboradores fossem reinventados.
sexta-feira, 10 de julho de 2020
Atualizado às 08:11
Estamos diante de um cenário nunca experimentado pela sociedade. O ano de 2020 abriu uma nova década com uma crise sanitária instalada através de uma pandemia que impactou todas as relações pessoais e profissionais.
A cultura presencial que já estava com seus dias contados foi atropelada por uma mudança radical nos hábitos e rotinas no mundo corporativo. A exemplo do trabalho home office que de tendência passou a ser uma realidade que será praticada no pós-pandemia devido à comprovada redução de custos, aumento da produtividade, otimização do tempo além de ter gerado melhorias na qualidade de vida dos funcionários.
Deste modo, empresas tradicionais estão modificando a abordagem de recrutamento de profissionais, pois o isolamento social fez com que o processo seletivo e a manutenção do quadro de talento dos colaboradores fossem reinventados.
Como é sabido, já vivíamos numa era tecnológica digital na qual os currículos e vagas de empregos são disponibilizadas em redes sociais para ampliar a capitação de profissionais, contudo, neste período de crise está sendo intensificado para facilitar e desburocratizar as contratações, inclusive com envio de vídeo-currículos elaborados pelos candidatos que zelam pela imagem, conteúdo e performance na comunicação. Ou seja, para que as portas do futuro sejam abertas será obrigatório o desprendimento do passado.
A transformação digital é a nova aliada para aqueles que precisam se manter no mercado e está sendo a base de crescimento de alguns setores, gerando também uma nova realidade no desenvolvimento do capital humano.
Essas mudanças moldaram novas gerações de empresas e profissionais que se questionam como lidar com as incertezas atuais e como será pós-pandemia: Sem sombra de dúvidas o mercado não volta a ser como era antes.
O processo de recrutamento e seleção para candidatos a vagas de empregos precisou se adaptar utilizando ferramentas online (Zoom, Skype, Watsapp, Teams).
Assim como os trabalhadores que se encontram em casa não poderão deixar de se atentar aos cuidados pessoais de apresentação quando da entrevista, além de se preparar para portar diante de câmera/filmagens e vídeos.
Por causa do isolamento social gerado pela covid-19, as entrevistas pessoais estão sendo trocadas pelas videoconferências, os testes de perfis estão sendo conduzidos virtualmente e enviados instantaneamente durante a seleção, a aproximação com a vida pessoal do candidato ocorre através de redes sociais e as características do indivíduo se tornam seu próprio cartão de visita.
As companhias multinacionais por sua vez, fortalecendo o RH, vem inovando em tecnologia e desenvolvendo um olhar mais humano e menos robotizado de meras descrições curriculares, aprofundando na análise das habilidades interpessoais que compõe o novo profissional que está se reinventa no cenário mundial.
Desde o início da quarentena, a exemplo a startup Stark Bank, fintech B2B líder em open banking no Brasil, já contratou algumas pessoas com processo seletivo e integração totalmente online, são entrevistas por vídeos e testes online, onde eles fazem o agendamento de uma call e acompanham o candidato fazendo os testes em tempo real.
A depender do tipo de função a ser desempenhada, os profissionais contratados trabalharão inicialmente em home office, assim como o onboarding (procedimentos que aproximam um novo funcionário da sua cultura organizacional) também será realizado totalmente online.
Não se pode perder de vista a gritante demanda de contratação tanto pelo poder público quanto pelo setor privado de profissionais da área de saúde para o enfrentamento direto da covid-19, o que tem acarretado uma necessidade de criar um "banco de reservas" e uma desenfreada corrida contra o tempo para acelerar os processos de recrutamento e seleção de candidato.
Neste aspecto, também houve mudança para que os exames admissionais também incluam o teste para aferir se o candidato foi ou está portando o coronavírus, a fim de evitar a exposição do profissional à área que já é considerada de alto risco, bem como mantendo a segurança dos demais colaboradores evitando o contágio. O abastecimento de cargos críticos da força-tarefa na frente de atendimento da doença que assola o mundo tem estimulado o desenvolvimento de ferramentas capazes de gerir os dados e avaliar remotamente o candidato, facilitando o recrutamento online.
As empresas através de seus setores de recrutamento e seleção precisam modificar a abordagem e o entendimento do conceito de "trabalho" haja vista que o assessoramento remoto e o treinamento virtual do candidato passou a exigir orientações além das previstas nas normas atuais de segurança e medicina do trabalho, afinal o "novo normal" envolve além dos EPI's básicos, a higienização de materiais de uso comuns, a utilização de máscara, o distanciamento entre os colegas, o fornecimento de álcool gel ou a disponibilização de lavatórios.
Nos próximos meses, infelizmente a previsão é que o novo coronavírus tende a continuar interrompendo e transformando as rotinas de trabalho, desde as contratações quanto aos desligamentos que por sua vez estão sendo realizados de forma repensada pois são as pessoas que ajudarão na sobrevivência dos negócios.
As empresas, além do desafio em garantir a infraestrutura da área típica do RH, relativo à inovação dos controles virtuais e armazenamento de dados dos processos seletivos, pagamentos, treinamento e cumprimento de legislação trabalhista, possuem ainda outro desafio que é o de fazer de gestão de pessoas em meio ao caos, contribuindo para a fixação da disseminação da cultura organizacional ao novo colaborador, estreitando a interação de todos os setores perante o isolamento, garantindo ainda o mínimo de estabilidade dentro de tantas inseguranças. Pois, a gestão de pessoas se torna uma estratégia fundamental para o engajamento do time.
A covid-19 reforçou a convicção de que as preocupações humanas não estão desassociadas dos avanços tecnológicos, mas são essenciais para capturar todo o valor das inovações.
A única certeza que se tem até o momento é que não dá para tentar seguir a mesma rotina de antes da pandemia, o que se observa é que a inovação tecnológica, resiliência, criatividade e empatia são tendências a serem mantidas no pós-crise, pois permeiam não só o recrutamento mas a operação, manutenção e encerramento da atividade econômica. O cenário atual contribuiu com novas tendências e o "novo normal" é uma aposta também para o pós-pandemia.
Pensar sobre o futuro das empresas pós-covid-19, remete ao olhar de que a tecnologia otimizou a condução dos processos seletivos virtuais não interferindo na qualidade das contratações além de permitir a recolocação de milhares de profissionais remotamente, favorecendo a proximidade das comunicações.
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*Liliane Santos Almeida é advogada e coordenadora no escritório MoselloLima Advocacia.